Consequências

251 11 11
                                    

Ele bebericou o vinho, olhando para baixo.

— Várias reuniões, conversas cansativas, encontros indesejados... Nada de novo sob o sol — seu tom de voz descartava qualquer importância ao assunto.

Fiquei levemente irritada por tratar aquilo com indiferença.

— Hm. Para você é só mais uma semana de trabalho, né?

Ele percebeu o sarcasmo na minha voz e me olhou com cautela por cima da taça.

— Você sabe que é. E não há nada que eu possa fazer sobre — é a vida deles ou a minha, era o que ele deixava implícito.

— Não há?

Já fazia 17 meses que estávamos ali e ele me prometera que daria um jeito de sair do contrato, mas até aquele momento estávamos na estaca zero.

— Bom... — expirou — estou sondando alguns contatos, mas todos os temem demais para pensar em fazer algo contra eles. Você sabe que até os Biebers não ousam em enfrentá-los — sorriu um pouco com a ironia — Venho tentando consultá-los sobre a possibilidade de um destrato também, mas ao que parece vendi minha alma para o diabo, sem volta. Eles não vão me libertar tão fácil assim.

Senti um arrepio na espinha e o repreendi com os olhos pela escolha de palavras. Ele deu de ombros. Mastiguei meticulosamente o macarrão que havia colocado na boca.

— Está muito bom. Parabéns — elogiou.

Resmunguei qualquer coisa e permaneci em silêncio, pensando. Senti os olhos dele em mim, mas ignorei por um tempo. Até que ele pousasse a mão em cima da minha inerte na mesa, o que me incentivou a falar.

— A minha preocupação é que tenha se acomodado, de forma que não esteja tentando de verdade. Sei lá, pra você pode não fazer diferença mais — acovardei-me de olhar em seu rosto, falando acuada.

Justin levou as costas da minha mão aos lábios, então levantei os olhos para ver a doçura em seu rio cor de mel, embora algumas marcas de sua expressão demonstrassem um pouco de irritabilidade. Afinal, era uma pequena acusação que eu tinha feito.

— Faith, tenha certeza de que eu estou fazendo o meu melhor, tenho que tomar cuidado com as minhas ações porque tenho muito a perder agora. Meus avós, minha mãe, meu tio, meus irmãos e você. Eu não suportaria se alguma coisa acontecesse a vocês. Então claro que vou ser bem mais cuidadoso nas minhas ações.

Senti meu rosto se abrir num sorriso comovido.

— Eu me preocupo muito com você, sua vida e sobretudo sua alma.

— Vai ficar tudo bem. Prometo.

Mordi a língua para não retrucar, ele não podia prometer coisas que não estavam completamente ao seu alcance. Por outro lado, entendi sua intenção.

O jantar passou sem mais tensões, apenas aproveitamos a companhia um do outro, um bom vinho e a refeição. Justin cuidou das louças depois e me mandou selecionar um filme para assistirmos na TV. Zapeei pela Netflix, ficando emburrada com o catálogo como sempre. As locadoras ririam da sua dificuldade de atualizar os filmes e séries. Só quando Justin se sentava ao meu lado que achei alguma coisa no TOP 10, Partida fria, um filme que passava em meio as tensões entre os Estados Unidos e União Soviética.

— E então, o que temos aí?

— Um filme de ação, muitos socos, sangue, manipulação, do jeito que você gosta.

Não havia dito com aquele proposito, mas ficou um clima esquisito devido a minha escolha de palavras e a recente conversa na cozinha. Ninguém disse mais nada e eu dei o play no filme, contente em me aconchegar em seu peito desnudo. Sua pele estava quente contra a minha bochecha e se me concentrasse podia ouvir as batidas do seu coração. Sem conseguir me conter, dei um beijo ali, tendo em seguida a agradável visão de sua pele se arrepiando. Ele me abraçou mais forte, dando um beijo no topo da minha cabeça. Relaxei ali, no meu canto de paz.

One TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora