Capítulo 56 Não digam adeus

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Depois de não sei quantos copos minhas lágrimas e da Celeste encheriam, tivemos que estar prontas para nos encontrar com os outros na mesa de almoço, depois de tudo não sei como sentiam fome, acho que se eu comesse mesmo que fosse uma colher com mínimo de comida dela, já vomitaria.

Era impossível não lembrar de todos aqueles corpos no chão, com já algumas moscas em seus olhos abertos e sem vida. O sangue grudento e viscoso debaixo de nossos pés e cheiro forte de ferrugem. Mais uma vez senti meu estômago se revirar mesmo com ele vazio. Sorte que não era possível vomitar soro ou eu o faria, e sobre dormir tranquilamente nesses últimos dias, consegui graças aos remédios para dormir que me mantinha em um sono onde a única coisa que via ou sonhava era completamente escuridão inconsciente. Felizmente nada de pesadelos de montanhas de corpos ou me afogando em sangue e enxofre. Senti minha pele se arrepiar com as imagens e sentindo mais uma ânsia de vomitar.

- Estou sem fome. - falei.

- Impossível, você não come uma comida de verdade a muito tempo. Tente comer alguma coisa, pães ou frutas, sabe que se não tiver sopa você pode pedir, ou se quiser faço aquele creme delicioso de batata que minha mãe faz!

- O creme da sua mãe é bom, não o seu. - falei e não pude deixar de esboçar mesmo que fosse um meio sorriso e ela me acompanhou.

- Ela vai fazer falta. - sua voz saiu como um sussurro ao segurar o choro mais uma vez assim como a mim, mas pude continuar escutar suas voz amarga - Mas tenho certeza que ela está em um lugar bom e está feliz e muito bem!

Concordei com a cabeça.

Respiramos fundo mais uma vez antes de adentrar as grandes portas duplas de madeira.

Meus pais, Edward e Alex estavam ali. Provavelmente o Rei e Robert estariam no hospital esperando o Aspen reagir. Phill perdeu a esposa a três dias bem na sua frente e agora teme perder o filho, o único filho. E eu temo junto dele de perder meu marido, meu Aspen.

Fico falando que serei e precisarei ser forte pela Ellara, mas se realmente o Aspen me faltar, não sei como me levantarei de uma queda como essa, não sei de onde acharei forças para suportar ou seguir em frente. Quando me casei com o Aspen, sabia que teria que lidar com muitas coisas, teria que ser mais responsável e me preparar para lidar com muitas coisas, mas nunca imaginei nada disso, tantos ataques, assassinatos e mortes de pessoas que amamos, e com certeza sei que Aspen e até mesmo Phillipe nunca pensariam em passar por algo semelhante ao que passamos, mesmo que seus antepassados medievais passavam e sofriam muitas conspirações e certamente conspiravam contra outros, reinados cruéis e agora que é governado por pessoas boas, essas pessoas boas ainda pagam pelos pecados antigos, mas na verdade não é bem assim como eu gostaria de pensar que fosse. Eu sou a culpada, sou a maldição e armadilha, sou a loba em pele de carneiro. Se não fosse por mim, minha família e os meus amigos não teriam vindo, se não fosse por mim eles não teriam recebido o convide da festa em comemoração a vinda de Ellara que por acidente veio no mesmo dia da festa, no momento mais improvável, no meio de uma guerra violenta e sangrenta. A noite tenebrosa, noite que muitas vidas se foram e mais uma vida de uma coisinha pequena e indefesa surgiu. Isso me fez lembrar do meu irmão que estava comigo naquele dia, se não fosse por ele não sei o que teria acontecido, provavelmente estarei com mais medo ainda, principalmente por presenciar aquela guerra e não saber mais o que acontecia enquanto estávamos ausentes, mas estando naquele noite com meu irmão trazia um pouco de tranquilidade, ele ajudou a trazer a criatura mais preciosa para mim nesse mundo. E a força que ainda não sabia de onde tiraria caso Aspen não voltasse para casa, desconfio que seria dela. Minha Ellara.

Mas Aspen voltaria para casa, precisa voltar.

Mas ainda sim tinha medo e odiava admitir que não tinha confiança ou certeza sobre nada além do meu grande querer.

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