XIII - Nada precisa mudar...

2.3K 218 79
                                    

  Acordo sentindo o colchão se movimentar. Sim, Eu tenho o sono muito leve. Abro os olhos lentamente, olhando pro meu lado. Vendo a Billie sentada, colocando seu tênis. Então a noite passada realmente aconteceu. Que loucura. Estávamos no meu quarto, e não no de hóspedes.

Uma loucura extremamente boa, não vou mentir. A noite passada foi incrível, e eu não posso negar. Fizemos tudo o que podem imaginar, não perdemos nem um minuto. Foi como se quiséssemos isso a muito tempo. Mas, acabou, e não acontecerá outras vezes.

— Eilish - eu soletro ainda sonolenta, sentindo cada letra saindo da minha boca. Chamo sua atenção. Me viro pro lado dela, apoiando meu rosto em minha mão.— Pronunciar seu sobrenome é tão gostoso, sabia?

— Sabe o que mais seria gostoso? - ela me olha maliciosamente. Eu jogo uma almofada na mesma, que ria alto

— Sai logo da minha cama garota - ela levanta sorrindo, e pega o celular que estava em cima do criado mudo, sua expressão mostra preocupação por alguns segundos quando olha pra tela do mesmo. Eu me levanto também, e vou a procura de uma roupa no guarda roupa. — Algum problema?

— Não, é só a garota que eu fico as vezes. Enfim, te vejo na escola? - ela pergunta, eu me viro pra ela, concordando com a cabeça. Tínhamos 30min até a aula começar.

— Infelizmente - eu digo, e ela mostra seu dedo do meio, saindo do quarto. Não deu tempo de dizer onde eu gostaria que esse dedo estivesse. Sorrio, mordendo meu lábio inferior, lembrando dessa noite. Que porra essa menina tem? Mas independente do que seja, isso aqui foi a primeira e última vez.

[...]

Eu estava sentada com a Mia no refeitório, como o usual. Estávamos no intervalo. Ela tava falando sobre alguma coisa que não dei tanta importância, as vezes ela se empolgava demais e acabada falando nada com nada. Estava sentada em minha frente.

A Billie estava do outro lado do refeitório, com seu grupo de amigos, e tinha uma garota em seu colo, devia ser a menina das mensagens de hoje cedo. E como eu queria e esperava, nada mudou entre a gente. Continuamos sem nos falar, e mantendo a pose. Porém agora, parece que ela me odeia mais do que nunca.

  Os pequenos cortes e alguns hematomas no rosto dela, estavam bem mais claros, o cara não devia ter conseguido bater tão forte assim afinal.

— Você sequer está me ouvindo? Blake? - vejo a Mia estralar os dedos em minha frente. Eu não tinha contado nada do que tinha acontecido pra ela, só a parte que não consegui dizer o que não sinto pela Drew.

— Não quando você não diz nada com nada - ela revira seus olhos.

— Você tá tão chata ultimamente, tá precisando colar velcro. Resolve logo tudo com a Drew e bota pra quebrar - ela diz, me fazendo sorrir. Ah se ela soubesse que a algumas horas atrás era exatamente isso que eu estava fazendo. Mas não com a Drew.

— Esse com certeza, não é o motivo de eu ser chata. - ela me olha desconfiada. — Eu preciso te contar uma coisa, mas não agora - eu disparo, e ela arregala seus olhos, merda, certeza que vai ficar me perturbando até eu dizer.

— Você sabe que eu odeio isso. Se não vai contar agora, não precisava avisar. Vou morrer de curiosidade até la - ela bufa. E da uma mordida no seu lanche de pasta de amendoim.

Vejo a Drew se aproximar da nossa mesa, me ajeito no banco. Ela olha rapidamente pra mesa onde a Billie estava com seus amigos, e volta seu olhar pra mim.

— Olha só, parece que a boa samaritana conseguiu salvar a sua dama - ela diz debochadamente. A Mia me olha confusa.

— Sério que você vai começar com isso? - eu pergunto sem paciência. Achei por um instante, que ela pediria pra conversar, devidamente. E não tentar ficar dando showzinho.

— Foi você quem começou - ela diz, apoiando suas mãos na mesa, do lado da Mia, olhando em meus olhos. Eu não quero fazer nada que a magoe, mas eu não consigo me controlar quando fico irritada.

— Se não fosse por mim, você teria deixado a menina estirada no chão, ou pior, teria aproveitado a chance pra fazer algo ainda pior - eu respondo calmamente. Tentando manter o equilíbrio na conversa.

— Teria feito um favor a muitas pessoas - ela diz, e sorri de lado. Eu não sabia o quão mau e insensível ela poderia ser.

— Você tem noção do que está falando Drew? Está passando dos limites - eu digo, o que não era mentira. Como alguém diz que matar alguém (que não é estuprador, nem essas porras que merecem mesmo morrer) seria um favor a outras pessoas?

Eu levanto, não queria mais discutir sobre isso. Ainda mais com alguns olhares sobre nós, incluindo o da pessoa em questão. Ela rapidamente segura meu braço, um tanto quanto forte, me impedindo de continuar. Eu paro, olho pra sua mão em meu braço, e depois pro seu rosto. Num piscar de olhos, sinto minha bochecha arder, em resultado de um tapa. Sinto o sangue correr em minhas veias, fecho meus olhos. Puxo fortemente meu braço do seu aperto, fico de frente pra ela, segurando fortemente seus braços.

— Como você pode ser tão cega? É isso que ela quer, nos colocar uma contra a outra. E você está cedendo. Acorda! - ela fala rapidamente, cuspindo as palavras.

— Você só pode ter perdido o resto de noção que te restava, garota. Quem você pensa que é pra me dar um tapa caralho?! - eu grito perto do seu rosto, enquanto apertava cada vez mais seus braços. Vejo um certo medo em seus olhos.

— Blake..você tá me machucando - Sua voz agora sai um tanto quanto falha, e ela tenta se soltar. Então rapidamente livro seus braços da minha mão. Eu não sou assim.

Nessa altura, várias pessoas estavam ao nosso redor. Então sinto alguém tentando me puxar, percebo ser a Mia. Eu me viro, empurrando alguns curiosos, e saio dali, indo para o patio. A Mia sabia que eu iria querer ficar um pouco sozinha, então não me seguiu.

Me encosto na parede, finalmente respirando. Vou descendo até sentar no chão. Procuro um maço de cigarro no bolso, um tanto quanto desesperadamente, e não consigo achar. Bato minha cabeça na parede, sentindo lágrimas descerem pelo rosto. Eu sou um monstro.

Sinto alguém se sentar ao meu lado, e eu reconheço esse perfume. E não é o da Mia. Limpo disfarçadamente algumas lágrimas. Abro meus olhos, e vejo a Billie, estendendo um cigarro em minha direção.

— Isso vai acabar te matando, mas nessa situação é compreensível. - eu sorrio fraco e pego, o acendendo. Meu corpo relaxa por alguns instantes.

— Você sabe que só por termos transado, nada tem que mudar entre nós, certo? Pode voltar para os seus amigos - eu digo um tanto quanto rude. E ela simplesmente da de ombros.

— Eu não estou aqui por isso - eu não digo mais nada, e me concentro no cigarro entre meus dedos.

Depois de algum tempo em silêncio, eu achava que a Billie se levantaria, e me deixaria ali, adiantando a minha morte. Mas não foi o que ela fez, mesmo sem ninguém dizer nada, ela continua do meu lado.

— Olha, não queria dizer nada não, mas não posso negar que a Drew sabe mesmo como dar um tapa - ela toca delicadamente com as pontas de seus dedos, minha bochecha, que eu posso jurar que esta extremamente vermelha, pela ardência.

— Vai se fuder, Eilish - eu respondo, a olhando, e ela sorri. Logo depois, fica seria.

— Eu não queria ter causado problemas entre vocês..- eu a corto

— Esquece isso, não foi culpa sua. - eu apago a bituca no chão, a deixando por ali, juntamente com algumas outras. Tem uma quantidade preocupante de fumantes nessa escola.

— Ei - ela me olha, com um sorrisinho de lado, se ajeitando. — Quer dar o fora daqui?

— E pra onde iríamos? - eu rio, analisando seu rosto. Não posso negar que ela é gata pra cacete, com seus olhos azuis, que as vezes ficavam acinzentados; suas covinhas que apareciam pra expressar sua felicidade.

— Não sei, a gente vê no caminho - ela se levanta rapidamente, animada. Ela estende sua mão, eu a olho por alguns segundos, e então a pego, sendo puxada, me levantando.

Between us Onde histórias criam vida. Descubra agora