Capítulo Dez

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Dereck Storme

O tempo em Londres havia amanhecido frio e gelado e com uma chuva fraca de final de agosto. Dereck gostava do inverno e detestava o verão - mesmo que o verão de Londres não se qualificasse em um calor infernal como fazia em outros países. Quando era mais novo, costumava julgar em dizer que simpatizava tanto com inverno porque a temperatura gelada e triste lembrava o seu coração, entretanto, agora, depois de conhecer tanta gente tão perturbada quanto ele, sabia que era um julgamento imaturo. E idiota.

Seu avó, era o mais podre de todos os homens da máfia e mesmo assim vivia viajando para o Havaí, Bali, Austrália e outros lugares que fazia calor - porque amava o verão - e sempre com uma criança menor de idade ao lado. E quando voltava, era capaz de espancar a mulher somente por falar uma palavra de afeto. O velho havia sido o pior dos chefes da máfia. Forçando casamentos por conveniência, vendo de camarote o quão podre uma máfia poderia ser, roubando crianças de seus lares amorosos e vendendo para famílias que queriam e podiam pagar uma fortuna, incentivando seus soldados a estuprarem garotas inocentes por vinganças, e outras coisas absurdas e cruéis que desde a liderança de Louis Storme não existia mais. E havia sido uma sorte que algumas regras já haviam mudado quando Dereck assumiu o controle. Caso contrário, iria se incomodar para conseguir muda-las. Não que fugisse de uma boa briga. Não, até porque sempre vencia no final. Entretanto, Louis era bem melhor enfrentando o velho Efraim que ele - que sempre que podia evitava-o. contudo, não fazia tanto diferença agora, a cova do homem já estava cavada, só esperando-o bater as botas por vontade própria, com quase noventa anos e uma carralhada de inimigos pelo mundo todo era um milagre estar vivo. O ditado "vaso ruim não quebra" nunca fez tanto sentido.

Olhando através dos vidros da janela da sala de reunião, para o seu cinza e limpo, sua mente foi tomada com pensamentos de que se com a criação de Louis - que havia sido amável dentro da medida do possível - seus homens já o consideravam a imitação do diabo. Imaginou que na época de seu avó, então, era considerado o próprio diabo. Alguns o chamavam de satã. Outros evitavam o chamar por medo.

Dereck tomou um gole de seu café - já morno em cima da mesa - enquanto a voz de sua gerente de marketing rodava ao fundo de sua mente. Bem certeira, Elena era a melhor do marketing de, possivelmente, o mundo todo. Ambiciosa, com toda a certeza, bonita. E inteligente o suficiente para comandar uma reunião com nove homens sem deixar sua voz falhar em nenhum momento. Entretanto, Dereck já havia notado como sua voz parecia insuportavelmente doce quando estava em sua presença. Com o tempo, aprendera a diferenciar isso em outras mulheres, em como as vozes mudavam completamente na presença de algum homem que achavam interessante. Achando que, de alguma forma, aquilo pudesse torna-las atraente. Bem, não era. E para falar a verdade, uma mulher de trinta anos como Elena, ambiciosa e sensual na medida certa e com um diploma em Yale, não deveria mudar seu jeito de falar ou vestir para atrair a atenção de um homem. Mesmo que este homem seja seu chefe. Algumas vezes, enquanto conversavam, notava como seus cílios postiços piscaram docemente, enquanto usava roupas que mostravam muito bem seus atributos. Como por exemplo, a blusa branca que estava usando, com os primeiros botões abertos, e que se se curvasse direito, conseguia ver alguns poucos detalhes de seu sutiã de renda branco. Sua saia lápis preta pairava um pouco acima de seu joelho, mas a fenda deixava bastante para a imaginação. E bem, Dereck não se importava em olhar, embora nada lhe chamasse a atenção. O problema era manter o interesse.

Nunca conseguia manter um interesse. Enzo costumava dizer que seu olhar sobre as mulheres era muito crítico. Entretanto, Dereck gostava de evitar rumores que não existiam e dores de cabeças futuras. Como por exemplo os tantos golpes de barriga que Enzo sempre recebia ou nas mulheres chorando em seu encalço a todo momento. Então, levando a coisa toda para um outro lado, era bom mesmo que seu olhar fosse mesmo muito crítico.

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