Mas você não consegue mentir para si mesma, não é?

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Point of view Alexandra

Não era ela.


Guardei o celular no bolso e tentei fingir que não estava decepcionada ao ver a mensagem de um amigo perguntando se eu queria sair hoje à noite para beber alguma coisa.

Mas você não consegue mentir para si mesma, não é?

Naquela tarde, quando voltei de Los Angeles e fui para o escritório, Clarke já tinha ido para casa. Na quinta-feira, tive uma reunião fora do escritório de manhã e, quando cheguei, ela já havia saído novamente. Ontari disse que tinha surgido um compromisso de última hora.

E, na sexta-feira, vi o Audi idêntico ao meu saindo de uma vaga na frente do prédio da empresa às dez para as sete da manhã, e decidi mandar uma mensagem para ela. Várias horas mais tarde, ela mandou uma resposta curta dizendo que tinha chegado cedo para pegar umas pastas e ia trabalhar em casa.

Não era incomum que a equipe trabalhasse em casa um ou dois dias por semana. Tínhamos horários flexíveis e nenhuma obrigatoriedade de presença. Mas Clarke nunca tinha tirado proveito dessa liberdade, e eu estava começando a sentir que ela podia estar me evitando.

Na sexta-feira à tarde, isso estava me devorando por dentro, então mandei outra mensagem perguntando se ela queria sair e beber alguma coisa. Clarke não respondeu.

Agora era tarde de sábado, e eu pegava o celular como uma colegial cada vez que ele vibrava.

Vi Aden consultar o preço na sola de um tênis que ele estava olhando e devolvê-lo à prateleira.

- Gostou? - perguntei.

- Sim. - Ele deu de ombros. - É legal.

- Por que não experimenta? Vai precisar de tênis novos para a viagem à Disney, em algumas semanas.

- É muito caro.

- Vai pagar pelos tênis?

- Não.

- Então, por que está olhando os preços? - Peguei os tênis e acenei para um funcionário com o uniforme da Foot Locker, um garoto que não devia ser muito mais velho que Aden. - Pode trazer esse modelo no número quarenta e um?

- É claro.

- Só um minuto - disse ao rapaz. - Gostou de mais alguma coisa, parceiro?

Aden não respondeu.

- Aden?

Nada. Segui a direção do olhar dele para ver o que prendia sua atenção. Ri baixinho e falei para o garoto que nos atendia: - Só esse por enquanto, por favor.

A loirinha bonita de quem Aden não conseguia desviar os olhos levantou a cabeça e o pegou olhando para ela. Meio agitada, ela acenou sem jeito e olhou para o outro lado, para a parede de calçados em uma das laterais da loja.

Abaixei para chegar mais perto de Aden e sussurrei:

- Ela é bonitinha.

- É a Amélia Archer.

- Gosta dela?

- Todo mundo no sexto ano gosta dela.

- Não ia mudar de estratégia e gostar só das feias?

- Ela é bonita e legal. Mas não quer saber de menino nenhum.

- Bom, vocês têm só doze anos. As pessoas começam a prestar atenção umas nas outras em momentos diferentes. Talvez ainda não tenha chegado a hora dela.

- Não, não é isso. Há um mês, ela falou para o Anthony Arjnow que gostava do Matt Sanders, e Anthony espalhou várias fofocas sobre ela. Ele fez isso porque também gostava dela. Agora ela não fala mais com nenhum dos meninos.

As alegrias do início da adolescência.

- Ela vai superar. Por que não vai dar um "oi'? Mostre os tênis que vai experimentar, pergunte se ela gosta.

- Acha que devo ir?

Peguei o par de tênis da prateleira de novo e dei a ele.

- Com toda certeza. Você precisa tomar a iniciativa. As melhores não ficam sozinhas por muito tempo. Seja amigo dela. Provavelmente, ela precisa ver que nem todos os meninos são babacas. - Sorri. - Bom, muitas vezes eles são, mas você não precisa ser assim.

Aden pegou os tênis da minha mão e pensou um pouco. Tive um momento de tia orgulhosa quando ele respirou fundo e foi até lá. Vi como o constrangimento inicial da aproximação desapareceu e ele relaxou um pouco. Um ou dois minutos depois, ela ria.

Ele voltou com um sorriso de orelha a orelha.

- Ela é muito legal.

- Parece que ela gostou de você ter ido lá conversar.

Aden deu de ombros.

- Talvez. As garotas são confusas.

Esse menino era muito mais esperto do que eu tinha sido na idade dele. Achava que tinha compreendido todas elas, até fazer dezoito anos e perceber que não sabia nada.

Assenti.

- É verdade, são mesmo.

Aden acabou se decidindo pelo Nike de cem dólares. E também compramos algumas camisetas e material de artes, que ele contou que a avó se recusava a comprar por achar que a escola tinha que fornecer essas coisas, e depois ele pediu gel para cabelo e um desodorante Axe.

Gel para cabelo e Axe. Definitivamente, Aden tinha descoberto as garotas.

- Está esperando algum telefonema? - ele me perguntou quando andávamos pelo estacionamento do shopping a caminho do carro.

Olhei para o celular em minha mão.

- Não. Por quê?

- Porque não para de olhar o telefone.

Enfiei o aparelho no bolso.

- Nem percebi.

O merdinha riu.

- Está esperando uma garota ligar para você.

Foi difícil conter o sorriso. Apertei o botão no chaveiro para destravar a porta do carro e falei:

- Entra no carro, Casanova.

- Quem?

- Entra.

Meu celular vibrou justamente quando parei na frente da casa do Aden. Sem pensar, tirei o telefone do bolso para ver quem era. Aden deve ter lido minha expressão.

- É claro que está esperando a mensagem de alguma garota. - Ele ria.
Era inútil mentir.

- É. Desculpa se estive distraída.

Ele deu de ombros.

- Por que não liga para ela?

- É complicado, amigão.

Aden pegou as sacolas no banco de trás e abriu a porta. No ano anterior, ele disse para eu parar de levá-lo até a porta de casa, e agora eu só esperava no carro até ter certeza de que ele tinha entrado em segurança.

Ele saiu do carro e enfiou a cabeça de volta na fresta da porta, mantendo uma das mãos em cima dela.

- Tem que tomar a iniciativa, Lexa. As melhores não ficam sozinhas por muito tempo.

O merdinha agora me fazia engolir o que eu mesma havia falado.

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