Between us

VII - Provocação

  
Acordo com o despertador berrando em cima do criado mudo. Desligo, e vejo que são 10 da manhã. Hoje é domingo, não tenho muita coisa pra fazer, além de tatuar a Eilish. Eu geralmente não abro o estúdio aos domingos, mas ela consegue ser tão insistente que acabei cedendo. Quase bati nela também, mas isso aí a gente releva.

Me sento na cama, me espreguiçando. Pego o celular, e vejo algumas mensagens da Mia, e também da Drew. Respondo, e deixo o celular por ali mesmo. Vou até o banheiro, faço minhas higienes, e tiro minha roupa, pronta pra ligar o chuveiro.

Assim que saio do banheiro, ouço meu celular tocar freneticamente em cima da cama, pego e vejo que se trata da minha avó. Atendo.

— Oi vó, está tudo bem? - eu pergunto enquanto tiro a toalha do cabelo.

— Oi minha filha, está tudo ótimo. Estou ligando pra saber se você vai vir almoçar conosco hoje, já que não veio domingo passado - eu geralmente ia almoçar com meus avós nos finais de semana, quando eu não estava com ressaca, ou zero disposição. O que acontecia quase sempre.

— Vou sim vó. Eu só vou me trocar - eu respondo, e ouço ela rir — o que foi?

— Estou gostando de ver que tá parando de beber todo final de semana - eu suspiro, não era todo final de semana. Mas eu sei que ela odiava quando me ligava, e eu falava o mais rápido possível pra poder desligar e ficar o dia inteiro jogada, morrendo de dor de cabeça.

— Não é todo final de semana. E além do mais, eu tenho que trampar hoje a tarde - digo, e coloco no viva voz, deixando o celular em cima do criado mudo, enquanto procurava minha roupa

— Hoje? Você tá mesmo muito estranha - eu rio, era tão inacreditável assim?

— Não é tão difícil assim de acreditar. - ela ri, dizendo que era um pouco sim — Tá bom vó, eu vou desligar pra poder me arrumar e vou direto aí

— Tá bom, vem com cuidado. Beijo lua - eu mando um beijo e desligo. Não sabia qual roupa usar, olho pra guarda roupa sem rumo, não sabendo o que pegar. E caralho, isso aqui tá uma bagunça. Eu geralmente não sou desorganizada assim.

Pego uma calça jeans larga, de lavagem clara e alguns rasgos. Uma camiseta preta, com estampa azul escura, uma blusa preta com capuz. Estava meio frio, mas nada fora do normal. E por último, escolho um Jordan azul escuro e branco. Olho para a parte dos bonés, e decido pegar um azul escuro, com o símbolo branco da new era. Sim, Eu tentava combinar tudo.

Visto, e coloco uma corrente no pescoço. Arrumo meu cabelo, seco e coloco o boné. Olho no espelho, tava ótimo assim, não é como se eu quisesse impressionar a cabeça de alface. Passo perfume, e pego a chave da Range Rover.

Minutos depois

Me despeço dos meus avós. Por mim, eu ficava mais um tempo. Tínhamos comido a algumas horas, e estávamos jogando pôquer. Meu avô antigamente jogava apostando em alguns casinos, mas hoje ele não tem tanta disposição assim. Porém, o hábito de jogar ele nunca perdeu mesmo sem apostar nada. E era um dos momentos que eu mais gostava com eles.

Antes que eu saísse, minha avó me chamou, logo depois de ter recebido uma ligação dos meus pais. Eu sinceramente não estava afim de saber o que eles tinham pra dizer.

— Vó, eu acho melhor conversarmos sobre qualquer coisa que envolva meus pais, mais tarde. Eu tenho que trabalhar, e tenho que me concentrar nisso - eu digo, e mando um beijo, não deixando que ela falasse mais nada. Assunto delicado.

  Fiquei um tempo dirigindo sem rumo, só pensando em o que minha avó queria me dizer. Fazia meses que meus pais não ligavam, não deve ser coisa boa essa ligação repentina. E talvez, tenha me deixado um pouco preocupada, e atrasada também.

Chego no estacionamento, e vejo o dodge preto fosco, com uma Billie zangada encostada no mesmo. Me arrisco a dizer que era até bonitinho de ver.

Tiro a chave, e saio do carro. Ela direciona seu olhar a mim

— Finalmente em caralho! Achei que não levasse seu trampo a sério - eu rio ironicamente com esse comentário, eu não acredito que ela tá dizendo isso.

— Você sabe que porra acontece na minha vida? Não sabe. Então não tem direito de tirar esse tipo de conclusão. E afinal, eu estou aqui, não estou? - eu passo esbarrando por ela, e abro a porta do estúdio. Por favor que ela não tire minha paciência.

Ela passa silenciosamente pela porta, eu devo ter deixado ela pensativa. O que era minha intenção, não devemos sair por aí tirando certas conclusões precipitadas, sem saber o que se passa. Mas sim, eu deveria pelo menos ter avisado que demoraria um pouco.

— Tá, foi mal. Eu deveria ter te avisado - eu começo a preparar tudo para a tatuagem, e ela se senta na cadeira.

— Tá tudo bem, eu não deveria ter dito aquilo, então eu que peço desculpas - eu viro, a olhando por alguns instantes

— Olha só, Billie Eilish pedindo desculpas? Que momento épico - eu sorrio, e vejo ela revirar seus olhos antes que eu voltasse minha atenção as coisas a minha frente.

- Ah, cala a boca - ela diz, encerando o assunto, pegando seu celular.

[...]

Estávamos em silêncio a algum tempo, só ouvíamos o barulho da maquininha e de uma música que coloquei. Ela até que estava suportando bem a dor.

— Pera, deixa eu respirar por um instante - exceto que ela pedia pra parar a cada 5min. Eu deixo a maquininha em cima da mesa, e vejo ela fechar seus olhos e respirar. Eu rio, talvez ela não estivesse conseguindo suportar tanto assim afinal.

— Você tá indo bem, e falta pouco agora - eu digo, e ela abre os seus olhos, ficando sentada na cadeira inclinável. Faltava apenas alguns detalhes finais.

— Já fazem 3 horas que você está dizendo a mesma coisa - ué, ela pedia pra parar a todo momento, eu tinha que fazer algo pra que ela me deixasse continuar.

— Você não acreditou quando eu disse isso, tendo começado a apenas 5min, não é? - eu rio, negando com a cabeça.

— Óbvio que não né. Mas acreditei nas outras quinze vezes - ela ri, tinha exagerado, não foram tantas vezes assim. — Mas agora, eu só deixo você continuar, se eu ganhar algo em troca

— Uma tatuagem completa não é o suficiente? - eu falo ironicamente, e ela sorri de lado

— Temo que não - ela se aproxima de mim. Passando a língua entre seus lábios. Essa menina não presta, e eu menos ainda.

— E o que você quer então? - fico bem perto do seu rosto, olhando a sua boca, e que boca. Ela morde seu lábio inferior. Porra.

— Você