VIII - Such a wet blanket

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— A dor deve ter sido imensa em, tá até fazendo você delirar - eu digo, e me afasto e ela bufa em sinal de frustração.

— Você é tão estraga prazeres, Blake - ela se reencosta na cadeira.

— Você não achou que seria tão fácil assim, achou? - eu rio, pegando a maquininha.

— Vamos acabar logo com isso - ela diz, se referindo a tatuagem, eu concordo e me concentro no desenho em sua pele extremamente branca, praticamente pronto.

— Por que eu? - eu pergunto, depois de alguns instantes. Ela desvia o olhar do celular, olhando pra mim, um tanto quanto confusa.

— Eu gosto de flertar, não se sinta especial - ela diz olhando outra vez pro celular, eu rio e volto minha atenção a tattoo.

— Não estou me referindo a isso, e sim, por que você quis fazer a tatuagem comigo? - eu paro e tento decifrar seu rosto, tento descobrir quais são seus desejos e motivos pra isso.

— Porque vários amigos meus te indicaram, e eu já vi seus trampos. São de matar - ela diz, me fazendo inflar de alegria. Ser elogiada pelo meu trampo, não tem preço, ainda mais vindo de alguém que não vai com a minha cara.

— Você sabe que eu poderia foder com a sua tatuagem, não sabe? Você teria que ficar com o bagulho zoado na sua pele, pra sempre. Afinal, não é como se eu gostasse de você - eu digo, terminando o último detalhe.

— Eu sabia que você não faria isso. Por mais que você não goste de mim, e eu de você, não se auto sabotaria, só pra foder comigo - ela fala, e sai da cadeira, olhando sua nova tatuagem no espelho. Detalhe, ela estava só de calcinha e sua camiseta estava levantada, na altura de um cropped. Não me ajudava muito.

— É, realmente, sorte sua que eu levo isso aqui a sério - eu me viro rapidamente. Isso aqui é uma tortura, aguentei demais olhar pra esse corpo incrível sem poder fazer muita coisa.

— Tá de costas por que, Blake? Não gosta do que vê? - percebo que ela se aproxima, e então ela me vira pra si

— Eu tô gostando até demais, e esse é o problema - eu digo baixo, e me desvio dela, jogando a agulha usada no lixo.

— Por que é um problema? Eu não vejo nada de errado nisso - eu me viro, ficando de frente a ela, com certa distância, e então ela me encara

— Porque nos odiamos - eu digo como se fosse óbvio , e ela começa a se aproximar outra vez. Eu me encosto na mesa atrás de mim, fechando meus olhos. Saco.

— Amor e ódio nascem no mesmo lugar, Blake - ela diz perto do meu ouvido. E sinto sua respiração bater no meu pescoço, e logo após, um beijo molhado é depositado no mesmo, me fazendo arrepiar. De novo.

  Eu coloco minhas duas mãos em sua cintura, e a puxo pra mais perto. Rapidamente uma das minhas mãos vai pro seu cabelo, eu puxo forte, e a olho. Olho dentro daqueles olhos cor de oceano, e por instantes, vejo uma Billie completamente a minha mercê. E ela é tão linda, caralho como é linda.

Eu giro, e a coloco na mesa. Passo a mão por seu rosto, observando cada detalhe. Passo a mão por algumas sardinhas que existiam em suas bochechas, passo a mão onde ficam as covinhas que agora não estavam tão aparentes, e finalmente seus lábios carnudos, chamando pelos meus. Passo meu dedo por toda a sua boca, e então

— Lua?! - eu não posso acreditar que estou ouvindo essa voz. Me viro bruscamente, e vejo minha mãe nos olhando, com sua cara no chão. Minha mãe sempre soube da minha sexualidade, dizia que tudo bem, mas ela provavelmente não prestou atenção, como qualquer coisa que eu dizia a ela.

— O que você tá fazendo aqui?! - eu chego um pouco mais perto, e percebo a Billie colocar rapidamente sua calça

— Sua vó me disse que estaria aqui, trabalhando. Mas parece que até isso você não leva a sério - eu bufo, passando a mão pelos cabelos. É sempre assim

— Fala logo o que você quer - eu falo sem paciência, se não for pra dizer coisas agradáveis então fica com a porra da boca fechada, caralho.

— É...não queria interromper vocês, mas eu tô vazando - a Billie se pronuncia antes que minha mãe pudesse dizer algo. — A tatuagem ficou foda, Blake - ela diz, eu sorrio em resposta, ela olha pra mulher em minha frente e se despede com a cabeça. Sendo retribuída da mesma forma, e então ela sai.

— Vocês são namoradas? - ela pergunta, olhando com certa desconfiança, me fazendo rir.

— Se fôssemos namoradas, eu daria um beijo de despedida nela, você não acha? - eu termino de arrumar algumas coisas que estavam fora do lugar. — Enfim, o que você quer?

— Eu vim te ver, não é óbvio? Lua, eu não gosto de como nossa relação de mãe e filha está - eu rio ironicamente, jogando a cabeça pra trás. Inacreditável.

— Que relação de mãe e filha? Se você não se lembra, nunca tivemos isso, Elizabeth - eu guardo meu celular, e minhas chaves no bolso. Indo até a porta, sendo seguida por ela.

Tranco a porta do estúdio, e me direciono rapidamente ao estacionamento, ouvindo o barulho irritante do salto batendo apressadamente atrás de mim.

— Espera.....Eu sei disso, e não me orgulho nem um pouco. É por isso que estou aqui, eu estou disposta a fazer o que nunca fiz por nós, filha - ela segura no meu braço, me impedindo de entrar no carro. — E por mais que seu pai não esteja aqui, ele também deseja isso.

  — Você não acha que está tarde demais pra isso? Vocês perderam cada etapa da minha vida, por livre e espontânea vontade - eu respondo, com a voz um pouco elevada, a olhando nos olhos e se eu não a conhecesse diria até que tem lágrimas em seus olhos. — E tudo o que eu mais queria, era 1% do amor, da atenção de vocês.

— Filha, nós podemos e queremos te dar isso agora e...- eu a corto, sem tempo pra mimimi

— Acontece que agora, não me importa mais. Eu não preciso e nem quero vocês perto de mim - eu digo ríspida, e entro rapidamente dentro do meu carro, o trancando.

— Lua, abre essa porta, por favor! Eu peço desculpas por tudo. Filha, vamos conversar direito... - eu continuo intacta — Lua Blake, abre essa porta! - ela grita, eu a olho por alguns instantes, com lágrimas em minhas bochechas, ela não estava diferente.

Seus cabelos loiro escuro estavam bagunçados, seus olhos esverdeados, estavam vermelhos. Ela continuava do mesmo jeito. Fazia tempo tempo que eu não a via, mais de 7 anos. Não coloquei expectativa de quando nos víssemos, mas bom, não queria que fosse assim. Não que eu achasse que seria diferente, mas queria acreditar que sim.

Eu a olho uma última vez, e então desvio meu olhar pra frente, e dou partida no carro. Dou ré, e direciono o carro pra saída. Vejo ela em pé, parada, se distanciar aos poucos pelo retrovisor, enquanto eu andava com o carro.

Minhas lágrimas desciam pelo meu rosto, sem que eu notasse. Eu não podia mais controlar um choro que foi contido por anos. Eu sempre tento me manter forte, e fingir que está tudo bem, mas dentro de mim, está o próprio caos.

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