Storme

Capítulo Vinte e Um

Melissa Fleck

Cada prato do cardápio daquele restaurante chique deveria custar muito mais do que já pensara em gastar com comida, Melissa pensou, da mesa do canto distante, observando ao redor. Tudo naquele ambiente ordenava chiqueza e conforto, dando a clara visão de somente atender pessoas de alta classe. Padrões fora de alcance.

Sentado à sua frente, Dereck parecia fazer parte daquele grupo. A calça social e a camisa, ambos preto, pareciam ter sido feitos sob medida para seu corpo musculoso e definido. Seu relógio prata parecia custar em média o preço de um apartamento de classe média no Brasil. Seus cabelos estavam amassados e bagunçados, como sempre. Nos últimos dias, sua barba havia crescido um pouco - o que era uma merda para qualquer mulher que o visse por que o homem havia ficado consideravelmente ainda mais sensual - se era possível.

Não sabia exatamente o que, mas havia algo em sua presença que chamava atenção como fogos de artifícios no ano novo. Melissa tentou não se encolher quando entraram no restaurante e praticamente quase todas as cabeças viraram-se para olha-los. Ela não podia negar que com aquele vestido de seda e seu rabo de cavalo arrumado, ela parecia incrivelmente elegante. E lado a lado pareciam formar uma dupla e tanto. Entretanto, era constrangedor. Não tão constrangedor do que os caras de terno os seguindo a todo lugar como se fossem um casal importante.

— Então, por que você tem seguranças? — Era a pergunta que havia ficado martelando em sua cabeça durante todo o dia.

Dereck olhou-a por demorados segundos. Talvez decidindo se valia a pena responder ou não. Melissa havia o poupado de fazer as perguntas que ficavam martelando em sua cabeça porque, no fim, nem mesmo sabia se queria saber as respostas. Estava tentando aproveitar o máximo a viagem. E Dereck. Não ia deixar as dúvidas e o medo ficarem a impedindo de se divertir e ter um bom momento ao lado dele. Dereck a fazia se sentir bem e a tratava bem, e aquilo era tudo o que importava.

— Eu estava esperando você fazer essa pergunta antes. — Sorriu. — Eu sou muito mais rico do que você imagina.

Aquilo não era nem de longe uma confissão. Não precisa nem mesmo de uma pergunta para descobrir que o homem sentado a sua frente acumulava uma fortuna tão gigantesca que Melissa desconfiava que poderia nunca mais trabalhar na vida e ostentar pelo resto dela. Muito além da vida.

— Eu achei que o Lamborghini havia deixado um pouco claro. — Revirou os olhos.

— Não chega nem perto, bebê. Minha família tem um sobrenome importante em Londres. — Levantou a taça de vinho de encontro com seus lábios.

Melissa franziu a testa quando não continuou com a explicação, somente fixou seus olhos nela. Bem, não era nenhuma novidade que Dereck era podre de rico e importante. Seu nome não sairia em um site de fofoca caso fosse diferente. Entretanto, eram bastante homens para fazer a segurança de uma pessoa só. Melissa escolheu não se prender naquela linha de raciocínio. Não era mesmo da sua conta se Dereck precisava andar com cinco seguranças. Se tinha tanto dinheiro acumulado que precisava de escolta para se sentir seguro. Não deveria nem mesmo estar pensando naquele assunto. Cada um fazia o que queria de sua vida, certo?!

— Seu pai é um empresário importante no Brasil também. Ele tem uma marca de nome. — Dereck respondeu, enfim, depois de alguns segundos em silencio.

— Seu cara da informação andou pesquisando errado ou temos definições diferentes de empresário importante. — Melissa sorriu.

Mark era um empresário inteligente e um ser humano racional aos olhos de qualquer pessoa que olhasse de fora. Entretanto, acreditava que Dereck estava sendo educado em suas palavras. No mundo dos negócios, qualquer empresário conseguiria ver quando um outro estava blefando e com um pé na falência. Se não fosse por sua mãe, talvez seu pai nem mesmo tivesse uma empresa. Melissa nem conseguia mais contar quantas vezes ela havia precisado ir busca-lo no bingo clandestino quando já era altas horas da madrugada. O que uma boa advogada como Heloisa estava fazendo com um viciado em aposta era uma incógnita. Entretanto, talvez ela fosse o equilíbrio para que ele não se afundasse completamente.