23. Autumn Leaves

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#EfeitoJagi

Minah

Chung-hee me deixou pegar o que eu quisesse da loja quando quisesse, como sempre. Tintas, pincéis, blocos de folhas, telas, cavaletes, qualquer coisa. Eu entrava e saía sorrateiramente, me escondendo entre as prateleiras sem que nenhum cliente me visse com os braços cheios de materiais, e voltava arrastando os pés discretamente pela cozinha até o jardim de inverno, ficando de frente para um cavalete novinho, ou debruçada sobre a mesa que tinha arrastado do meu quarto até ali, com as mãos sujas de carvão ou de qualquer outra coisa que houvesse decidido usar no dia, desenhando e pintando até escurecer e eu precisar me levantar para acender as luzes, para então continuar a desenhar até sentir que meu corpo não estava mais aguentando, deixando a exaustão finalmente me vencer.

Chung-Chung não fazia perguntas. Provavelmente imaginava que eu não queria falar sobre nada do que havia acontecido porque ainda era doloroso demais. Mas a realidade era que eu não conseguia falar porque me sentia oca, como se houvesse um enorme buraco negro deixando meu interior preenchido por aquela sensação de vazio. Depois de ter desmoronado completamente ao voltar para o abrigo de Chung-hee, comecei a me sentir dormente, como se minhas emoções e sensações houvessem desaparecido. Não sentia fome, nem sede, nem frio, nem dor, nem alegria. Absolutamente nada.

Encarei a tela em branco à minha frente, fungando. O resfriado que vinha ameaçando aparecer há semanas havia chegado finalmente, provavelmente se aproveitando da oportunidade de me encontrar com a imunidade baixa, depois de dias sem comer uma refeição completa de verdade. Apertei o xale que pertencia à senhora Moon ao meu redor, ainda encarando a tela à minha frente, tentando decidir o que fazer.

Se havia alguma coisa boa naquele novo fundo do poço onde eu me encontrava, era que a minha imaginação estava fervilhando sem que eu sequer sentisse. Já tinha pintado dezenas de coisas com os mais diversos materiais, passando por tinta, aquarela, giz de cera, até mesmo maquiagem, e simplesmente não conseguia parar de pintar e desenhar. Acredito que uma pequena parte inconsciente da minha mente liberava minhas emoções reprimidas através daquilo. Cores claras em tons pastéis, aquarelas pálidas, ou pinturas em tintas acrílicas vibrantes e muito coloridas. Bem diferente dos tons escuros que sentia pintarem os ares ao meu redor e dentro de mim.

Não tinha ousado olhar para nenhuma foto. Não conseguia. Mas os sete lindos rostos estavam gravados à ferro quente em minha mente, e eu me lembrava de cada pequeno detalhe singular, curva, sombra e pintinha. Minhas mãos se moviam automaticamente, e eu trabalhava meticulosamente em cada um, como se fosse um enorme desrespeito que aquilo fosse feito de qualquer outra forma.

Namjoon.

Hobi.

Jin.

Jimin.

Suga.

O único problema era quando tentava desenhar Jungkook e Taehyung. Minhas mãos e minha mente travavam completamente, impedindo meus dedos de se moverem em direção à qualquer instrumento, e eu apenas passava horas e mais horas encarando alguma coisa em branco, uma tela ou um papel, sem conseguir fazer um traço sequer. Lembrava de seus rostos marcantes tão bem quanto todos os outros, mas não significava que conseguia seguir em frente. Também não fazia a menor ideia do que estava me prendendo.

Bufei, finalmente sentindo pontadas de irritação no estômago, depois de bons dias fazendo uma ótima imitação de iceberg. Era quase reconfortante sentir alguma coisa outra vez.

Olhei na direção do celular de Chung-hee, que ele deixava comigo durante todo o dia para o caso de eu querer me comunicar com alguém. Como se eu tivesse com quem falar. Ele estava sempre ocupado entre o caixa da loja, o atendimento aos seus clientes e a cozinha, fazendo chaleiras e mais chaleiras de chá, e usava o telefone fixo perto da entrada quando precisava, me ligando vez ou outra para me mandar comer ou me agasalhar melhor, o que era extremamente reconfortante, e fazia com que eu me sentisse muito culpada por preocupá-lo tanto.

Butterfly // BTS (EDIÇÃO REVISADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora