Noite de 1956.

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Noite de 1956.

O bar estava lotado. Uma big band fazia um tributo a Glenn Miller, falecido durante a Segunda Guerra, enquanto damas e cavalheiros dançavam avidamente. A fumaça dos cigarros e das boquilhas ocupavam o salão, assim com as bebidas e as gargalhadas.

Rita estava sentada no balcão. Com seu vestido de seda até os joelhos, seus sapatos baixos e seu chapéu e luvas, ela se deliciava com um drink feminino. Fleamont limpava os copos e servia as bebidas, preparando as bandejas para os garçons.

Genevieve estava de pernas de fora, dançando com alguns rapazes mais velhos. Bela, sua pele negra e sua mão enluvada era beijada por eles, além de sussurros picantes em francês. As cortesãs se deleitavam com as visitas inesperadas daquela noite de festejo qualquer.

Em uma mesa de jogatinas estavam um alemão, um português, um brasileiro e um mexicano. Abraxas estava de pé, perto deles. Admirando o xingamento em alemão, ou o jeito malandro do brasileiro em ser simpático e com gargalhadas, mesmo se estava perdendo.

— O que vale é a diversão, meu confrade. — Ele disse. — Viva ao Brasil! Viva ao Presidente Getúlio Vargas! Mesmo que morto, ainda vive entre nós!

Abraxas balançou a cabeça e ficou alguns minutos apenas encarando Fleamont Potter. De suspensórios e camisa enrolada até os cotovelos, o jovem trabalhava árduo, sem reclamar e sem pestanejar. Rita falava algumas besteira ao pé de seu ouvido, mas mesmo com isso, ele não errava um drink.

Sorrateiro, Fermín se aproximou dele.

— Ora amigo, tens um isqueiro?

Abraxas mexeu no bolso e achou seu isqueiro de ferro. Fermín se encostou juntamente a ele, entregando-lhe um cigarro.

— É do bom. Acredite, eu ganhei esse de um charuteiro da rica loja de departamentos.

Abraxas aceitou e acendeu. Uma tragada relaxou seus músculos e ele sorriu abertamente.

— Tens que arrumar mais desse.

— Rico não sou para bancar tal luxo. — Fermín sorriu. — O que tanto olhas no balcão? Seria Rita?

— Rita não me faz tipo... além disso, soube que de homem, não faz teu tipo.

Fermín assoprou a fumaça.

— Amigo, as damas sensatas sabem que homens não são tudo na vida. Algumas são adeptas à solidão.

— Ou a outras damas.

— Isso vem de cada mulher. Não mais, não falo do assunto. É crime ser homossexual em alguns países, ou até mesmo, em suspeita. Finado Alan Turing sabe como é. Seu país o matou. E ele salvou a nós.

— Uma tristeza. — Abraxas voltou a fumar. — O que sabe sobre Fleamont?

— O que deseja saber?

— Tudo.

— Tudo é muita coisa, não acha?

— Apenas um curioso sobre como é um imigrante ilegal de Cabul.

— Ele veio legalmente, meu caro amigo. Ilegalmente foi o ato que ele fez para sair de Cabul.

— O que ele fez?

— Abandonou uma noiva em pleno casamento, brigou com a família e deixou a religião. Saiu fugido de casa, com ajuda de alguns amigos. Quando chegou aqui, Genevieve disse que ele roubava de lixeiras de restaurantes para sobreviver.

Abraxas assoprou a fumaça e olhou mais uma vez para Fleamont.

— Uma pena.

— Ele é bonito, não é?

Alabama Song | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora