Capítulo 19.5° - Até alguma coisa que fiz ou sou importar

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Stephanie Fearblood, vampira



Abriu os olhos. Céu, vento quente a soprando a pele e rigidez abaixo de si. Isso não é a morte. Moveu os dedos das mãos e dos pés, desceu as pálpebras. Ou talvez seja, nunca estive morta antes... não de verdade, não que eu me lembre. O odor no ar era ''a bêbada'', um cheiro fresco como o caldo de limões especialmente fortes sendo despejado no nariz, queimava e a enchia a mente com a palavra ''perigo''. Tênue e distante pairava fumaça, carne congelada e sangue de pessoas de diferentes raças.

Passos ecoavam contra o chão, longe e abaixo. Eu poderia estar morta. Pôs-se sentada, os cabelos voavam na direção da brisa. Lágrimas a subiram aos olhos e os lábios bambearam. Eu deveria estar. ''Se quer chorar, chore''. As gotas quentes a desceram o rosto até o queixo e despencaram às coxas. Soluçou, então de novo e mais uma vez.

A oni sentara ao seu lado e se servira de doses de saquê.

— Imagino se é a derrota que traz esse pesar, se memória ou... o sujeito dividido em dois, ah, foi um belo corte, me vejo impelida a parabenizá-la. — a voz era melodiosa e suave. Stephanie chorou um tanto mais, então enxugou as lágrimas com o antebraço. Elas não pertecem a alguém como eu. Fitou de soslaio as íris púrpuras do demônio. ''Um monstro horrendo com um belo rosto''. Você tinha razão, no fundo... desviou o olhar, mordeu o canto da boca. Sou isso. — Mantenha a vergonha longe do peito, creio que há pouco uso a ela, sim?

As pálpebras da vampira subiram ao limite e o tronco pendeu curtamente para trás de súbito. Como essa bêbada.... A oni fitava o horizonte, tinha as bordas dos lábios ligeiramente para cima e os demais músculos da face relaxados, os cabelos cor de breu eram balançados pela passagem de ar. Ela parece em paz.

O céu escurecia, pequenas estrelas pontilhavam-no na borda oposta ao pôr do sol.

Eu quero estar em paz.

A oni pôs-se de pé, esticou os braços acima, o torso pendeu a esquerda e direita. Vestia uma camisa folgada e negra com um curto short por baixo.

Ela ergueu a mão na direção da vampira.

— Irei embora, gostaria de vir comigo? Preciso de alguém para carregar bagagem e ouvir o que quer que eu sinta vontade de dizer — a pequena mulher com longos chifres marcados de carmim nas pontas.

Stephanie fitou a rua abaixo e esquerda do teto de Note a Dama. Havia uma dúzia de figuras humanóides com olhos voltados a ela. Mais além existia fumaça e chamas escapando de treze edifícios além de mais seres rondando as vias.

Os olhos rubros foram aos púrpuras do demônio.

— ...Por que não fica? — você é forte, você não está triste, você poderia fazer a diferença, salvar várias pessoas. Se levantou e a mão da oni agarrou em um belisco suave a sua bochecha. Stephanie não moveu um milímetro. Essa bêbada importa, pode se fazer importar.

— Haverão lutas e mortes, poucos ou até nenhum bar para ir, pessoas ocupadas demais tentando sobreviver e eu prefiro diversões que envolvem menos... melancolia?

Os punhos da vampira fecharam.

— Pode ajudá-los...

A oni deu um passo à frente, faces e troncos ficaram a centímetros uns dos outros e um arrepio atravessou Stephanie. Ela é linda. O cheiro dela não incomoda mais tanto. O pescoço dela deve ser tão gost... a vampira fechou os olhos e recuou um passo. A mão da mulher a largara o rosto.

A Queda das EspadasOnde histórias criam vida. Descubra agora