One Time

Castigo

— Já estou arrependido — Justin resmungou alto o suficiente para que eu ouvisse assim que passamos pela porta.

O salão se estendia com majestade a nossa frente, vários pinguins e plantas carnívoras de vestido de festa pairando no piso claro. Lustres de cristal pendiam como gotas gigantes congeladas em todo o teto acima das cabeças duras dos convidados que se sentavam nas mesas redondas e fartas de toalhas douradas. E por todos os lados vasos de flores amarelas vivas se equilibravam, nas mesas ou nas estruturas brancas de gesso — muito parecidas com colunas gregas. Havia um palco organizado onde uma banda clássica tocava músicas de jazz, os músicos tão serenos que quase se faziam invisíveis, deixando em destaque apenas os instrumentos lustrosos e magníficos.

Não menos importantes, seguranças guardavam todas as faces das paredes e circulavam entre os garçons tão naturalmente quanto podiam. O braço de Justin estava rígido em minha cintura.

— Faz somente um dia que prometi ao seu pai te manter em segurança e já te trago a um covil de lobos — expirou, irado consigo mesmo.

— Nada disso. Você sabe que eu precisava estar aqui, precisamos manter as aparências. Aliás, se não me trouxesse significaria que não confia minha segurança neles. E se não confia, tem algum motivo. Me enviar o convite foi um teste — falei entredentes a frase que repeti algumas vezes antes de convencê-lo a me trazer. Ryan foi o primeiro a admitir que eu estava certa, mas não se sentiu confortável com isso, ainda mais diante do olhar mortal do amigo.

Apesar de minha aparente coragem, meus joelhos tremiam. Um déjà vu do tempo em que conheci George Bieber. Perguntava-me se o proprietário da Cavanagh podia ser tão ruim quanto o avô de Justin. Bem, se ele havia expulsado os Bieber do Canadá...

Vários pares de olhos se viraram com interesse para nos olhar assim que nos deixamos ver. Para ser mais exata, eles paravam por um segundo em Justin e depois recaiam cheios de curiosidade em mim. A namorada de Bieber, por quem ele abandonara a família e nunca dava as caras. Agora, noiva, se é que eles sabiam disso.

— Não precisamos ficar muito, de qualquer maneira. Eles sabem que eu não sou sociável.

Apesar da afirmação, o ruivo a duas mesas de onde estávamos se levantou com um sorriso bastante formidável ao notar nossa presença. Não demos mais passos ao notar seus esforços para nos alcançar. Justin respirou fundo com tédio, contudo, manteve a expressão simpática para seu colega. Ele não teve a chance de introduzi-lo antes que estivesse na nossa frente.

— Bieber, Bieber, vejo que a razão enfim lhe alcançou. É uma honra tê-lo entre nós esta noite — inclinou a cabeça de cabelos penteados para trás com bastante gel. A voz suave que flutuava pelo ar com muita leveza só o assemelhava mais aos psicopatas elegantes prontos para te dar um bote distraído.

Justin respondeu ao cumprimento com igual cortesia.

— Brandon Cavanagh, é um prazer estar aqui — as palavras decoradas soaram quase desprovidas de emoção, no ponto certo para manter a educação — Se me permitir lhe apresentar minha noiva, Faith Evans — ele apontou com a mão livre para mim, a outra se mantinha bem restritiva em minha cintura. Não importava quantas vezes ele dissesse "minha noiva", eu sempre sentia um arrepio correr por minha espinha.

Muito bem treinada por meus genitores, estendi minha mão com um sorriso montado no rosto, no meu melhor esforço para ser agradável. Todo aquele evento estava me lembrando muito as festas frequentadas e proporcionadas pelos meus pais. Eu tinha a impressão de que os veria em algum canto roubando toda a atenção e luz a sua volta com o carisma impecável.

Os olhos astutos de Brandon, puxados sutilmente nas pontas, me analisaram com aprovação antes dele tomar a ponta dos meus dedos. Resisti ao impulso de puxá-los de volta.