Capítulo Dezenove.

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Capítulo Dezenove.

Aquela manhã após a chuva havia deixado um clima de profunda tristeza entre Draco e Harry.

Eles tomaram café da manhã separados. Draco estava no café do hotel, enquanto Harry se deliciava em uma cafeteria.

Draco passou uma parte da manhã andando entre as ruas vazias, porventura, passando na frente do Le Trous. Uns mendigos dormiam no beco entre o bar fechado e um restaurante caro.

Por minutos, Draco imaginou seu avô sentado em uma cadeira enquanto tomava um conhaque. Enquanto de fones, Draco escutava a voz de Boris Vian em Je Bouis. Viajou para 1956, e pode ver Fleamont Potter, de suspensórios e camisa branca enrolada até os punhos, servindo bebidas, enquanto as pernas desnudas de Genevieve pousavam sob as pernas de algum desconhecido. Seu avô, astuto, fumando um cigarro, enquanto cortejava Fleamont em um doce chamado.

Mas enquanto imaginava, pensava que Fleamont poderia ser Harry. E ele, ser Abraxas. Eles dançariam, comemorariam algo e por fim, vestidos como dois antigos senhores, se beijariam ao som de um jazz empolgante.

Algo despertou seu sonho. Benito Sempere estava olhando para ele.

— Americano.

— Sou britânico. — Draco tirou os fones.

— Que seja, todos são uns idiotas. — O velho cuspiu na calçada. — Achei que tivesse ido embora. Cadê o rapaz?

— Que rapaz?

— Aquele que andava com você. O baixinho de olhos cativantes.

— Ele... ele está por aí. — Draco respondeu abatido.

— Ele. — O velho tossiu. — Seu namorado?

— Ah, somos só amigos... amigos...

Benito enfiou a mão nos bolsos.

— Amigo... sabe, uma vez eu conheci uma dupla aqui em Paris. — Ele cuspiu de novo. — Eles eram amigos também. Amigos que compartilhavam a vida, os segredos e até os lençóis de cama, quando podiam.

— Harry e eu não somos assim. — Draco ficou vermelho. — Somos só dois rapazes em busca de um passado.

— Um passado, é? — O velho coçou o queixo. — O passado influencia muito o futuro.

— O quê?

— Não há futuro sem passado. Podemos até esquecer do passado, por motivos de dor, de lembranças que nos machuquem... mas o passado é a base para o futuro.

— Por que está falando essas coisas? — Draco franziu a sobrancelha.

— Porque eu sou velho, ranzinza e caduco. — Ele arrumou a boina nos cabelos brancos. — Se me der licença, jornais não se vendem sozinhos.

[...]

Claire olhava pela janela. O jardim estava florido, a chuva trouxe um pouco de cor para seus lírios, para suas roseiras e por fim, para sua maceira no quintal. Sua pele negra, marcada com a idade. Livros empilhados na mesa, onde denunciava que ela estava estudando. No celular, uma mensagem para aqueles dois desconhecidos.

Ela os esperava.

Claire gostava da sua vida: no começo, não era feliz, mas no seu quarto aniversário, as coisas começaram a melhorar. Genevieve, sua mãe, estava casando com um homem rico, que a adotou como filha. Em plena segregação racial, onde havia dores e preconceitos, ela teve um começo de infância feliz, criada em uma cidade pequena, na França. Crescendo, eles se mudaram para França onde Claire pode saber mais sobre sua vida quando bebê.

Alabama Song | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora