CAPITULO DEZOITO | A VERDADE

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"Três coisas não podem ser

Escondidas por muito tempo:

O sol, A lua e a verdade" Buda

Eu tinha de começar a parar de pensar que as coisas não podiam ficar pior do que estavam, porque a vida sempre achava alguma forma de me contrariar.

Talvez eu devesse começar a pensar de forma contraria aos ditados antigos. A frase as coisas nunca podem piorar deveria ser dita ao inverso, como: As coisas nunca podem ficar melhor. Talvez, talvez apenas assim elas poderiam de fato melhorar. Assim como sempre ocorria quando pensava ao contrario.

–– Pode me contar o que houve? Jonas estava a me obrigar a tomar o meu terceiro copo de água com açúcar. Eu poderia até mesmo ficar tão calma quanto um bicho preguiça. Contudo teria como consequência meu sangue que já deveria estar até mesmo mais doce que mel, pela grande quantidade do pó branco que meu melhor amigo exagerado despejara em cada um dos copos. Era como beber açúcar e água e não água com açúcar.

Tyler tinha os braços cruzados, estreitava os olhos para Jonas, como se aquele não fosse o primeiro encontro com ele. Seu maxilar parecia tenso e ele mexia a boca a cada dez segundos como se não suportasse a força que fazia para cerrar os dentes.

Jonas não agira muito diferente. Era tão arredio quanto Rafael, o que não era algo costumeiro, meu amigo normalmente agia com simpatia e solidariedade. A única coisa em comum entre os dois homens a minha frente era que estavam a me acudir. Ao menos desta forma que pensava.

–– É uma longa historia, me digam que estou a ver coisas e está a primeira vez que se veem. Não parecia haver motivos para questionar. Todavia quisera me assegurar.

–– Longa historia. Aquela fora a primeira vez que Tyler articulava algo que não fosse desculpas por ter tocado em um assunto que normalmente não falávamos.

–– E eu preciso saber? Eu não estava bem, nada bem. Mas se fosse para ter más noticias que elas viessem de uma só vez.

–– Ainda não. Eu me contentei com a curta e rápida resposta de Jonas. Eu sabia que ele dizia aquilo por estar a me proteger. Hora ou outra seja lá qual fosse o motivo com a qual eles agiam como velhos rivais viria à tona.

–– Será que poderiam me deixar sozinha? Solidão sempre deixara amedrontada, porém naquele momento, sentia que era exatamente do que precisava. Talvez apenas por não ter a companhia daquele com quem eu realmente gostaria de estar.

Era estranho me sentir tão vazia, quando por tempos eu já houvera me acostumado com aquele sentimento vago.

Por sete anos eu não o tive, todavia naquele momento eu sentia como se ele sempre houvesse estado lá. Como se quatro dias, noventa e seis horas fossem o suficiente para me esquecer dos dias em que meu peito adormecia e minha mente convencia-se de Mike Bartolini não me desconcertava mais.

Eu chorei mais lagrimas do que achei que tinha. Meus olhos doíam, como se houvessem secado. Era como estar no deserto, sentir gostas molharem a terra seca e logo as perder, terrível engano pensar que apenas uma garoa pudesse reparar a falta de anos de chuva.

Meus pensamentos estavam a começar a serem incoerentes. Eu peguei meu velho companheiro e dedilhei as notas daquela musica que estava a compor. A canção que no fundo eu sabia que era sobre ele, sobre nós!

Eu não conseguia proferir nenhuma nota pela garganta. As lagrimas voltavam a cada dedilhar nas cordas finas do violão. Não por sei quanto tempo o fiz, mas quando vovó entrara em meu quarto e se ajeitou sem jeito a beira da cama meus dedos doíam e tinham a mesma cor que os tomates que a vizinha cultivava.

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