Capítulo Cinco

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Dereck Storme

Londres estava gelada e chuvosa - não muito diferente de Boston - quando Dereck desceu do avião. Ele dispensou com a mão enquanto uma aeromoça corria para lhe alcançar com um guarda-chuva aberto enquanto seguia em direção ao carro, estacionado a poucos metros de distância do avião. Um pouco de chuva não o mataria, ao contrário, poderia o ajudar a afastar o sono que estava impregnado em seu corpo. Ele estava cansado pra caralho e embora, seu corpo estivesse apanhando sem parar, era o seu cérebro que estava levando a pior. E certeza que as seis horas de voo não havia ajudado em seu humor horrendo. Ele precisava urgentemente liberar a sua raiva. Felizmente, já estava em Londres - onde havia aquela possibilidade de colocar a fúria que lhe consumia para fora e ter o controle sobre o que acontecia ao seu redor.

Dereck seguiu seu caminho para o lado do passageiro da Mercedes preta que lhe esperava enquanto Enzo assumia seu lugar na parte traseira do automóvel. Roman já parecia a posto do lado do motorista, embora tivesse vindo no mesmo voo. Entretanto, Roman era aquele tipo de soldado que nunca saia de sua postura profissional. Nem mesmo quando estavam sozinhos e ele poderia ser somente o seu amigo, que lhe conhecia bem até demais, e o único em quem confiava. Algumas vezes, aquilo irritava Dereck. Entretanto, para falar a verdade, eram poucas as coisas que não o irritava.

— Você sabe que Noah não vai vir, não é? — Enzo quebrou o silencio depois de alguns minutos - com seu papo insuportável de irmão implicante - enquanto Roman dirigia para fora do aeroporto para as ruas movimentadas. — Você deveria tê-lo o enfiado num avião a força.

Dereck não deu atenção alguma ao assunto. Sabia que Noah era irresponsável, mas não era burro ao ponto de ignorar a ordem direta do Don da máfia. Mesmo contra a sua vontade, ele voltaria para Londres. Até porque já havia passado da hora de Noah parar de bancar o irresponsável. Não permaneceria por muito tempo em Boston curtindo a vida boa e se isentando de qualquer responsabilidade com a máfia.

— E você deveria parar de bancar o irmão ciumento. Isso já está ficando chato.

— E você sabe que está sendo tão irresponsável quanto ele, não sabe?

Dereck suspirou, mas não respondeu, começando a se irritar. Aquele assunto poderia não estar prendendo a sua atenção como deveria, mas Enzo, com toda aquela implicância, já estava começando a irrita-lo profundamente. Contudo, ele tinha um ponto importante ali. Assim como Dereck, ele havia sido obrigado a tomar partido de suas funções dentro da máfia desde sempre e havia sido treinado rigorosamente como herdeiro legitimo daquela merda toda, enquanto Noah, como filho mais novo, sempre havia sido o protegido, mimado e quem sempre poderá tomar suas próprias decisões sem se preocupar com a máfia.

Pelo menos, Enzo era inteligente o suficiente para não insistir no assunto quando sabia que estava começando a irrita-lo. Ele ficou alguns segundos em silencio e depois trocou de assunto - porque ele nunca conseguia ficar muito tempo em silencio -:

— Você tem um almoço com os aliados para falar sobre as alianças de Boston. Você quer um tempo para descansar antes de ir para o treinamento dos novos soldados?

Dereck ergueu o pulso, conferindo as horas. Nove horas da manhã. Ele não havia nem mesmo passado em sua cobertura e já teria uma agenda cheia, sem um minuto de paz. Embora soubesse que poucos tempos livres que conseguia, usava para ficar em casa. E de tempos livres, significava menos de uma hora. Entretanto, a promessa havia sido definitiva, nem que sobrasse somente dez minutos do seu tempo, iria visita-lo todos os dias, sempre que não estivesse viajando. E mesmo que o mundo estivesse desabando. Bem, por enquanto, o mundo não estava desabando, mas seu corpo quase estava. Sentia como se cada parte de seu corpo tivesse perdido uma guerra, ou talvez até três, entretanto, a promessa de um don da máfia não poderia ser descumprida nunca. E nem mesmo se quisesse, realmente faria. Aquele garoto havia se tornado a única parte boa em sua vida de merda.

StormeOnde histórias criam vida. Descubra agora