Tem algo de mágico na primavera.
Nunca fui capaz de elaborar uma explicação totalmente racional para o fato de eu adorar tanto a primavera. Quer dizer, todos adoram. O frio rigoroso do inverno finalmente vai embora, e os corações das pessoas parecem se aquecer junto com a temperatura ao redor. As cidades por todos os lugares se tornam coloridas naturalmente outra vez, e o aroma adocicado das flores está por todos os cantos. Tudo isso é visual e perceptível ao olhar (e ao olfato, eu diria), mas tem algo mais.
Na primavera, é como se portas, janelas e brechas se abrissem junto com os botões de flores. E não digo só portas e janelas como literalmente portas e janelas de casas, estabelecimentos e qualquer lugar onde se possa entrar e sair. Portas e janelas metafóricas. As flores se abrem, e com elas se abrem as entradas dos corações, almas, caixas com as respostas que antes se mantinham fechadas, porque era preciso que os corações que tinham as perguntas estivessem aquecidos e prontos para recebê-las, e isso não seria possível no inverno, quando tudo é frio e todos pensam em se esconder do frio em locais fechados, e acabam por se fechar também.
Desde garoto, sempre esperei a primavera como quem espera o Natal. Nos calendários, quando encontrava a data que marcava o início da estação das flores, pegava a caneta mais vermelha de todas e fazia tantos círculos ao redor do dia, que todas as folhas dos meses seguintes ficavam amassadas. Era assim que a primavera me deixava, também. Marcado, pelo rosto do ano, com suas lembranças e transformações, até que um novo calendário chegasse e eu esquecesse a primavera anterior e esperasse ansiosamente pela próxima.
Acho que sempre esperei tanto assim na estação porque estava, na verdade, esperando por algo. Não sou capaz de definir exatamente o quê. Talvez a aparição de uma espécie desconhecida de borboleta que não existia na Coreia do Sul até então, algo como um grande acontecimento, que me abalaria por dentro mais do que qualquer desastre natural seria capaz, e mudaria minha vida por completo. Um rebuliço, uma faísca, um incêndio, algo assim. E passei ano após ano esperando por isso de tal forma que acabei perdendo a esperança, pelo menos em parte. Acho que ela morreu um pouco a cada ano desde que me tornei mais adulto, mais consciente sobre o mundo ao meu redor, me enfiei nessa loja, e absolutamente nada aconteceu.
Mas aquela criança que sempre vai existir dentro de mim ainda continua esperando por esse grande talvez, como diria um jovem de um livro de um tal John Green, inspirado em um poema de um tal François Rabelais. Essa coisa de me aventurar em livros YA para tentar melhorar meu inglês está realmente mexendo com a minha cabeça.
O que tenho certeza é que esse tal grande talvez não vai estar na cafeteria do velho Kim, que é para onde vou agora. Fala sério, frequento aquele lugar todos os dias desde que aprendi a tomar café, e não encontrei nada além de manchas suspeitas por todos os lugares e a cara rabugenta do tal Kim me encarando toda vez que entro lá. Aquele café é pior que qualquer droga alucinógena dessa juventude de hoje em dia.
Voltando à primavera, realmente espero que desta vez ela traga algum tipo de resposta para esse puxão que estou sentindo há alguns meses, como se alguém estivesse me puxando pelo dedo mindinho em direção à algum lugar. Pensei em ir ao médico. Talvez seja algum problema nas minhas juntas ou nos meus ossos. A idade está realmente chegando. Notei alguns cabelos brancos esses dias. Não que eu me incomode. Acho que tudo é como um novo acessório, que realça certas partes do nosso corpo, como em uma pintura.
Fique com essa reflexão e faça companhia aos ajusshis que estão fazendo carimbos, caderno de couro, já que não tenho mais ninguém para quem contar meus pensamentos, nem para me fazer companhia na espera do grande talvez que continuo aguardando nessa primavera.
Lee Chung-hee
16 de maio de 2013, quinta-feira
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Passado o fim deste frio inverno
Até que a primavera venha de novo
Até que as flores floresçam de novo
Fique aí um pouco mais
Fique aí
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Continua em: Spring Day (Butterfly: Segunda Temporada)
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Butterfly // BTS (EDIÇÃO REVISADA)
Fanfikce[REPOSTANDO] Moon Minah está perdida. Depois de perder uma das pessoas mais importantes de sua vida, seu mundo é completamente abalado, mas não pode se deixar cair por muito tempo: ela precisa seguir com a vida, de alguma forma, e precisa muito de u...