Capítulo Dez.
— A gente a chamava de Tita. Rita era a mais nova de todas as três. Éramos Amélie, Anelise, Tamara e Rita. Ela era a mais nova do quarteto. Meu pai tinha tanto orgulho dela, que era a favorita da família. Eu era a segunda mais velha.
Amélie se sentou na poltrona, enquanto os três jovens à sua frente olhavam para ela. Amélie entregou um velho álbum de fotos para eles. Na capa, uma foto de uma criança de cabelos castanhos em preto e branco.
— Rita era aventureira. Meu pai nunca teve um menino, mas Rita veio para compensar esse lado faltoso na vida dele. Ela usava vestidinhos brancos que ficavam encardidos rapidamente, de tanta lama e terra que ela brincava e juntava. Mal ficava mais do que cinco minutos arrumada, sempre correndo, arrumando encrenca com vizinhos e roubando guloseimas das festas da igreja. Quando ela tinha dez anos, eu tinha dezesseis e ela só obedecia a mim. As outras tentavam, mas sempre falhavam. No casamento de Anelise, ela aprontou tanto que meu pai jurou colocá-la em um convento.
— E colocou? — Harry pegou um biscoito da travessa. Amélie sorriu para ele.
— Ela fugiu dele em menos de um mês. Improvisou uma corda de lençóis e hábitos roubados da lavanderia.
Isso fez Hermione rir. A senhora olhou para a neta.
— Hermione me lembra ela. O jeito e os olhos. Rita era dessa maneira. Até mesmo, algumas partes...
— Me diga. — Draco foi sincero. — O que aconteceu?
Amélie suspirou. Pegando o álbum das mãos dos jovens, levou para as suas, e parou em uma página.
— Ela tinha dezessete anos quando começou a se encantar por moças. Mas acho que isso vem muito antes. Enquanto nós sonhávamos com Clark Gable, ou com James Dean, Rita gostava de Greta Garbo ou de Paulette Goddard. Nunca a vimos comentar sobre os rapazes da rua, mas ela sabia até o número do sutiã da nossa vizinha de porta. Nessa época, morávamos em Londres, em uma rua barulhenta com bar de jazz para todos os lados. Meu pai nunca permitiu que tivéssemos contato com músicos, dançarinos e prostitutas... mas Rita nunca o escutou.
— Me lembro quando descobrimos que ela estava usando roupas masculinas para entrar nos locais. Ela mudava seu nome para Clark e escondia o cabelo debaixo de um chapéu. Dançava com as damas e só Deus sabe o que elas faziam depois. Quando meu pai descobriu, a esbofetou.
— O que houve depois? — Hermione perguntou.
— Ela fugiu com um comboio de músicos que estavam indo para Paris, com um músico chamado Jonh Coltrane. Lá, ela fez amizade com um rapaz chamado Fermín. O rapaz fugia dos Estados Unidos, da violência e do preconceito que haviam lá. Eu me lembro da noite que ela fugiu: usava roupas masculinas, com uma mala cheia de roupas femininas. Tinha desejo de cortar o cabelo curto feito homem, mas ao mesmo tempo, tinha lindos cabelos castanhos e longos... Combinavam com seus olhos tambem castanhos e sua boca vermelho sangue que tanto adorava. Ela se despediu de mim com um beijo no rosto e me disse: "Amy, eu voltarei no dia que o preconceito não me bater novamente". Depois disso, meu pai ordenou que ela fosse apagada da família. Minha mãe foi a que mais sofreu, e eu também. Ela era uma criança, que teve que ir embora. Ela ainda tinha os lábios inchados pela surra que levou, e o olho mal fechava direito.
— Mas seu pai... — Harry sentiu uma pontada de dor e de nostalgia trágica que o fez lembrar de seu pai e como ele agiu com sua revelação.
— Meu pai sofreu muito. Pior ainda, ele sofreu no leito de morte dele, quando se lembrou de Rita. Ele morreu chamando por ela. Ele morreu na década de setenta. A foto de Tita estava entre as mãos dele quando ele se fora.
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Alabama Song | Drarry
Fanfiction[CONCLUÍDA] Na década de 50, na idade do ouro no cinema e Elvis reinava na terra da música, o jazz ainda tocava nas ruas de Paris, Abraxas Malfoy tomava conhaque no Le Trous, e Fleamont Potter era um aspirante à escritor que amava a vida. O caminho...