Amadores

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Apeei um pouco desajeitada pela falta de prática e segurei as rédeas do cavalo, um alazão musculoso, direcionando-o para os estábulos. A claridade sucumbia gradualmente a chegada da noite, despedindo-se de uma tarde extremamente agradável de montaria. Justin organizara uma lista de lugares a me mostrar no decorrer do dia, pela manhã aproveitamos o parque para uma conversa tranquila, na qual fui desafiada a subir em árvores com ele — não caí dessa vez — banhados de olhares julgadores dos passantes. Almoçamos no Mc Donald's e ele mesmo pediu para acrescentar picles no meu lanche, e em seguida me levara a Sociedade Hípica da cidade, onde tive a oportunidade de conhecer Gideon, um animal muito simpático que me permitiu montá-lo durante horas.

Eu havia dito a Justin que precisávamos de um tempo só nosso e ele o usara para resgatar nossas raízes. O modo como nossa sintonia estava ao fim do dia mostrara ser uma estratégia eficaz. Sentia que nossas células se comunicavam mesmo distantes, da forma que deveria ser para sempre.

— E o Gideon já faz falta. — Lamentei, montando na moto atrás dele, portava orgulhosamente o capacete em minha cabeça. Sã o bastante para lutar por ele, não fora tão difícil assim conseguir.

Bem humorado, tomado pelo mesmo espírito animador que uma relação sólida e segura trazia, ele emitiu um ruído grave na garganta.

— Voltaremos mais vezes. — Garantiu, ignorando a crítica indireta ao seu veículo. — Aguenta mais uma parada? — Inclinou levemente o rosto na minha direção e eu pude ver um sorrisinho repuxar o canto da sua boca.

A empolgação pipocando em sua face deixou meu estômago agitado de ansiedade — além do nervosismo por estar mais uma vez em cima do monstro dirigível.

— Com você? Para qualquer lugar. — Agarrei feliz sua cintura, encostando o capacete nas suas costas e confiando-lhe, literalmente, meu futuro.

A viagem fora extremamente longa, praticamente um teste para os meus nervos. Eu tinha a impressão de que passara horas com os músculos rijos a ponto de receber dores latejantes como retribuição dos mesmos. Sentia-me como uma criança irritante, perguntando diversas vezes se já estávamos chegando. Não estávamos mais em Toronto, passamos por uma ponte em Burlington e chegamos em Hamilton, seguindo pela estrada até nos distanciarmos da civilização, o trânsito diminuiu até estar praticamente nulo, e árvores nos ladeavam a cada esquina, não que houvessem muitas esquinas. Finalmente chegamos ao estacionamento, onde recebíamos uma folga da mãe natureza, abrindo espaço para o campo aberto enfeitado com algumas copas que precedia o rio imenso. Binbrook Tract Conservation Area, eu havia lido em uma placa.

Justin mesmo se encarregou de domar meus fios rebeldes quando tirei o capacete, suspirando de prazer ao pisar em terra firme. Acariciou meu rosto com doçura ao passo que fitava concentrado meu rosto, uma ruguinha julgadora entre suas sobrancelhas.

— Você sempre fica pálida. — Comentou, achando graça. Se eu não soubesse o quanto estimava aquele tipo de transporte, diria que insistia em me botar nele apenas por seu próprio divertimento.

— Mal posso imaginar o motivo. — Disse, expressando o leve toque de irritação. Isso só o fez achar mais graça.

A noite já predominava, sua presença intimidadora por todos os lados, tendo em vista a escassez de luz artificial, um poste ou outro ostentavam lâmpadas pequenas, deixando a maior parte do trabalho para o céu. A nossa volta esparsas árvores apresentavam seus galhos secos emaranhados semelhantes a garras em troncos gigantes. Parecia o local ideal de se gravar filmes de terror, ótimo para esconder corpos também. O arrepio que desceu por minha espinha se devia em parte ao frio que o ambiente proporcionava.

Justin passou o braço sobre meus ombros, puxando-me para si ao perceber que estremeci.

— Impressão minha ou você está levemente assustada, Faith? — Perguntou, divertido.

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