XVI - Apenas uma chance

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— Me lembra de pegar as chaves que estão com a senhora - eu digo, enquanto a empurrava levemente pra fora do banheiro, sendo acompanhada pela Billie.

— Eu só vim ver se estava tudo bem, e pelo jeito, melhor que nunca, né minha filha? - minha vó diz, fazendo a Billie rir por instantes, parando por ver como eu a olhava. Ela pega suas roupas, e se dirige ao banheiro outra vez.

— A senhora tinha que ter avisado antes, vó - eu digo, enquanto colocava uma roupa qualquer. Logo depois, desço pra sala com ela.

— E você deveria estar na escola - ela diz um pouco desapontada. Eu me jogo no sofá, sei que vai ser uma longa conversa, essa que tanto evitei.

— Aconteceram umas coisas, por isso estou em casa. Mas, não é nada que tenha que se preocupar - eu completo, vendo a expressão preocupada em seu rosto. Logo após ela suspira aliviada, se senta ao meu lado no sofá. Antes que qualquer uma de nós dissesse alguma coisa, ouço a Billie descer as escadas.

— Desculpa atrapalhar vocês, mas só avisando que tô indo embora - a Billie se pronuncia, assim que chega no final da escada. Minha vó se levanta, e a Billie vem até nós.

Minha vó abraça calorosamente a Eilish, assim como faz com todos os meus amigos. Vejo a Billie ficar um tanto quanto surpresa, mas logo retribui o abraço. Assim que minha vó a solta, ela vem até mim, ficando com seu rosto perto do meu ouvido.

— Terminamos isso depois, e boa sorte - ela diz, e se afasta, sorrindo de lado.

— Ela é muito linda - minha vó diz, se sentando na poltrona. — E parece te deixar muito feliz, feliz até demais, se é que me entende - eu rio, vendo sua expressão. Que safadinha.

— Ela é só uma amiga vó, ou nem isso, apenas uma colega. - eu respondo, me levantando pra pegar algo pra comer na cozinha.

— Amigas não se olham dessa maneira. - eu reviro meus olhos, e percebo que ela vem até a cozinha, e se senta na bancada.

— Não vem com essa vó. E afinal, a senhora precisa de alguma coisa? - eu pergunto, pegando a caixinha de suco, e ficando de frente pra ela.

— Você deve imaginar o porque de eu estar aqui. - ela se atenta no que vai dizer — Seus pais, ainda estão em casa. Lua, eles querem muito se reconciliar com você, e isso deixaria eu e seu avô tão felizes

— Vocês mais do que ninguém, sabem de tudo o que aconteceu. Não foi minha opção ficar longe deles por tanto tempo, não foi eu quem pouco se fodia pra única filha - eu respondi com um tom pouco elevado, mas nunca gritaria com a minha vó.

— Mas agora, você tem a opção de fazer as pazes com teus pais. Não é isso que você sempre quis quando criança? Que eles se importassem? Eles se importam, Lua. Eles amam você - eu rio alto com o que ela diz

— Me poupe, vó. Agora é tarde demais, eu não estou nem um pouco interessada. Não sou mais aquela menininha frágil, carente, que precisava e queria o amor dos pais, implorava nem que fosse por um olhar direcionado a ela. Eu sou uma mulher agora, sei do que sou capaz, estou conquistando o que sempre quis, e não graças a eles. - eu respondo, e sinto uma lágrima escorrer pelo rosto, mas rapidamente a limpo.

— Não fala assim, eles sempre desejarem o seu bem, minha filha. Deixaram dinheiro pra você se estabilizar, te deram a liberdade que você sempre quis. Sua emancipação...- eu a corto

— Minha emancipação, a senhora sabe muito bem que eles cederam isso a mim, porque não queria um peso como responsabilidade deles. Nunca me quiseram. Se não fosse por você e o vô, eles teriam me colocado pra adoção assim que nasci - era o limite pra mim, eu não queria mais falar disso. Eu vou até a sala, e ouço a porta abrir, olho e não acredito no que vejo.

— Lua, eu e sua mãe..nós erramos tanto com você.. Por favor filha, me perdoa - eu rio do que meu pai dizia, enquanto minha mãe estava do seu lado.

— Porque vocês estão aqui? Porque não podem me deixar em paz, assim como sempre fizeram? - eu grito, e minha voz sai falha, já que não conseguia mais controlar essa merda de choro.

Ele vem até mim, e me abraça, mesmo eu estando relutante no início, acabo cedendo. Meu choro era incessante. Eu não sabia o que pensar, muito menos o que fazer. Nunca tive amor da parte deles, não consigo acreditar em tudo isso.

— Eu não consigo acreditar em vocês, porra, vocês me fizeram sofrer tanto, por conta de vocês, eu sou essa fodida - eu me solto do abraço, e olho em seus olhos, e depois para os olhos da minha mãe, apontando o dedo pro mesmo.

— Filha, nos éramos jovens e muito ambiciosos, não soubemos ver o que realmente era o mais importante pra nós, mas agora tudo está mais claro - ele diz prestando atenção na minha expressão. Eu me sento no sofá, colocando o rosto entre as mãos. Minha cabeça estava explodindo.

Sinto eles se sentaram do meu lado no sofa, um de cada lado. Alguém passa a mão nas minhas costas, em forma de conforto.

— Nós vamos te mostrar que estamos falando a verdade, filha. Você é, e sempre foi muito importante pra nós. O que estamos pedindo, é uma única chance. - ouço a voz delicada da minha mãe, estava trêmula, devia estar chorando. Era ela que acariciava minhas costas.

— Apenas uma chance, é o que pedimos. Prometemos, que se pisarmos na bola, uma única vez, deixaremos você em paz. - é meu pai quem diz. Abro meus olhos, e vejo também minha avó quietinha, sentada na poltrona.

Eu me levanto, tentando controlar minha respiração, indo de um lado pro outro. Eles erraram tanto, me deixaram tão mal quando resolveram ir pra outro país, e me deixaram aqui, como se eu não fosse nada, nunca ligaram pra saber se eu estava bem. Eu devo tudo aos meus avós, que sempre cuidaram de mim, e me ensinaram tudo o que sei. E é por eles, por saber que eles vão ficar mais aliviados, que estou prestes a tomar essa decisão.

— Se vocês pisarem na bola, uma vez sequer, podem esquecer que tiveram uma filha. E não pensem que estou fazendo isso por vocês, eu tô fazendo pelos meus avós, devo tudo a eles. - eu respondo, olhando para os mesmos sentados no sofá, que sorriam que nem bobos. Olho pra minha vó, que estava radiante, que até bateu uma palma solitária.

— Te garanto eu que não vai se arrepender minha filha - minha mãe se levanta, e beija minha bochecha, me abraçando em seguida. Meu pai se junta no abraço, mas eu não retribuo.

— Eu realmente espero que não. - eu respondo sem muita animação. Eles me soltam, limpando seus lágrimas.

— Certo, agora vamos deixar você descansar. E muito obrigado, lua. Nos falamos depois - meu pai diz, e minha mãe se despede acenando, enquanto eles iam até a porta. Eu sorrio sem mostrar os dentes, e me despeço quando eles já estão fechando a porta.

— Você fez bem. Eles merecem uma chance, assim como você merece o amor que eles sempre tiveram pra te dar, só não sabiam como. - minha vó se pronuncia, se levantando e pegando sua bolsa. Aliás, ela era minha avó materna. Ela vem até mim

— Eu te amo, lua. Sempre te amarei. Minha menina - ela diz com lágrimas nos olhos, e beija minha testa.

— Eu também te amo, vó - eu digo, e a abraço, assim que a solto, ela vai até a porta, e da uma última olhada pra trás, mandando um beijo, me fazendo sorrir. Eu retribuo, e então ela sai, fechando a porta atrás de si. Eu a amo tanto. Não sei o que seria de mim sem meus avós.

Suspiro. Não sei se tomei a decisão certa, mas espero que eles realmente tenham mudado, caso contrário, terão que me esquecer.

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