Stephanie Fearblood, vampira
— Claro, sim, sim. — sorriu, as pálpebras baixaram e a mão coçou a traseira da nuca. — Que sorte, queria mesmo um tanto mais de dinheiro. Meu grupo acabou de se dissolver...
Os olhos dele abriram num salto e encontraram as íris negras do mercador.
— Não foi uma briga, deus me livre, eles só tinham planos diferentes. Um grupo de verão se o rapaz me entende, feito no calor do momento e desfeito com seu esfriar.
O homem tinha duas orelhas lupinas em meio ao cabelo alvo e liso, trajava camisa pesada de mangas longas e cor azul, as calças de couro grossas eram seguidas de botas de cano alto, a face enrugada e coroada com dois olhos do tom de mel. Fedia a ligeiro nervosismo, suor e terra.
Não vai ser de muita ajuda. O odor de mana nele tinha o dobro da força do que em Antony, o que não chegava a metade do de Stephanie.
A vampira encarou o mercador. Vamos, o diga. Os lábios se separaram, ele vai ser um peso morto, não muito diferente de você, o olhar do licantropo a encontrou. De canto, deslizando-lhe sobre o rubro e a boca. Arrepio a foi do topo da cabeça à ponta do pé. Stephanie fitou o chão, palavras não ditas.
— Entendo, claro que sim. E não vamos realmente atrás deles, iremos pescar no lago indo por uma trilha recomendada pela atendente — o mercador, com um sorriso curto para o velho. Então a mão subiu e desceu, no ombro de Stephanie que o teve, junto ao outro, a se erguer com súbita tensão, resto do corpo também enrijeceu, os olhos piscaram duas vezes. Hã?! Sobre o contato físico repentino. — Esta criança comigo é bem forte, então contanto que lidem com um ou outro lobo que tenha explorado uma rota não habitual, é o suficiente — Antony, a palma deixou a vampira que relaxou e o fitou de soslaio. Não me toque de novo ou quebro sua mão. E criança...? Tenho dezesseis anos seu feioso idiota. Não verbalizou nada disso.
Partiram. Fora da vila as árvores erguiam-se grossas, com alturas de seis a vinte metros e por vezes tortuosos troncos. Folhas marcavam o solo e os galhos já esbanjavam algum verde e frutas. O cheiro era vegetal, terra, dejetos, animais e flores.
O lago pairava sob um crepúsculo púrpura e laranja. O ruidoso respirar do velho e de Antony, o fedor de suor azedo, pairavam a sua retaguarda. Fora uma viagem cheia de desníveis que teria levado duas horas. Mas o mercador e o mago demoravam-se nos caminhos irregulares, tiravam pausas para respirar após escalar encostas íngremes e pediram uma diminuição de ritmo quase de minuto em minuto. Os levou quatro horas naquele passo.
Patético, Stephanie os fitou por sobre o ombro antes de irromper por entre a vegetação. Eles estavam ruborizados e empapados pela transpiração. Respirou fundo, não eram os companheiros que imaginei quando fantasiei sair de casa, voltou as íris à terra aberta, escura e marcada por pentelhos de grama.
Empalideceu. As batidas do coração fizeram-se ouvir. Tum-tum-tutum-tum. O ar pairava num frio mais intenso do que em todo trajeto que o antecedia. O lago refletia os resquícios da manhã, a margem do outro lado um fino traço de terra com silhuetas de árvores ao fundo. A água molhava aquilo, aqueles vários aquilo.
O pisar dos licantropos soaram contra o solo negro e úmido. ''Ah...!'' mudo escapou pelas bocas. Um pássaro piou ao longe.
— Temos que voltar, agora! — o velho, virando a cabeça à Antony.
Não é nada realmente novo, pálpebras desceram sobre as íris. E não fedem como deveriam. Expirou devagar, punhos abriram. As varas de pesca e o balde que o velho comprara como gesto de boa vontade foram ao chão.
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A Queda das Espadas
FantasyA Cruz do Primeiro, cidade pertencente aos vampiros, é destruída sob o ataque do exército élfico. Fugindo de lá às pressas, Stephanie Fearblood carrega consigo o prenúncio de uma catástrofe e o desespero da perda de seu lar e pai. Numa busca para im...