VI - A tatuagem

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   Acordo com a claridade do ambiente batendo no meu rosto. Abro meus olhos lentamente, e percebo a janela aberta. Eu jurava que tinha fechado isso ontem. Levanto rápido demais, e sinto minha pressão baixar, mas continuo como se nada tivesse acontecendo. Fecho, e vou para o banheiro. Hoje é sábado, o que significa nada de escola, ou seja, nada de ter que ver a Eilish.

Faço minhas higienes, e decido tomar banho, não sei que horas são, mas acredito que seja lá pra 12/13h. Demoro alguns minutos tomando banho, e depois fecho o registro. Enrolo uma toalha no cabelo, e outra no corpo.

Saio do banheiro, e dou de cara com a Mia sentada na minha cama, com um sorriso sem graça. Desde ontem à noite não conversamos, eu deixei ela na casa dela, sem dizer quase nada, já que ela praticamente me obrigou a entrar naquela droga de armário.

  — Você vai ficar assim comigo até quando? - ela me pergunta, enquanto eu passo por ela indo até o closet, pegar alguma roupa. Ela vem atrás.

— Eu estou normal. Não estou brava com você, fica na paz - eu digo e pego uma calça de moletom e uma camiseta. Viro pra ela, que me olha desconfiada, e depois da ombros.

— Tá, então agora me conta. O que rolou lá dentro? - ela pergunta toda entusiasmada, eu a olho com tédio. Sério?

— Não rolou nada, o que achou que fosse acontecer? Que a gente ia transar por 7 minutos? - eu digo com ironia, ela arregala seus olhos e sorri

— Mas então era isso que você queria né? Te conheço - ela joga uma almofada em mim

— Para garota, não sabe reconhecer ironia não? - passo perfume, e pego um pente. — A gente só conversou, e depois ela começou a fumar. Apenas isso.

— Conversaram sobre o que? - eu reviro os olhos, que insistência.

— Foi uma quase discussão, ela veio me acusando de "iludir" a Drew. Porque ela acha que ela quer algo mais sério, enquanto eu "não quero nada com nada". Como se ela tivesse moral pra falar sobre isso - sento do lado da mia na cama

— Você sabe que ela está certa, não sabe? Eu mesma já te falei sobre isso. Amizade colorida, nunca da certo. Em algum momento alguma das partes se apaixona, enquanto a outra não quer nada - ela pega um chiclete que estava por ali, e coloca na boca

— Tá, chega. Esquece isso. - ou pelo menos acho que sim. Depois eu converso direito com a Drew sobre isso. Pego minha carteira, celular e coloco no bolso da minha calça, pego o trident que agora tinham três e também os coloco no bolso.

— Vai pro estúdio hoje? - a Mia me pergunta enquanto levantava da cama.

— Vou, tenho alguns clientes agora - ela da de ombros. Eu coloco meus tênis, e me olho no espelho. Meu cabelo ainda estavam um pouco molhado. Passo perfume.

— Certo, a gente se vê mais tarde? - Eu concordo com a cabeça, e ela sorri, vem até mim e me abraça. Eu rio

— As vezes, até parece que somos tipo, namoradas - ela ri, e finge ânsia

— Isso nunca vai acontecer. Sou boa demais pra você Blake. - eu bato de leve em seu braço.

— Você é convencida demais pra mim, isso sim - dou uma última passada de mão no cabelo, e saio do quarto logo atrás da Mia.

Algum tempo depois

Deixei a Mia na casa dela, e vim direto pro estúdio. Eu não tinha comido nada, mas não estou com fome, talvez mais tarde eu peça algo.

Abro a porta, e vejo um dos lugares que eu mais gosto no mundo. Onde eu crio uns trampo foda, e faço aquilo que eu mais amo. Já da pra imaginar que meus pais não aprovam muito essa profissão, eles nem mesmo a consideram assim. Dizem que não vai pra frente, que não é algo "digno". Eu nunca me importei, foi o que sempre quis fazer, e não deixaria que eles mudassem isso. Além de que, é uma profissão tão importante quanto as outras, e da sim pra viver disso. E se o trampo for bom, o dinheiro triplica.

Ligo o led que eu tinha colocado a algum tempo atrás, em todos os 4 canto do teto. A parede tem cor cinza grafite. Aqui na parte debaixo, ficava a cadeira inclinável; e tudo que é necessário num estúdio. Tinham vários quadros fodas, e na parte de cima tinha sofás e meu PlayStation 4 para as horas vagas. Era praticamente uma sala.

Assim que subo as escadas, meu celular apita mostrando a mensagem da Anabel, dizendo que já estava perto do estúdio. Ela sempre é pontual.

Desço as escadas, e logo em seguida vejo ela passar pela janela. Caralho, que rápida. Eu a recebo, e começamos conversando sobre a tattoo que ela estava pensando em fazer, era um pouco maior do que as quais ela tem.

[...]

Eu já estava quase terminando, e tinham se passado 2 horas, não era tão grande e nem muito detalhada. A bel era do estilo mais old school, básico. O que eu achava lindo, e eu tinha algumas nesse estilo também.

— Pronto gata, vai dar uma olhada no espelho - eu digo colocando a maquininha de lado, tirando as luvas. A tatuagem tinha sido feita, na parte exterior do braço direito, acima do cotovelo.

— Caralho Blake, ficou foda pra cacete - ela diz depois de olhar no espelho. Eu sorrio em forma de satisfação. Não tem nada mais gratificante do que seu trabalho ser reconhecido e admirado.

— Eu também gostei, ficou perfeita em você - eu digo, e descarto a agulha que foi usada nela. Logo em seguida, sinto ela me abraçar por trás, eu sorrio de lado. — Já conversamos sobre isso.

— para de ser chata Blake - ela diz me virando pra ela. Eu não estava afim. Ela era linda, tinha seus cabelos loiros, raspados de lado, era tatuada, olhos claros. Mas já tentamos isso uma vez, e não deu certo.

— Você é minha cliente agora, seria antiético. E aqui é meu ambiente de trabalho, Anabel - eu digo me desvencilhando, e ouço alguém chegando.

- Já que tá relutante, eu tô vazando. Acabei de fazer o pix gata - ela pisca pra mim, e pega suas coisas. Abro o app tô meu banco, e vejo o valor da tattoo ali. Ouço ela cumprimentar alguém, e logo vejo de quem se trata. Sério?

— Então esse estúdio é seu mesmo. Interessante, é bem sua cara - a Billie diz, olhando em volta.

— Claro que é meu. E se não for tatuar, então por favor se retire. Tenho um cliente daqui a 1 hora - eu digo arrumando algumas coisas que ainda estavam fora do lugar

— Eu não viria em um estúdio de tatuagem, se eu não fosse fazer uma, Blake. Quero fazer um dragão, da coxa pro quadril, acho que pega a cintura também - ela se senta na cadeira inclinável, eu me viro pra ela. Que merda, eu mereço mesmo.

— Você não marcou horário Eilish, tatuagens não terminam rápido. Principalmente uma desse tamanho - eu digo me sentando na cadeira ao seu lado.

— Não tem problema. Como está sua agenda pra amanhã? - ela pergunta decidida, o que me faz revirar os olhos. Ela sorri. Amanhã vai ser um longo dia.

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