Que diabo acabou de fazer?

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Boa leituraaaa

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Point of View Clarke


Fazia mais de três meses que eu não ia à academia.

Thomas era uma criatura de hábitos e ia todos os dias pontualmente às seis da manhã. Eu tentava ir com ele três vezes por semana, pelo menos, quando estávamos juntos, embora preferisse me exercitar à noite. Mas, depois que começamos a dar um tempo, ficou desconfortável encontrá-lo ali. Acenávamos e dizíamos um “oi”. Uma ou duas vezes, até conversamos. Mas o “tchau” no fim da conversa fazia meu coração doer tudo de novo. Parei de ir para preservar minha sanidade.

Até hoje.

Não sei o que deu em mim para escolher justamente esse dia para voltar à academia, sobretudo porque era quase uma da manhã quando cheguei em casa na noite passada, depois de trabalhar até tarde. Mas cheguei às cinco e cinquenta, porque queria estar na esteira quando Thomas entrasse... se ele entrasse. Fazia mais de dois meses que não o via, desde o casamento de um amigo em comum da faculdade, e quase três semanas que não trocávamos nem mensagens pelo celular.

Escolhi uma esteira no canto, de onde podia ver a saída do vestiário e a porta de entrada, pus os fones de ouvido e liguei o aplicativo de música do iPhone no aleatório. Os primeiros cinco minutos foram difíceis. Evitar completamente qualquer atividade física talvez não tivesse sido uma boa ideia, afinal. Eu bufava e ofegava como alguém que fumava dois maços de cigarro por dia, até que a adrenalina entrou em cena e eu entrei no ritmo.

Mas entrar no ritmo não me impedia de olhar para a porta como se esperasse ver Ryan Reynolds entrar a qualquer segundo.

Às seis e dez, senti os ombros começarem a relaxar. Thomas nunca se atrasava. Diferente de mim, era obsessivo com tempo e horários. Provavelmente, não viria hoje. Talvez estivesse viajando, ou podia até ter mudado de academia, pelo que eu sabia. Mas a opção da mudança era pouco provável. Thomas não gostava de mudança. Comia a mesma torrada integral com duas colheres de sopa de pasta de amendoim orgânica às cinco e quinze todas as manhãs e chegava à academia às seis. Às sete, sentava na frente do computador e começava a escrever a cota do dia.

Com a ansiedade de esperar sua chegada se dissipando, aumentei a velocidade para nove quilômetros por hora e decidi não parar até correr uns cinco quilômetros. Era melhor que ele não tivesse aparecido e me encontrado, já que, ultimamente, eu me sentia muito estranha.

Depois de correr cinco quilômetros, fiz uma caminhada de dez minutos para desacelerar e desliguei a máquina. Não tinha levado roupa para tomar banho, mas precisava ir pegar minha bolsa no vestiário e passar no banheiro antes de ir para casa me arrumar para trabalhar. Eu estava na metade do caminho para o vestiário quando a porta da academia se abriu e duas pessoas entraram. Thomas era a segunda pessoa. Meu coração disparou, bateu mais rápido do que tinha batido em cima da esteira. E isso foi antes de a mulher que andava na frente dele virar para trás e rir de alguma coisa que ele disse.

Eles chegaram juntos.

Fiquei parada no lugar por uns dois segundos, antes de Thomas levantar a cabeça e me ver. Eu devia parecer um veado hipnotizado pelos faróis do caminhão que ia me atropelar. Ele falou alguma coisa para a mulher, e ela olhou para mim, franziu a testa e seguiu para a fileira de elípticos.

Thomas deu alguns passos hesitantes na minha direção.

— Oi. Como vai? Não esperava te ver aqui.

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