CAPITULO VINTE | TREZENTOS E CINQUENTA E TRÊS MIL E QUINZE

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"Por favor, me salve!

Antes que eu esqueça

O motivo

Pelo qual vivo..."

Michelisilvadark

Rodava a colherzinha de madeira dentro de meu copo de sorvete, eu simplesmente não conseguia comer o doce gelado como qualquer pessoa normal, eu tinha de esperar derreter, até criar um creme e então eu bebia. Fazia isso com gelatina, Açaí e qualquer coisa parecida.

  Então eu fitava as gotas  de transpiração escorregarem pelo copo de plástico enquanto a pasta branca se desfazia de formas e virava algo ralo como mingau.
   Ergui o olhar para Jonas, ele quebrava pedacinhos de uma barra de chocolate sobre seu potinho de sorvete, segundo ele, o chocolate que a moça da sorveteria adicionava nunca era suficiente para toda a pasta cremosa.
— Podemos ir no parquinho agora? Rafael lambia o picolé cor de rosa com concentração.  Como um gatinho.
— Claro, vamos Anne?
— Vamos. Meu melhor amigo queria ajuda para se aproximar do menino, eu lhe disse que eu não era a pessoa favorita dele, ainda assim para Jonas era melhor do que ter de ser acompanhado por Cecília ou Tyler. Eu estava decidida a passar o dia entre as cobertas, tocando violão, porém eu me sentia em dívida com ele. Por minha causa estava tendo de aturar Tyh em sua casa.

Estávamos no shopping, eu precisava de um celular novo e não havia ninguém que entendesse mais daqueles aparelhinhos irritantes do que Jonas. Nós passamos mais de uma hora analisando cada telefone, ele murmurava cada prós e contras de toda a vitrine, eu olhava para ele e balançava a cabeça como se entendesse alguma coisa. Rafael se arrastava pelos corredores das sessões infantis e eu o seguia com o olhar entediada.
Acabei por escolher um igual ao que quebrei disparando contra a parede, Jonas resmungou, vi como seus olhos cintilavam por um da mesma marca, apenas mais recente e um bocado maior, eu detestava aparelhos que eram maiores do que minha mão.
  Então sem que ele notasse eu pedi que a vendedora adicionasse um, sabia que se soubesse ele não me deixaria pagar pelo presente.
— Isso é caro demais Anne. Disparou assim que me viu lhe estender a caixinha.
— Pode apostar, isso não vai me fazer menos rica. Mordi a língua, por soar tão arrogante. Ele me olhou feio, mas sabia o quanto queria tomá-lo logo de minha mão.
— Já está pago. Será que não poderia apenas me agradecer? Coloquei a caixinha em sua mão, ele mirou o presente com receio. Rafael que parecia quase tão entediado quanto eu, puxou sua camisa o que o fez olhar para o menino.
— Aceita logo, quero sorvete. Jonas riu e acabou cedendo.
— Obrigada, eu adorei. Aquele passeio era para ser dele e de meu primo, mas eu é quem estava mais contente por ter aceitado vir.
— Vamos lá garotão, do que gosta?  Jonas lhe deu a mão e eu os deixei caminhar na frente. Usava um boné com desenho de tartaruga de que roubara de Bec e um óculos escuro, hoje eu não seria reconhecida.
  Na fila para comprar a iguaria gelada, pedi o telefone antigo de Jonas para salvar alguns contatos em meu aparelho novinho. Eu vi o nome de Mike entre a fileira de apelidos. Não o salve Anne, sussurrei baixinho. Não consegui me controlar, convenci a mim mesma de que não faria mal algum deixá-lo lá na agenda em que provavelmente quase nunca olharia. E não faria mesmo se não fosse pelo fato de que um pouco depois eu estava no Google a pegar uma daquelas mensagens de Boa tarde que as pessoas sempre enviam, não importa se são amigos ou não, eram quase tão chatas quanto correntes de "envie para dez pessoas".
  E por isso agora eu encarava o aparelho em minha mão a cada dez segundos, acho que sua sobriedade já estava de volta, não pude evitar me sentir usada, mesmo eu tendo permitido. É claro que enviei para outros contatos também, só para não me sentir tão parasita.

Tia Débora que visualizou e me ignorou, sempre tão simpática. Mamãe que me mandou a mesmíssima imagem de volta. Ela ao menos poderia ter escrito um boa tarde. Bec me enviará um emoticon revirando os olhos que devolvi com um que lhe mostrava a língua.
— Acha ele parecido comigo? Jonas jogava bolinhas tentando alcançar o alvo. Rafael estava sentado na parte de cima do círculo vermelho, ainda lambendo o picolé e ansioso para ser derrubado dentro da piscina de bolinhas.
— Acho. Tentei sorrir. Eu achava mesmo, olhos amendoados, cabelos acobreados, mas também estava começando a achar um tanto parecido com Tyler.
— Minha língua está cor de rosa? O garotinho gritou de  língua para fora.
— Está. Peguei uma bolinha da mão de Jonas e tento mirar a cabeça de Cecília ao meio do  desenho, não adiantou muito, era muito ruim em brincadeira de acertar o alvo.
— Muito ou pouco? Rafa sorria satisfeito.
— Muito. Jonas gritou.
— Legal. Olhou para o picolé quase no fim e terminou antes que conseguimos acertar-lo. Jonas era quase tão ruim quanto eu.
— Como acha que vai ser quando... Bem quando ele souber? Eu estava muito a torcer para que Rafael aceitasse o fato de que de repente ele teria um pai, mas  se fosse eu, não aceitaria tão bem, ele já era um rapaz grandinho e era um tanto estranho aceitar um homem que nunca fora presente como parte de sua parentela.
— Não faço ideia. Jonas coçou a cabeça ao ver o menino nadar Entre bolinhas até nós.  Eu vi aflição tomar o olhar dele e me senti culpada por ter dado início aquele assunto.
— Não se preocupe, vai dar tudo certo. Acaricio a palma de sua mão com o polegar gelado. Meu coração galopou com aquela mentira. Estava começando a ser bem difícil dizer coisas em que eu não acreditava.

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