Poção do Amor (parte 4)

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Segui para o o dormitório e  ignorei seus lamurios.  

Em algumas horas tudo voltará ao normal, só não todos saberem sobre mim, mas isso logo será esquecido. Talvez eu seja o único a lembrar que era o que gostava de verdade, mas não quero lembranças que me amargurem seja lá por quanto tempo em virtude disso. 

Segui ouvindo ele dizendo que me amava. Que tinha sim razões, mas que não lembrava. 

Não consegui me segurar, lágrimas caíram.

Não dá para entender que machuca não ser correspondido nem usando uma Poção do amor? E que seria melhor ele nunca ter comido aquele pudim, que nunca chegasse perto de mim, que não me fizesse chamá-lo pelo nome, que não me tocasse porque eu não esqueceria do calor, que não fizesse um texto idiota que me faz rir ao lembrar e saber que foi falso.  

Tudo falso. 

E, por instantes, eu me deixei enganar.   

E passou. Devo me manter como antes, só aguentar mais algumas horas de desespero.

No caminho, os amigos de Harry o encontraram atrás de mim, disseram que o professor tinha o antídoto. Isso tirou o peso que não paro de sentir ameaçando me esmagar o tempo todo. Weasley e Granger o levaram arrastado para longe.

O melhor é ele estar longe e voltar a só me odiar, antes que eu enlouqueça.

Segui para o dormitório, sem vontade de começar o trabalho do professor Snape. Melhor eu dormir, sinto que meu cérebro pesa. Melhor esse dia acabar de uma vez, mesmo que ainda seja de tarde. Tento dormir.

Sinto algo tocando meu braço, me ponho sentado olhando para o nada escuro do quarto. Era puro breu afora, acordei à noite, sem ninguém no quarto. Devo ter dormido durante muito tempo. Me sinto melhor, parece que tudo aquilo com Harry fora apenas sonhos. E quem garante que não?

- Malfoy.

Alguém me chamou, mas não consegui ver nada.

Senti algo me tocar no braço novamente e me assustei.

- Quem está aí? - perguntei.

- Eu, Harry - disse saindo debaixo de um pano, ele estava invisível.

Não poderia ser, seria esse um pesadelo? Ele está aqui para me atormentar? Me mostrar que eu consigo ser mais infeliz do que quando ele me odiava?

- Vai embora - pedi.

Eu só quero tudo como antes. Só mais algumas horas, eu me lembro.

- Por que está mogoado? - perguntou ele.

E como eu explicaria?

Ele quer a verdade?

- Não quero você perto de mim dizendo coisas que não sente de verdade. Não quero que volte a sua consciência e você sinta coisas ruins porque esteve comigo. Não quero me enganar por algumas horas e depois receber desprezo.

Eu disse tudo. Não era isso que ele queria?

Harry ficou em silêncio.

- Draco...

Eu conseguia distinguir os olhos dele. Ele estava sentado no chão ao lado da minha cama.

Meu único pedido era que ele saísse e não voltasse.

Só silêncio. Decidi acabar com esse ar que me sufoca.

- Como entrou aqui?

- Usei a capa da invisibilidade para me infiltrar quando um sonserino entrasse.

- Ah.

Que ardiloso apaixonado.

- Vai embora - pedi sentindo que voltaria a chorar em qualquer momento.

Espero que logo passe esse sentimentozinho que sinto por ele.

- Draco.

Me chamou de novo. Eu só quero respirar profundamente e talvez dormir novamente. Me jogo para trás, deitando novamente. Talvez, se eu fingir que ele não está li, ele não esteja mesmo.

Mas sinto um peso afundando o colchão. Sai daqui, por favor.    

Ele se deita ao meu lado, o rosto na mesma altura que o meu.

- Me desculpa - disse ele.

Fiquei surpreso. Como assim, desculpa?

- Se eu tivesse demonstrado desde o início, se tivesse dado menos importância para brigas, se tivesse te olhado mais, olhado para quem você verdadeiramente é.

Harry começou a dizer tudo isso, me deixando atordoado. O que ele quer dizer? Essa Poção o deixou mais que apaixonado.

- Draco, eu gosto de você há um tempo. Me desculpe por parecer que te desprezava, eu só não queria sentir o que sentia, o que sinto. Agora estou te dizendo o que sinto de verdade, é a pura verdade, e só consigo dizer isso porque sei que você também gosta de mim.

Revelou.

- Eu nunca sentiria nada de ruim por você  depois da Poção, eu me sinto agradecido por ela, sei que exagerei muito hoje, mas saiba que cada palavra e gesto tiveram um fundo de verdade.

Quer dizer que ele tomou o antídoto?

Ele se lembra que eu gosto dele.

Harry Potter disse que gosta de mim!

Não, ele ainda deve estar sob efeito, é claro.

Minha cabeça girava, mesmo que deitada.

- Você deve estar maluco. Deve ter ingerido mais que o suficiente da Amortentia. Me deixa, Harry.

Virei para a parede.

Ele me segurou no antebraço.

- Me deixa - pedi com olhos lagrimejantes.

Ele me acariciou, indo do ombro até meu cotovelo, depois fazendo o caminho inverso. Me torturando.

- Quando se passar 24 horas, manhã, no almoço, te mostrarei que não há antídoto de  Poção do Amor que tire a verdadeira paixão você, Draco Malfoy.

Ele disse. Me quebrou. Como uma Poção pode ser tão cruel? Eu devia ter imaginado, ela não seria proibida no castelo por motivos sem importância, não seria considerada extraordinária se não causasse esse efeito nas pessoas.

Ele continuou passando a mão em meu braço.

E o pior é que era muito bom. Mas algo dentro de mim dizia que isso só me traria dor depois.

Ele chegou mais perto, tanto o suficinte para eu sentir sua respiração em meu pescoço.

Não tive forças para mandá-lo embora, fechei os olhos e fingi que era um lindo sonho.

Já sonhei antes com ele, e em vários ele me tocava assim. O que eu não imaginava é que seria doloroso quando acontecesse de verdade.

Mas agora eu podia só fingir ser mais um dos sonhos, deixei que ele me abraçasse e me arrastasse até que minhas costas se juntassem ao peito dele. Um sonho bom.











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