XXVI - O amor não tem escapatória

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Acordo com o despertador gritando em cima do criado mudo. Me espreguiço, e coço meus olhos. São 8 horas da manhã. Hoje é último dia de gravação da primeira temporada do reality, vamos gravar os dois últimos episódios.

Olho pra lado, e depois de algum tempo dormindo acompanhada, minha cama estava vazia. Depois da conversa que eu tive com a Kehlani, ela decidiu que seria melhor começar a dormir no quarto de hóspedes, e eu concordei.

Me levanto, e vou direto pro banho. Hoje eu não iria pro colégio, somente amanhã, por ser o show de talentos, e eu estava tão ansiosa pra esse dia. E depois de hoje, vou começar a ir todos os dias, já que não vou mais ter gravações. Essa parte é triste.

Depois de algum tempo debaixo do chuveiro, desligo o registro. Saio com uma toalha no cabelo, e com um roupão. Até iria me arrumar agora, mas meu estômago estava gritando de fome, então decido ir tomar café direto.

Assim que saio do quarto, sinto um cheiro maravilhoso vindo do andar debaixo. Achei estranho, mas pode ser que seja a Kehlani. Desço as escadas, e assim que chego na cozinha vejo minha vó fazendo panquecas, e meu pais colocando a mesa. E sim, minha vó ainda não tinha devolvido minha chave.

— Tô atrapalhando algo senhores? - eu pergunto assim que me sento na banquinho da ilha. Eles se assustam, o que me faz rir. Por muito tempo achei que isso fosse impossível.

— Então aí está ela, Lua Blake. Nossa filha, e agora, reconhecida e famosa por seu belo trabalho como tatuadora. Viemos prestigiar teu último dia de gravação - meu pai exagera nos gestos, e meu sorriso continuava ali. Ele vem até mim, me tirando da cadeira, e me rodando, depois de fazer uma reverência.

— Não exagera, não sou nem tudo isso. Mas, fico feliz por vocês enxergarem agora que essa profissão é tão válida quanto a de vocês. - eu digo voltando a me sentar. Minha vó vem com um prato com uma panqueca com olhos de mirtilo, um nariz de morango, e uma banana como boca. Sorrio, ela sempre fazia isso quando eu era criança. — Obrigada vó

— Não precisa agradecer, meu bem. Você quer suco de laranja?? Vai se sentar na mesa, que eu já levo e me junto a você e seus pais - eu concordo. Pego o prato, e vou me sentar na mesa, sendo seguida pelos meus pais.

— Nos nunca achamos que sua profissão não era válida, minha filha. Mas nos desculpe por te dar essa impressão - eu corto um pedaço da panqueca.

— Tá tudo bem, mãe. Isso foi antes, e estamos tentando deixar o passado, no passado, não é? - eu coloco minha mão, sobre a dela que estava em cima da mesa. Ela sorri, a apertando.

Lembra quando eu disse sobre não me privar de sentir? Não iria mais me fechar para aquilo que sinto pelos meus pais. Afinal, eles são meus pais e todo mundo erra. Não posso ficar culpando eles pelo resto da vida. Temos que aproveitar o agora, e as pessoas que estão ao nosso lado. Aqueles que amamos, enquanto ainda há tempo.

— É o que eu mais quero - ela fecha seus olhos, sorrindo. Eu puxo minha mão pra que eu possa voltar a comer. Minha vó chega com o resto das coisas, juntamente do meu vô, que eu nem tinha visto ainda. Eles se sentam na mesa, e então todos comemos enquanto conversávamos.

[...]

  Eu já estava pronta, dou o toque final de perfume, e então pego minhas coisas, e saio do quarto. Antes de descer, eu bato na porta da Kehlani, como eu sabia que ela já estava acordada pela cantoria.

  Chego perto e dou três batidinhas, vendo que a porta estava apenas encostada, e eu como uma bela amiga, vou avisar sobre o café da manhã.

— Ei, eu tô indo, viu? Tem um baita banquete lá embaixo de café da manhã. Meus avós e pais vieram e fizeram, então não esquece de comer antes de sair - eu digo assim que abro a porta, colocando só a cabeça pra dentro do quarto. Ela levanta seu olhar a mim, ela estava deitada de barriga pra cima.

— Buenos días, mi amiga. Pode deixar que com certeza eu vou me deliciar nesse belo café da manhã que me espera - ela diz abrindo seus braços, se espreguiçando. Eu sorrio, e ela me acompanha. — Bom último dia de gravação. 

— Muito obrigada! E um ótimo dia pra você também. - eu sorrio, e ela também. Fecho a porta, e vou em direção ao andar debaixo.

  Eu tenho certeza que vou sentir muito falta dela quando ela se mudar definitivamente. Eu sempre morei nessa casa sozinha, e nunca me importei com a solidão. Mas, depois de experimentar ter alguém sempre aqui, é diferente. Parece muito mais vazio, e isso que ela nem foi ainda.

  Fecho a porta de casa que da acesso a garagem. Entro no carro, e ligo o bluetooth colocando numa playlist de alguém aleatório, e sigo meu caminho de 1h30 até meu trabalho. Eu mal podia acreditar que já é o fim da primeira temporada. Gravamos tão rápido essa primeira parte. Mais uma coisa que vou sentir muita falta.

  E em um farol vermelho, a Billie me vem à mente. Eu começo a pensar, o que será que ela está fazendo? Provavelmente ela está na escola, junto daquela mina escrota. Espero que ela aproveite bem o tempo que ainda resta, porque esta bem no fim.

Começo a lembrar de quando ela foi atrás de mim, depois da Drew ter dado um tapa na minha cara. De como ela ficou junto a mim, sentada do meu lado, esperando que melhorasse de alguma forma.

Eu nunca imaginei que a Billie seria tão atenciosa comigo, ou que realmente se importasse. E agora, depois de algum tempo, eu percebo que sim, ela sempre se importou. Assim como eu também sempre me importei com ela, mas escolhi não enxergar isso. Não queria me sentir ou demostrar vulnerabilidade.

  E meu Deus, ainda era inacreditável pensar que a Billie sempre quis ter algo comigo. Mas foi por água abaixo quando sua melhor amiga, resolveu que iria na frente. Na verdade, pensando bem, não é tão inacreditável assim.

Eu sempre fui a menina durona, que não se apaixona. Pra mim, perceber o que realmente tava acontecendo, que meus sentimentos estavam mudando, era extremante difícil. Mas agora, está tudo muito claro. Eu não vou deixar ela escapar, não vou.

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   Reta final? Eu mal posso acreditar 🥺

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