Capítulo 55 Sombras perigosas

530 67 14
                                    

Então eu corria, corria para muito longe.
Será que um dia conseguiria fugir do mundo?
Ir para um lugar onde pertenço de verdade ou apenas correr e correr até encontrar um lugar macio para cair?

Porque era assim que me sentia... caindo, caindo, caindo!

Eu não estava em casa... aqui não é meu lar, não assim.

Minhas mãos estavam sujas de sangue, não era meu, eram de pessoas inocentes.

Oh, dama da morte.

Acordei talvez pela terceira vez, estava medicada o suficiente para terem certeza que não pularia da cama e fugisse para encontrar meu irmão ou simplesmente gritar com o mundo.

Joseph matou a Pem... não... errado!
Eu! Eu, matei a Pem!

E todos sabem disso, meu irmão sabe perfeitamente sobre isso e me rejeita por isso...

Eu mesma me rejeitaria!

Sim, como o sonho, eu queria mesmo fugir, fugir de tudo, do mundo. Mas não importa onde fosse, tudo de ruim me seguiria, porque sou a maldita princesa da Inglaterra.

Pessoas morreram por mim e isso é o mesmo que eu matá-las. Sou mesmo uma genocida?

Talvez.

E isso me consumia tanto, me quebrava, perfurava, sufocava.

Era consumida por sombras perigosas.

Pem estava morta, e não importa o tanto que berrasse, chorasse e implorasse, ela não voltaria. Está morta e isso é um fato. Ela morreu por minha única culpa e isso é mais um fato irrevogável.

Tinham enfermeiras no meu quarto, contei cinco, uma sexta estava vindo em minha direção com uma agulha em mãos. Preparada.

- Não se aproxime! - rosnei lentamente em quase um sussurro - Não ouse me envenenar novamente!

- Alteza, por favor não diga isso! Isso é um medicamento para acalma-lá.

- Por um acaso eu pareço raivosa dessa vez?

Ela me observou calada antes de responder.

- Não, Alteza. Não dessa vez...

- Exato! Não estou berrando ou me debatendo para fugir de vocês e do meu repouso por aquela porta e não vou fazer de novo se prometer não enfiar esse troço em mim! - falei sem pausas ou gentileza, respirei fundo - Pois bem, eu prometo me comportar.

- Por favor Alteza, precisa se curar, não podemos arriscar perde-lá por não cuidar da senhorita.

- Não se preocupem mais, vou me comportar, não vou mais tentar fugir para procurar meu irmão... - lágrimas vieram em meus olhos mais uma vez.

Procurar um perdão quase impossível, palavras tem poder até certo ponto, não importava o que falasse, Pem jamais voltaria.

Nem mesmo uma ordem da princesa da Inglaterra faria algo a respeito...

- Meus sentimentos Alteza...

Balancei minha cabeça...

- Porque tem que ser assim? - não era uma pergunta para ser respondida, apenas refletida.

Ficamos em silêncio, ela respeitava minha dor e eu respeitava a dela, seus olhos sofriam assim como eu, sei como estava destruída por dentro. Pessoas queridas para ela também se foram... e eu sou o reflexo dessa dor. E ainda sim, cuidam de mim, ao invés de gritar, brigar, me machucar ou maltratar. Simplesmente cuidam.

Vida Real (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora