Pensão da D. Marshela, 1956.

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Pensão da D. Marshela, 1956.

A pensão de D. Marshela ficava entre ruas sujas e de canto. Bêbados dormiam em bancos, artistas compartilhavam esquinas e ricos turistas andavam entre toda a confusão que vivia ali, naquela parte apagada de Paris.

Após a Segunda Guerra, muitas pessoas ainda estavam em caos profundo, mas a música e a arte era a terapia buscada por eles.

Marshela Ludovic era uma viúva rica e mão de vaca. Seus cabelos cinzentos e dentes sujos de café e nicotina, era sua marca registrada. Mas ela tinha um bom coração para pobres e prostitutas. Criada na igreja, ela só não aturava homossexualismo e orgias em seu humilde prédio de seis andares, que estava caindo aos pedaços.

Foi em uma noite de dezembro de 1955, que Marshela deu o quarto 2912, do terceiro andar para o jovem Fleamont. Ela lhe fez um aluguel barato, uma roupa de cama e comida para um mês. Genevieve pagou o aluguel de três meses adiantado para ela, deixando a velha feliz e mais soberba.

O apartamento de Fleamont era de paredes mofadas perto do teto, a parede do banheiro com infiltrações e uma cama de latão com um colchão de origem duvidosa. Ele juntou gorjetas para trocar o papel de parede, fazendo com que o local tivesse uma aparência mais agradável do que um lixão em forma de cômodo. Esfregou o chão com querosene para tirar as manchas e lixou para que apresentasse melhor.

Depois, consertou a velha cômoda de roupa que ali havia, encerou o latão da cama e bateu o colchão com uma vassoura, mostrando pulgas e ácaros que habitavam na espuma velha e carcomida. Ele queimou o resto que sobrava e com um empréstimo de Boris, comprou um colchão novo e lençóis brancos.

Depois desses reparos, o apartamento ficou razoavelmente habitável. Ainda tinha o mofo e a infiltração que já comiam o papel de parede novo, mas ele não ligava, apenas ficava lá pela manhã e uma parte da tarde. Sua vida era o Le Trous, onde sua história havia começado.

Mas, naquela sexta feira, ele tirou um dia para ficar em casa. O bar fechou antes das onze da noite, por pouco movimento. Ele lavou o local, deixando tudo pronto para o dia seguinte e antes de uma da manhã, se encontrava em sua cama, na companhia dos gatos de rua dormindo na janela de seu quarto, especialmente dois felinos imundos que Fleamont alimentava com leite e pedaços de pão e, de vez em quando, alguns pombos.

Ele usava apenas a regata branca e calças sociais pretas. Estava descalço, o chão gelado e sem forro de carpete para esquentar seus pés. O cinzeiro estava cheio e havia uma garrafa de ginger ale pela metade na mesa, ao lado da máquina de escrever e de uma pilha de papel. Na lixeira do quarto, a embalagem parda de comida já consumida.

Era o fim da manhã, e ele estava se sentindo bem. Escutava os vizinhos rindo e falando besteiras, o barulho da vassoura esfregando o chão porco do banheiro compartilhado, do qual Fleamont nunca fez muito uso. Quem lavava aquela imundisse era a própria D. Marshela, com cara de nojo pelas porcarias que os moradores faziam. Eram 12 banheiros, que ela e as filhas deixavam arrumados e lavados, porque Marshela era soberba demais para pagar uma empregada competente.

Apagando o cigarro, ele abriu uma das cartas que seu irmão o enviara. Na carta, o jovem Stan falava da vida de casados e do filho que estava para nascer. Falava que o pai, o Sr. Potter estava à procura dele, incansavelmente. Sua mãe, a matriarca Potter estava em prantos e se recusava a comer até a volta do filho.

Fleamont dobrou a carta e a jogou na cômoda, exausto. Não voltaria para Cabul, nem por toda a fortuna do mundo. Seu pai era um estúpido e falastrão, sua mãe era uma burra por se sujeitar àquele homem e suas irmãs eram peões em um jogo de poder familiar. O único que se salvou foi seu irmão mais velho, Stan. Casou-se por amor com uma palestina e viviam felizes em uma casa ao sul de Cabul.

Alabama Song | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora