Capítulo Vinte e Oito

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Melissa Fleck

Embora esteja em setembro e Boston estivesse com um mínimo sol dando as boas-vindas, e se escondendo timidamente por trás das nuvens, ainda assim parecia inverno. Melissa ficara ansiosa por um época em que não precisaria usar casacos ou sapatos fechado. Entretanto, tão rápido quanto o dia quente apareceu, também desapareceu. Na quarta-feira, quando sairá da aula para a cafeteria da esquina da universidade, se contentou em usar somente uma jaqueta jeans overside por cima da calça jeans preta e blusa básica. Os moradores permanentes de Boston não faziam a menor ideia do que era calor e dias quentes de verdade.

De repente – sem grandes surpresas – sua mente fora preenchidas com lembranças de quando saia da aula direito para a praia do Leblon. Onde poderia aproveitar a tarde tomando sol com Malu ou passando vergonha enquanto Caio a ensinava a surfar. Alguns outros dias, somente ficam sentados, os quatro, enquanto contemplavam a cidade que haviam crescido. E era aqueles momentos que ficavam eternizados em sua memória, também era aquele momento que a deixava com uma vontade absurda de voltar para a casa.

Em Boston, entretanto, ainda que o dia estivesse quente o suficiente para ir à praia, não poderia. Não só porque, no momento, se sentia sozinha. Também havia a faculdade e bem, Harvard estava lhe comendo viva. Estava se tornando uma daquelas pessoas que deixavam o acúmulo de trabalhos e estudos para provas afetarem em seu humor. Naquela quarta-feira, por exemplo, já havia chorado muito mais do que a vida toda. Ela estava estressada pra caralho. Sobrecarregada então era um eufemismo.

Não queria dizer que o fato de Dereck não estar tão presente a distância como na semana passada estava ajudando a deixa-la com o começo de uma enxaqueca, porque, para falar a verdade, ela se recusava a ser o tipo de garota neurótica e obsessiva que a cada segundo conferia o celular e pulava a cada notificação.

Dereck estava estranhamente calado desde que voltara para Londres, na madrugada de segunda. Já era quarta-feira e suas duas mensagens trocadas, começava e terminava com "Eu estou enrolado com algumas coisas. Falo com você depois". E ele nunca falava depois. Até Melissa enviar outra mensagem. Ao menos, ela tinha orgulho e dignidade o suficiente para não enviar nada nas últimas doze horas, mesmo que a ansiedade estivesse se arrastando por sua pele como uma serpente venenosa.

Ela não havia feito nada de errado, mesmo que tivesse repetido todo o final de semana em sua mente como se estivesse tentando encontrar onde fora que pudesse ter feito Dereck recuar. Bem, não poderia ter sido nada com ela mesmo, já que ele tinha outras coisas em mente para se preocupar, como seu irmão ter sequestrado a enteada do prefeito de Nova York. Aquilo parecia ter sido algo que poderia se tornar uma bomba, embora Melissa não fizesse a menor noção. E nem queria.

Tinha seus próprios problemas para resolver. Como em seu professor que inventou um trabalho relâmpago de um texto sobre administração e sobre a evolução desde o século XX. Historia no meio de seu curso de administração. Assustador porque havia sido somente naquele período de seu curso que Melissa se dera conta de que odiava estudar aquele curso. Talvez, somente talvez, Malu tivesse razão em duvidar da escolha de sua melhor amiga, porque no momento, Melissa estava duvidando também. Suspirando, tentou respirar fundo quando sentiu o pânico a atingir novamente. O que ela ia fazer com um curso de administração? Assumir a empresa quase falida de seu pai? Não, criar sua própria empresa, sua burra. A vozinha no fundo de sua mente gritou, lhe dando um sacudo mentalmente. Sim, era por causa daquilo que havia escolhido aquele curso. Então, por que parecia tão errado? Porque parecia que estava perdendo seu precioso tempo com aquela baboseira toda?

Um gosto metálico atingiu seu paladar quando notou, tarde demais, que estava mordendo o lábio inferior com força o suficiente para machucar. Merda. Era o ataque de pânico dando suas caras novamente. Sua terapeuta do ensino médio falava que amor-próprio não era somente baseado em relacionamento ou quando envolvia outras pessoas, mas que amor-próprio também era uma forma de ser gentil consigo mesma. Que deveria conhecer seus limites e aceitar eles, não os ultrapassando. Não se crucificar com suas notas do colégio – que sempre foram excelentes, que ela era inteligente da sua forma, e que estava tudo bem se sentir sobrecarregada em algum momento da vida. Entretanto, ela estava longe de casa, e agora, além de estar se sentindo sobrecarregada, estava se sentindo completamente sozinha em outro país e também não estava nada bem. Amar a si mesma não era tão difícil depois que aprendera a conhecer seus limites e não os ultrapassar, mas agora, ser gentil consigo mesma e dar um basta na critica interior, parecia uma missão impossível.

StormeOnde histórias criam vida. Descubra agora