I - O empurrão

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  As vezes eu penso no quão difícil é viver num mundo de pessoas tão rasas, tão vazias. Cheio de corrupção, e pessoas morrendo diariamente. É difícil manter a saúde mental, e felicidade hoje em dia. Nem tudo é lindo e belo, e é a vida. Eu mesma, não sou um exemplo de ser humano, mas ainda assim continua sendo foda pensar em tudo isso.

  Moro sozinha desde os meus 16 anos, e hoje estou com 18. Sou emancipada, e quase nunca vejo meus pais. Sempre viajando, e ocupados demais pra única filha que colocaram nesse mundo. Minha vó mora a 3 quarteirões da minha casa, ela que sempre me dá colo, quando necessário. Ela é tudo pra mim. Não era muito a favor da emancipação, e queria minha guarda. Mas meus pais não deram bola, e eu gosto dessa independência.

  Sim, Eu sou essa menininha rica que vocês estão pensando. Mas não, não sou mimada, e muito menos patricinha.

— Lua? - ouço a voz da minha vó, me chamar do andar de baixo da casa. Ela era uma das únicas que eu deixava me chamar pelo primeiro nome, ela e minha melhor amiga. Eu achava meigo demais. E ser meiga, não combina comigo.

— Já to indo vó! - eu respondo, terminando de colocar meu coturno. Minha vó sempre vinha se certificar que eu estava me arrumando pra escola. Era início de ano letivo, e meu último ano. Pego minha mochila, a colocando nos ombros.

Desço as escadas, e a vejo esperando na porta. Minha vó era linda, com seus 58 anos. Cabelos castanhos lisos, sua pele reluzente e seus olhos verdes que se destacavam. Eu tinha muito da minha avó. Ela sorri.

Ela vem até mim, e me entrega um lanche e um suco. Eu os pego e sorrio.

— Não vai esquecer de comer minha filha. Você sabe que tem que se alimentar direito. - ela sempre reclamava, dizendo que eu comia pouco. E piorou quando no último exame de sangue, acusou uma anemia DISCRETA.

— Eu sempre como, vó - dou um beijo no topo de sua cabeça, enquanto a abraço.

— Sei sei, se comesse não teria anemia - ela me olha desconfiada, me fazendo rir. Eu começo a me distanciar, indo até meu carro. — E vê se não se mete em mais encrencas na escola - ela grita

— Encrenca? Eu? Jamais. - eu paro, me virando pra ela, e lanço uma piscadinha. - Relaxa senhora - ela balança sua cabeça em negação. Eu rio jogando a cabeça pra trás.

[...]

Eu mexia no meu celular, enquanto esperava a diretora me chamar. Sim, Eu falhei nisso de ficar longe de encrenca, outra vez.

Tudo culpa da idiota da Billie Eilish. Ela cai em cima de mim, e tenho que deixar barato? A porta se abre, e de lá sai a Billie com um sorriso travesso nos lábios. Deve ter envenenado a diretora contra mim. Reviro meus olhos. Eu odeio essa menina.

— Senhorita Blake, pode vir por favor - A diretora me olha por cima de seus óculos. Eu me levanto, guardando meu celular no bolso. Antes de fechar a porta, eu vejo a Eilish me encarar e mostro o dedo do meio pra ela.

Ela acha que pode mexer comigo. Eu sou a bad girl dessa história, e é melhor ela ficar longe do meu caminho.

— A senhorita Eilish, me disse que você a empurrou, fazendo ela bater a cabeça. O que você tem pra me dizer a respeito? - eu encosto na cadeira, massageando as têmporas. Não tinha sido forte, era só pra deixar ela mais esperta. Não era pra ter batido a cabeça.

— Eu a empurrei de leve, não era pra ter batido a cabeça. Ela caiu em cima de mim, derrubando tudo e além do mais, ela saiu ilesa, não é? - eu me arrumo pra levantar

— O problema é que não é só com a senhorita Eilish que isso acontece, Blake. Quase toda semana você está aí, nesse mesmo lugar. - ela aponta pra onde estou sentada, a sua frente. Eu cruzo meus braços e me jogo na cadeira outra vez.

— Não exagera vai, eu estava melhorando. - eu fecho meus olhos, e a ouço suspirar

— Mas a melhora completa, nunca vem, não é? - ela me encara, mas eu não digo nada. — Bom, ela me disse que esbarrou e caiu em cima de você. Pra ser algo justo, vocês duas ficarão depois da aula, por 4 dias.

— Que? - eu me inclino pra frente. — eu não fiz nada demais. Eu não posso ficar depois da aula, eu tenho outras coisas pra fazer. E eu não quero ter que ficar na mesma sala que a cabeça de alface - eu digo a olhando

— Já está decidido. Essas outras coisas podem esperar. - eu bufo — Nem adianta tentar me fazer mudar de ideia, você já saiu ilesa de muita coisa Blake. Tá dispensada.

Ela se atenta a seus papéis na mesa, me deixando indignada a olhando. É sério isso?
Que ótimo. Eu levanto e saio.

— E aí, Lua? Como foi lá? - a Mia, minha melhor amiga, vem de encontro a mim no corredor. Ela era linda, com seus cabelos ruivos ondulados, olhos castanhos e boca carnuda.

— Estou de detenção, e ainda por cima com a Eilish. - eu digo revirando meus olhos, com o papel de detenção nas mãos.

— Você nunca fica longe de encrenca, não é? O que sua vó vai falar sobre isso? - ela me olha com reprovação.

— Ela não precisa saber. Tenho 18 anos agora, e eu vou cuidar disso - eu digo firme. Minha vó não precisa saber de mais essa, principalmente quando eu disse que não me envolveria em nenhuma encrenca.

— Blake se envolveu em mais problemas? - a Drew chega, e coloca seu braço em volta do meu pescoço. Nós ficamos as vezes, acredito que ela não se envolva com outras pessoas, e nem eu, mas não é nenhum namoro.

— Como sempre - minha melhor amiga revira seus olhos. A Drew pega o papel em minhas mãos.

— Eilish? Você vai ficar em detenção com ela? - ela diz um pouco alterada. Ela e a Billie eram melhores amigas, e até hoje eu não sei o que rolou pra elas terem parado de se falar. A Drew meio que odeia a Billie hoje em dia, mas não faz nenhuma diferença pra mim.

— Pra minha alegria - eu forço um sorriso, a olhando, depois reviro meus olhos. Eu paro, tínhamos chego na sala onde acontece as detenções.

— Se ela fazer qualquer coisa com você, me avisa - ela me olha atentamente. Eu rio.

— Ela não vai fazer, e mesmo que faça, eu sei me virar muito bem sozinha Drew. Relaxa - eu deposito um selinho em seus lábios.

— Olha bem o que você vai fazer Blake, já está encrencada, vê se deixa a menina em paz. - a Mia me adverte. Eu realmente não podia pegar outra detenção. Não queria ser expulsa.

— Eu sei Mia. Está tudo sobre controle - eu beijo sua bochecha, e entro na sala.

  Assim que eu fecho a porta, alguns olhares veem até mim. Eu vou até o professor que ficava sentado em sua mesa, e entrego o papel, indo me sentar em qualquer lugar.

  E então, a porta se abre outra vez, revelando a Billie. Ela fez a mesma coisa que eu fiz, e adivinha, vem se sentar na minha frente.

— Você gosta de brincar com fogo, não é?  - eu digo baixo, me inclinando pra perto dela.

— O perigo me atrai - ela diz bem perto ao meu rosto, e então sorri de lado, mostrando as covinhas, se virando logo em seguida.

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