CAPITULO DOIS | PARAÍSO

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"A distância faz ao amor

aquilo que o vento faz ao fogo:apaga o pequeno, inflama o grande." Roger Bussy-Rabutin

–– Anne? Eu ouvi uma voz soar e logo meus olhos avistaram: Cecília apareceu em meio à escuridão da pequena garagem.

–– Que saudade. Eu corri para seus braços, Cecília sempre fora mais que apenas prima, era uma irmã para mim e a pessoa que via com mais frequência desde que me fui. Sempre que podia ela viajava para me encontrar em meus eventos, alguns shows no Brasil, que agora aconteciam com cada vez menos frequência, segundo a uma revista; eu já era quase uma americana naturalizada.

–– Nós esperamos você, quer dizer, vovô esperou por você durante toda a noite, o resto de nós não acreditou que realmente fosse vir. Revelou-me encabulada.

–– Um taxista idiota me largou na vila vizinha, ele temia o mal tempo. Dei de ombros.

–– Venha, durma comigo esta noite, amanhã eles haverão de ter uma grande surpresa. Deu-me uma piscadinha e me ajudou a arrastar minhas malas. Cecília morava em um puxadinho no quintal da casa de meus avós, desde que ficou grávida e negou-se dizer quem era o pai da criança. Eu ainda não conhecia seu filho, mas era como se já o houvesse visto, devido às inúmeras fotos que minha prima mandava para mim e para Tyler.

–– Era o carro de Mike? É claro que Cecília tinha visto. A amava muito, todavia em quesito fofoca, sempre fora a primeira, a saber das coisas e as espalhar também.

–– Sim, Ceci. Não neguei, não havia motivo para esconder nosso encontro inesperado, não fora nada demais.

–– Então já o viu, ele está lindo não está? Não escondeu o sorriso malicioso ao abrir a porta de seu cubículo, apenas uma mesa de estudos, uma cama onde o garotinho adormecia e um guarda roupas, a porta ao final da parede dizia-me que também tinha um banheiro.

–– Sim, ele me parece muito bem. Por que não conseguia dizer lindo? Mike sempre fora lindo antes, agora ele estava bem mais do que isso.

–– Bem? Mike Bartolini está mais do que bem, ele tem sua própria fazenda agora sabia?

Retirou do guarda roupa uma de suas camisolas largas e uma toalha, as arremessou sobre mim ao constatar que minhas roupas estão tão encharcadas como minhas malas.

–– Não sabia. Eu sorri com aquilo. No final, Mike havia conseguido realizar seu sonho. Por isto o carro de luxo e as roupas mais formais, me sentia contente por ele, mas também vazia...

Mike agora tinha tudo o que sempre desejou: a fazenda, os gados, uma noiva que amava e que lhe daria filhos, uma professora! E teria uma família muito breve, constatei e eu...

Eu tinha a carreira que sempre almejei, tinha muito dinheiro e fama, havia saído daquela cidade pacata que tanto me causara tédio, tivera alguém que amei, mas que sempre fora uma farsa, na verdade, eu não tinha ninguém para dividir todas as minhas conquistas.

–– Ele me falou sobre Sophia, como ela é? Dirigiu-me um olhar desconfiado. Não sabia por que prolongava aquele assunto.

–– Morena, muito bonita, cabelos longos e tem o amor de todas as crianças da vila. Cecília se deitou ao lado do filho, até mesmo ela tinha alguém importante. Um tanto desolada prossegui até o banheiro para um banho. Não havia água quente ali, então não fora um banho muito demorado já que sentia muito frio aquela noite.

Ao secar os fios de cabelos com a toalha, peguei o celular, também molhado, mas ao menos continuava a funcionar, tinha sinal, fraco, porém tinha. Cogitei ligar para Tyler, saber por que havia agido daquela forma, saber se em seis anos em algum momento tinha me amado, porém não, não fiz, não queria me magoar ainda mais. Nem passar por tamanha humilhação.

INFINITOS "LIVRO I SÉRIE DESTINADOS"Onde histórias criam vida. Descubra agora