Stephanie Fearblood - vampira
Na primeira vez que abriu os olhos havia o céu, nuvens cinzentas com pequenos rasgos de cor rubra. O ar era fumaça e calor. Doí. A segunda a pôs diante de um longo campo aberto marcado por gramíneas, leves irregularidades no terreno e três árvores longamente espaçadas. O fedor da mata, dos três com que viajara até o inferno de fogo e de dois pássaros que passavam por perto quase a fez chorar e rir. Isso é tão... bom. Hersa passou a frente com uma tigela de barro e colher de madeira, sorriu, se agachou e falou algo. Então uma dor aguda atravessou Stephanie vinda do ombro esquerdo como um grito absurdamente alto e ela apagou.
Na terceira havia o odor de centenas de pessoas, um escarcéu de suores, emoções e comid... não, não são comida. Abriu os olhos. Havia resquícios do cheiro de fezes e urina, de animais e mais próximo um grupo de flores lavanda. Semiramis. Havia um teto acima, uma cama abaixo e um criado mudo à direita. Luz matinal entrava pela janela. Sobrevivi. Começou a erguer o tronco, primeiro empurrando o colchão com o braço direito e então... caiu para a esquerda subitamente. Engoliu um gemido com os dentes cerrados e girou para o outro lado, balançou curtamente a frente e trás sob a agonia e então levou a mão ao... não está aqui. Suor a surgiu na face.
Meu braço não está aqui...
Lembrou.
Empalideceu.
Aquela coisa ter comido meu braço... significa vitória ou derrota? Ainda estava viva, o mundo porta a fora fedia com insistencia a tristeza, mas havia um tom de calmaria. Fitou na direção da janela. Pessoas andavam a oeste e outras a leste, um cachorro pairava sentado no outro lado da rua e uma carruagem atravessava pela via. O mundo não parece ter acabado.
Mas bestas podem ainda surgir à noite. Os zumbis devem continuar sendo uma ameaça e... a bêbada... ela sobreviveu? Ainda está lutando?
A porta do cômodo abriu rangendo contra o piso. Hersa entrou e a fechou. Trazia uma garrafa de barro que colocou sobre o criado mudo antes de sentar a frente da vampira.
— Fico feliz em ver que acordou. Como se sente? Não vai dormir de repente, né? Nas duas outras vezes achei que tinha batido as botas, tive que lutar com os outros caras com um garfo pela decisão de não deixá-la para os corvos e agora meu pobre utensílio é a colher com a menor concha do mundo — Hersa, sorrindo, vestida em uma camisa branca puída e short marrom, de cabelo amarrado em um rabo de cavalo. Ela é tão linda. Stephanie girou lentamente as costas de volta ao colchão. Dói, uma dor pulsante vinda do... do meu braço em falta. Me sinto cansada e fraca.
Mas nada disso importava.
— O que houve? — soltou, lentamente. Não sei se quero ouvir a resposta. Não sei se quero saber o quão inútil fui, o quanto estraguei tudo sendo quase morta por um monstro alpino.
— Nós achamos você sem braço durante a subida da montanha, como estava sem o que tinha o dedo a ser queimado pensamos ''eba, cabou'', te demos um tratamento médico meia boca antes de eu achar que não ia bastar e lhe dar a cura superpotente que a chefinha havia engarrafado para mim. Depois a arrastamos, alimentamos e chegamos aqui. Tá me devendo uma, lindinha.
Stephanie corou e virou o rosto para o lado da janela. Mordeu o canto inferior e esquerdo dos lábios. Mas...
— ...deu certo...? Os monstros vão parar...?
— Mommy ainda não entrou em contato, mas ei! — riu e deu dois tapinhas no ombro da vampira. — Não fomos atacados no caminho de volta mesmo à noite! Se isso não significa que ganhamos, eu não sei o quê o faria. Então...
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A Queda das Espadas
FantasyA Cruz do Primeiro, cidade pertencente aos vampiros, é destruída sob o ataque do exército élfico. Fugindo de lá às pressas, Stephanie Fearblood carrega consigo o prenúncio de uma catástrofe e o desespero da perda de seu lar e pai. Numa busca para im...