Presságio

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Uma leve pressão em meus lábios me fez despertar. Ainda sonolenta, abri os olhos e encontrei o rosto mais lindo do mundo próximo ao meu. Seu olhar sereno e a boca na curva suave de um sorriso atacaram meu coração desavisado. Como se eu já não estivesse confusa o bastante. Talvez ele fosse mesmo uma miragem. Retesei-me, colocando a coberta na frente da minha boca. Justin riu.

— Bom dia, Angel. O que houve? — A voz melodiosa me saudou.

— Quero te preservar do meu mau hálito — expliquei num timbre grotesco e abafado, muito rudimentar se comparado ao som de tilintar de sinos quando ele abria a boca.

Justin emitiu um muxoxo, acariciando minha cabeça.

— Bobinha, estamos na semana do nosso casamento, e a partir de então acordaremos todas as manhãs juntos. Compartilharemos todos nossos odores até o fim dos nossos dias.

Eu ri junto com ele, sentindo-me tola, e segurei sua mão, assaltada pelo familiar e agradável arrepio que a palavra casamento me despertava agora.

— Por isso quero garantir que você não desista antes de te amarrar em minhas teias definitivamente.

— Hm — ele franziu o cenho — Acho que é humanamente impossível me amarrar mais a você — dito isso, ele passou por cima de mim no colchão para se deitar junto às minhas costas, os braços se entrelaçando em minha cintura. Eu pareceria a presa ali.

Uma presa muito satisfeita, por sinal. Passei os braços sobre os dele para garantir que não me soltasse e suspirei, desfrutando de tanta felicidade quanto podia. Justin encaixou o queixo na curva do meu pescoço, eriçando meus pelos.

— Muito obrigada pelo dia de ontem, eu estava mesmo precisando daquilo. Mas senti muito a sua falta — ponderei.

Depois da tranquilidade em aproveitar minha própria companhia, voltei para a casa de Patricia no início da noite me sentindo reconciliada comigo mesma. Fiz um trato comigo de voltar a pegar o violino ao menos duas vezes na semana e sempre estar trabalhando num quadro. Deixei três prontos na casa de Justin, o último completamente abstrato, com as cores quentes e linhas que a minha mente extravasava. No restante do dia, brinquei de massinha com Jazzy e assisti um seriado de cozinhar sobremesas com Patricia.

— Também senti a sua. Você sabe que não precisava ter voltado para cá.

— Fiquei com receio de que você não voltasse, eu não queria passar a noite ali sozinha — confessei. Era totalmente diferente estar lá sem ele, principalmente no período noturno — Mas eu adorei cada detalhe, J, você é inacreditável. E se quiser, e ainda não tiver feito isso, pode espiar as telas que pintei. Deixei naquele quarto — beijei sua mão e, em seguida, a segurei junto ao meu coração.

— Você merece muito mais. Vou esperar que você me apresente a eles — respondeu ele e o meu beijo foi depositado na nuca. A consequência desceu em calafrios por minha espinha até o dedão do pé.

Eu mal havia recobrado meu autocontrole e ele já estava falando de novo:

— Você está pronta para conversar com Jaxon e Jazzy? Eles já estão acordados importunando os avós. Acho que Diane vai ganhar um penteado novo. E se Bruce continuar correndo daquele jeito vai travar as costas.

— Eles são certamente mimados aqui — comentei entre risos, a imagem de Diane de chuquinha pintada em minha mente — Mas não estou preparada para as carinhas chorosas — suspirei.

— Também não me agrada muito a ideia, mas é necessário. Não podemos levá-los a sorveteria de novo para outra notícia ruim. Sem contar no frio que está.

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