As peças que faltavam no quebra-cabeça

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Point of view Clarke



Eu a abracei com força.

Seus ombros tremeram por tanto tempo que eu soube que tinha que me preparar para o som ensurdecedor, dilacerante, avassalador, quando ela ecoasse. Não imaginava o que poderia causar tanta dor. Mas sabia que queria amenizar um pouco dessa dor para ela.

Massageei suas costas, afaguei o cabelo, disse palavras ternas prometendo que tudo ia ficar bem. Essa dor, qualquer que fosse, tinha sido construída por muito tempo. Não era nova, não era do tipo que acontece quando se perde alguém inesperadamente ou quando se descobre de repente que a pessoa que você pensava conhecer não era aquela por quem você se apaixonou. A dor que emanava de Alexandra era do tipo acumulada durante anos, guardada, como um vulcão que entra em erupção depois de passar cem anos adormecido, e cospe fogo e lava a cem metros de altura.

Comecei a chorar com ela, embora não tivesse a menor ideia de por que ela chorava. Era emoção demais para testemunhar sem me envolver. Ficamos abraçadas por muito tempo.

— Vai ficar tudo bem — eu murmurava. — Vai ficar tudo bem.

Finalmente os tremores começaram a perder força. Eu não sabia se era porque eu a havia confortado ou porque Lexa não tinha mais lágrimas para chorar. Alexandra respirou fundo algumas vezes, e aos poucos foi me soltando.

Seu rosto tinha ficado escondido em meu pescoço. Eu queria olhar para ela, mas temia me afastar, ver a dor em seus olhos e desmoronar de novo, mesmo que ela estivesse bem.

Quando voltamos a respirar normalmente e nenhuma das duas chorava mais, tossi para limpar a garganta.

— Quer beber alguma coisa? Uma água, ou outra coisa?

Alexandra balançou a cabeça, mantendo-a baixa para eu não poder vê-la, mas uma das mãos tocou meu rosto.

Ela pressionou a palma em minha bochecha e sussurrou:

— Obrigada.

— Por nada. — Sorri triste, tirando a mão dela do meu rosto e levando-a aos lábios. — Disponha.

Ela levantou a cabeça e apoiou a testa na minha. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, mas o meio sorriso que Lexa conseguiu compor era real.

— Obrigado pela oferta. Mas espero que essa tenha sido a primeira e última vez que você viu isso.

Ela já estava falando como Alexandra.

— Quer conversar sobre isso?

— Ainda não.

— Tudo bem. Sabe onde me encontrar, se quiser.

Mais um sorriso triste.

— No Texas?

Comecei a rir.

— Caramba, que recuperação rápida. E eu achando que ia ser legal comigo, depois de eu ter sido tão legal com você. Devia ter imaginado.

Alexandra me levantou e me surpreendeu ao me colocar em cima da cama, perto da cabeceira. Depois deitou em cima de mim.

— Está dizendo que te devo uma?

Assenti com um sorriso largo.

— Talvez mais que uma.

Lexa  riu.

— Então, acho melhor começar a pagar já.

Seu rosto voltou ao meu pescoço, mas desta vez não chorava. Estávamos enroscadas uma na outra. Há menos de dez minutos, éramos dois desastres emocionais, e agora aqueles sentimentos se transformavam em desejo e necessidade.

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