Prólogo

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Cheguei mais perto dele, abaixando um pouco a cabeça para manter seus olhos nos meus, já que sua tendência era abaixá-los.

— O que aconteceu?

Ele desviou a cabeça para o lado, me evitando, ainda indeciso de compartilhar comigo.

— Não aconteceu nada. Eu só... — respirou fundo — está cada vez mais difícil fazer o que eu faço. Eu me sinto... mal? Alguma coisa, sim, por algumas das pessoas que tenho que... você sabe. E era tão simples antes... — encarou seus pés — George estava certo, afinal, não dá para ter um bom desempenho com sentimentos. — soou amargo, reproduzindo uma careta.

Senti um arrepio descer a coluna ao ouvir o nome de seu avô e pelas suas palavras me lembrar de uma noite extremamente desagradável, em alguns pontos. No dia anterior a sua suposta morte fomos a um baile encontrar George para conseguir o meu contrato. Aquele velho asqueroso sugeriu que Justin me entregasse a ele como uma prova de que não haveria mais problemas sentimentais o atrapalhando no trabalho. Constatei muito aliviada que haveriam esses problemas sim.

Agora, conseguia entender um pouco do que ele falava, cada vez mais consciente da vida humana, naturalmente encontrava dificuldades em realizar as atividades exigidas. As tatuagens em seu corpo já eram um indício de sua humanidade antes mesmo de nos conhecermos, ele costumava tatuar suas vítimas que haviam lhe marcado, para que tivessem suas histórias contadas de alguma forma. Encontrava-se preso naquele limbo, um assassino, mas também um amado filho, irmão, neto e namorado. Justin parecia viver duas vidas diferentes ao mesmo tempo, não era estranho que tivesse uma crise existencial.

— Você vai conseguir sair disso, não falta muito. — Eu disse, mas não fazia ideia de como e quando aquilo seria possível, era mais um desejo.

— Eu não sei, Faith. Ao menos estou certo por querer as duas coisas? Não devia simplesmente me render à minha natureza e acabar com tudo isso de uma vez? — Sua íris clara me encarou, e praticamente vi a escuridão se aproximando para eclipsar aquele brilho de vida que ele adquirira com o tempo.

Aquilo me deixou sem fôlego e agarrei sua outra mão com vigor, como se pudesse fazê-lo ficar pela força.

— Não, você sabe que há muitas implicações nisso. Não seria a solução para nada — segurei seu rosto com as duas mãos, firmando sua atenção inteira em mim — Eu vou lutar por você até não ter mais forças para nada. É uma promessa. Eu sei quem você é e o que você pode ser, e vou te mostrar isso.

E sem lhe dar tempo de reagir, me içei para beijá-lo. Sua mão na base das minhas costas me puxando para si a fim de unir nosso corpo reforçou minhas palavras. Se fosse para afundar, afundaríamos juntos. 

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