INFINITOS "LIVRO I SÉRIE DESTINADOS"

CAPITULO SETE | INSEGURANÇA

"Posso começar novamente
Com minha fé abalada?
Porque eu não posso voltar

atrás e desfazer isso
Eu só tenho que ficar e

encarar os meus erros"
Get Right- Glee

Deitara-me sobre a rede empoeirada na varanda. O almoço estava pronto. Vovó fizera questão de apronta-lo antes de ir até o ensaio do coral das senhoras da igreja, mesmo que não houvesse dito nada eu a vi camuflar algumas lagrimas quando me vira com o tom natural de meu cabelo. Vovô fora atender alguns de seus pacientes com patas. Rafael ainda não voltara da escola e Ceci decidira ajudar tia Débora nas costuras, já que titia ficara atolada demais com as encomendas do casamento e Cecília estava precisando de dinheiro, fora como uma luva para ambas as partes.

Eu pela primeira vez em sete anos, não precisava fazer absolutamente nada, não havia compromissos, nem fotos a ser tiradas. Não precisava ir a shows ou tinha de dar entrevistas, apenas vez ou outra encostava o pé na pilastra dando impulso para que a rede balançasse mais rápido.

A única coisa que continuara a odiar naquele lugar era a falta de muro nas casas, com uma curta passagem de minutos, perdera as contas de quantos vizinhos arregalara os olhos e esticara um pouco mais o pescoço para ver-me ali. Ainda deveria ser apenas um fantasma para alguns ou a destruidora de coração, de todo modo naquele quesito deveria concordar, era tão boa em ferir, em destruir corações, que destruirá até o meu mesmo.

Era estranho sentir certo pesar no peito. Nunca fora fácil de entristecer, sempre conseguira ver algo além de qualquer dor que ameaçara me tomar, mas naquele momento, naqueles últimos dias, sentira que a qualquer instante, seria sucumbida pela minha própria devastação.

Eu nem ao menos conseguira entender o verdadeiro significado daquele sentimento tão agonizante, não soubera dizer se era tristeza, arrependimento, coração partido ou apenas culpa.

De certo, mesmo que também fosse outra coisa, sentia culpa, não por ferir Mike, não por ter entregado-me a Tyler, nem se quer por deixar minha família de lado, mas por ter deixado a mim mesma, por não saber ao certo quem me tornara, por perder objetivos e sonhos, por não saber amar.

Eu que sempre me sentira tão absurdamente especial. Sempre quisera merecer o amor de todos que me conhecem. Agora me sentia a pior das criaturas. A mais infeliz de todas, eu tão malditamente egoísta questionava a Deus a felicidade dos outros, porque eles podiam sorrir, quando eu desejava tanto chorar.

Sofrera ao imaginar a felicidade de Sophia com a aproximação de seu casamento, sofrera por imaginar que Tyler naquele momento pudera estar sorrindo, como me tornara alguém tão sádica?

Deixei então de questionar a Deus e questionei a mim mesma, como fora capaz de deixar-me perder a realidade, enquanto buscara uma perfeição inexistente, como pude deixar-me sentir-me tão superior aos outros? Como podia permitir-me ficar infeliz, quando houvera tantos motivos para que sorrisse.

Mesmo que fosse tão estúpida ainda tinha minha família, ainda tinha saúde, tinha todo o dinheiro que desejara ter, talvez um pouco mais e ainda que não me houvesse vontade alguma de usa-los, eu ainda tinha talento.

Cansada da grande atração que me tornara, escapou-me um suspiro e caminhei para dentro de casa. Tinha o intuito de pegar um suco ou apenas um copo de água, mas quando entrara no pequeno corredor, encarei a velha porta de madeira, do antigo quarto que dividira com Ceci antes de partir...

Era estanho que ainda não houvesse o visitado, era estranho estar em casa e ao mesmo tempo tão distante, com certo receio mesmo que sem saber por que girei a maçaneta de metal e deixei meus olhos vagarem pelo lugar que fora meu.