Jormungand Ouroboros, oni - 18 anos atrás
As demais crianças estavam a frente do corredor que cercava a residência principal, em meia lua e fitando um urso a diante da formação. A fera tinha pelagem branca, com pernas, uma curta área no entorno dos olhos e orelhas cobertas de negro. Ele surgira no cais dentro de um bote e Ingrid o comprara, do anão que o reivindicou, para presentear o chefe da família Ouroboros. A criatura comia carne e passava os dias farejando o gramado, dormindo ou sendo cercada pelos onis jovens.
— Ele não gostou disso — a oni, sentada com as costas contra o tronco alvo de uma árvore, um caderno aberto sobre as coxas e potes de tinta ao lado de ambas as pernas.
— Papai não gosta de nada tem um tempo — Dagmar, e colocou um dedo na folha em que a irmã rabiscava. — A proporção dos olhos tá esquisita.
— Oh... vou ajeitar — a mais jovem, apagou o olho esquerdo usando tinta branca. A brisa balançava-a os fios negros que desciam a altura do peitoral e as bordas do quimono alvo que vestia. — Acha que ele vai sair hoje?
— Nah. A idiota da Ingrid devia ter trazido um médico, não esse urso estranho.
Começou a fazer o contorno do olho. A irmãzona é uma boca suja. Dagmar se erguia a um metro e noventa nos seus dezessete anos, tinha músculos robustos, cabelos negros, olhos purpuras e chifres longos. Vestia uma camisa escura sem mangas e uma calça branca de tecido leve.
— Mamãe disse que não há médico que possa ajudar.
Dagmar fitou as íris lilases da irmã de soslaio, a boca em linha dura.
— Nossa mãe é uma idiota. Papai não é como os outros, ele pode sim sobreviver a isso.
Ele morreu naquela noite. A ponta dos chifres queimava e uma ida ao banheiro, para lavá-los, levou a oni à frente de um espelho. Foi quando recebeu a informação no escarlate que os marcavam as pontas. Não soube que o pai havia morrido até que o significado do rubro fosse posto em palavras na manhã seguinte. Quando Dagmar acordou, viu o vermelho nos chifres de sua irmã do meio e chorou.
Jormungand era o título dado ao chefe da família, entregue ao novo após a morte do atual, sendo a coroação o natural avermelhar da extremidade superior dos chifres de um jovem Ouroboros aleatório.
Ela tinha doze anos quando se tornou Jormungand, seu pai foi encontrado com a garganta cortada e uma folha dotada de um ''sinto muito'' na caligrafia dele. O enterro ocorreu ao meio dia, o corpo foi banhado em álcool e pétalas róseas das sakuras. A noite a família inteira reuniu-se à frente da residência principal para que a nova Jormungand lesse a promessa de proteger a Bélica e liderar os assuntos internos dos Ouroboros, sem nunca tomar partido em disputas externas ou abandonar o lar. A nova líder forçava as bordas dos lábios a não subirem. Sou a chefe agora, todos vão disputar minha companhia, poderei mandar em todo mundo e nunca mais vou ficar de fora das brincadeiras, hahaha! Só comerei sobremesas!
— Onde pensa que vai?
Parou no final do corredor externo, o cheiro do álcool ainda pairando no nariz. Virou a cabeça e fitou a figura escura de sua mãe. O semblante dela era duro, o queixo ligeiramente erguido e a mão em cima da outra e ambas sobre a barriga. A criança apontou a esquerda, o caminho que levava-a ao quarto.
— Tem muito a aprender — a mulher.
Semicerrou as pálpebras.
— Hum?
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A Queda das Espadas
FantasyA Cruz do Primeiro, cidade pertencente aos vampiros, é destruída sob o ataque do exército élfico. Fugindo de lá às pressas, Stephanie Fearblood carrega consigo o prenúncio de uma catástrofe e o desespero da perda de seu lar e pai. Numa busca para im...