CAPITULO OITO | A VOZ

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"Este amor é bom, este amor é mau
Este amor está vivo, ressurgiu dos mortos
Essas mãos tiveram que libertá-lo
E este amor voltou para mim"
This Love- Taylor Swift

Nem se quer notará o momento que pastor Josué me deixara novamente sozinha, ainda no meio da estrada questionando-me qual fora o motivo de querer tanto partir, o que me levara a ter tal ambição de conquistar o mundo quando tão pouco me bastara.
Não diria que não houvera sido bom, porque havia. Não diria que aquele não fora o meu sonho, pois fora. Nem mesmo diria que tomaria decisões diferentes se houvesse acontecido naquele momento. Não diria que não fora eu ao ignorar minha família, meus amigos, pois fora, eu que curtira noites, madrugadas com desconhecidos em festas bêbada o suficiente para não lembrar-me de nada no dia seguinte.
Estava errada. Mike não tinha todas as manchetes de minha esculpida carreira dentro do armário, ele tinha a parte bonita dela, nada de jornais com fotos de meu topless sobre o palco de uma boate. Nada sobre a vez que socara o rosto de um fotografo. Nada sobre minha crise de pânico sobre o palco.
Mas não era por isto que me arrependera. Eu me arrependia porque perdera tempo de mais com uma vida fútil, existente apenas em frente às câmeras... Solitária quando entrara em minha casa e não havia ninguém para festejar comigo minhas proezas.
Todavia, não queria mais ser aquela Anne, respirei fundo. Limpei o rosto, trouxera o máximo de ar que pudera aos pulmões e caminhara pela rua de volta para casa.
Choramingar em nada me adiantaria, não iria trazer de volta os anos que desperdiçara e nem mudaria o fato de que a tal vida fútil, continuava ao meu aguardo. A antiga Anne não iria simplesmente deitar a cabeça sobre o travesseiro e chorar, ela mudaria sua forma de ver a vida e era o que eu faria.
Eu me banhei sobre a água gelada do chuveiro do cubículo de Ceci. Ao final perfumando-me com o óleo de amêndoas que tanto gostava, cacei em minhas roupas algo confortável, nada me agradara, tomei para mim então uma saia rodada com estampa de flores e uma camiseta branca de Ceci, ela não daria falta e ainda que desce ficaria imensamente contente em poder pegar algumas das minhas também.
Eu me deitei sobre sua cama, meu corpo começara a ficar dolorido, descansará um pouco, eu havia caído de um cavalo não pudera abusar muito, ainda que agora houvesse mil coisas a quais deveria fazer planejadas em minha mente.
Quando a tarde começara a findar eu levantei, lavei o rosto, fiz um novo curativo em minha testa, tendo certa dificuldade em respirar quando a lembrara da sensação que tivera quando delicadamente Mike tocara minha pele com as pontas dos dedos.
Fora um ato simples, sem luxuria, nada que envolvera grande desejo e ainda assim, aflorara de forma desastrosa os sentimentos que guardara para ele, aqueles que nem mesmo lembrara que era capaz de sentir.
Caminhara até o final da rua, naquele horário, crianças corriam pela vila brincando de esconde-esconde. As mulheres varriam suas varandas, fizera questão de acenar para todos com quem esbarrava e me fitavam como se eu fosse algo inexistente. Na penúltima casa, aquela em tonalidade branca, cerca baixa, que chegara apenas a altura de minha cintura.
As janelas pintadas de verde, as flores que desabrochavam vivamente em tons de rosa e amarelo, reconhecera com facilidade o garoto magricela sem camisa que recolhera as folhas caídas sobre a grama mal cuidada.
–– Jonas! Chamei, a coragem que tivera ao sair de casa sumira, uma onda nostálgica me fisgara com tanto força que sentira um soco ao meio do estomago, ele endireitou o óculos, que sempre escorregara sobre a ponta do nariz.
–– Camilianne. Ele sorriu sem jeito. Jonas sempre fora o único que constantemente tinha coragem de provocar-me ao me chamar pelo meu ridículo nome de batismo, aquele que só não trocara por respeito aos meus pais.
–– Eu senti saudades. Abri o pequeno portão, quebrando aquela distancia que nos separava, jogara-me sobre seus braços com euforia, chorando baixinho sobre seu ombro amigo.
–– Eu estou suado Anne! Alertou-me.
–– Não me importo. Não me importava mesmo, naquele momento larga-lo não me era uma opção.
–– Porque não manteve contato? Limpou minhas bochechas molhadas com carinho.
–– Porque eu sou uma idiota.
Aquele não fora o único motivo, creio que a minha mudança acontecera desde o primeiro instante que decidira botar os pés para fora daquele pequeno lugar.
Quando deixara vila carregara comigo mais do que culpa e saudades, carregara também rancor, recordava-me sempre da ultima que vez vira Jonas com magoa.
Jonas e Rebeca, Bec para mim, eram irmãos, meus melhores amigos desde que me entendera por gente, éramos diferentes e nossas imperfeições encaixavam-se perfeitamente.
Jonas sempre fora o inteligente, sempre fora viciado em tecnologia mesmo que por diversas vezes tão limitada. Bec a amante do ar livre, sempre fora apaixonada pela terra em que nascera, sempre vi aquilo como um pensamento pequeno de mais, constantemente questionara e julgara Bec por se contentar com pouco. E eu sempre aquela que sonha alto de mais, apaixonada por musica e livros, aquela que sempre fora capaz de ver além.
Claro que vez ou outra nossas diferenças ficavam visíveis, nosso ultimo encontro, fora a maior prova disto.
"Acabara de deixar a casa Mike, ainda não conseguira chorar, toda a dor que sentia ao saber que não o teria mais era reconfortada pela possibilidade de alcançar aquilo que almejava.
Toda via, não podia negar o quanto sofria, nos dois primeiros passos que dera para fora de sua casa, cogitara voltar atrás, cogitara lhe dizer que ele era mais importante.
Eu não sabia se realmente era, mas em meu coração sentira que Mike merecia tal sacrifício. Eu olhei para trás, para porta de madeira, para a cadeira de balanço de minha sogra, que balançara sozinha com vento, ele nem se quer se esforçara.
Não correra atrás de mim, não insistira para que ficasse, talvez seu amor não seja tão grandioso quanto diz...
Eu segui em frente, quando chegara em casa, vovó continuara a chorar como um bebê, eu tentei lhe dizer que não havia morrido, que apenas me mudaria por um tempo. Pelo olhar fuzilador entendera que aquilo só piorara a situação.
Papai ficara ao seu lado, tentando a convencer de que aquilo era o melhor para mim e era!
Eu lhe daria um tempo para que ela aceitasse aquilo, embora aquela ainda não fosse uma decisão final, sentira que se Mike me pedisse... Se ele insistisse! Eu não seria capaz de dizer não novamente, eu ficaria.
Caminhara até a casa de Bec, atravessei a pequena sala sem cerimônias. Entrara em seu quarto sem nem ao menos lhe anunciar minha chegada, ela estava deitada sobre a cama colada à parede. Um pequeno caderno sobre a mão, lápis de infinitas cores espalhados sobre o lençol.
Havia um desenho no papel, tartarugas, o animal que ela mais admirava em todo o mundo.
–– Anne, eu estava a ponto de ir a sua casa. Sorriu eufórica, deixando de lado aquilo que fazia.
–– Por quê? Estranhei tal comportamento, será que a noticia de que estava com um pé para fora daquele lugar já houvera chegado em seus ouvidos?
–– Mike! Ele a pediu em casamento? Ele disse que ia pedir.
Há, era aquilo!
–– E então para quando é o casório? Jonas invadira o quarto e se juntara a irmã sobre a cama a animação entre eles era impressionante.
–– Quando ele contou a vocês? Arqueara as sobrancelhas, de certo eles fizeram de alguma forma parte daquele pedido de Mike, eles sabiam o quanto eu odiara surpresas.
–– Há Anne faz um tempo, á quem você acha que ele pediria ajuda para comprar as alianças? Ela dissera com orgulho.
–– Eu não vou me casar com Mike. Fora a primeira vez em que realmente tivera vontade de chorar desde que recebera o resultado do concurso. Dizer aquilo em voz alta doía mais do que apenas manter tal ato em meus pensamentos, sentei-me no meio de meus dois melhores amigos, buscando certo conforto!
–– O que? Por quê?
–– Eu ganhei o concurso... O do filme! Eu vou ser atriz. O motivo de meu maior contentamento fora dito com mais tristeza do que deveria.
–– Você vai deixar Mike? Bec encarou-me com reprovação, fazendo questão de manter certa distancia entre nós.
–– É o meu sonho Bec! Sua reação deixara-me um tanto magoada, fizera questão de deixar aquilo bem claro.
–– Anne não seja fútil! Quanto tempo você acha que dura essa vida... Pense no futuro, pense em quanto tempo vai levar para cair no esquecimento. O que vai fazer quando isto acontecer?
Fútil, Bec achava-me fútil?
–– Eu não penso no futuro... Penso no agora e se cair no esquecimento, ao menos vou saber que tentei!
Aquilo de alguma forma fora dito para lhe ferir, Bec recebera uma proposta de sua universidade para participar de um projeto ecológico na Califórnia, ainda assim negara por conta da fragilidade da saúde de sua mãe.
Era injusto lhe dizer aquilo, ela havia feito a escolha certa, concordava com sua decisão, mas ainda assim era visível saber que ela deixara escapar uma oportunidade incrível.
–– Você é egoísta Anne, pensa apenas em si mesmo... Já devia saber disto. Despejara sobre mim aquele olhar de magoa, raiva e decepção, coisas de mais para um só ser em minha opinião. Fitei Jonas, esperando que ele disparasse algo em minha defesa, mas palavra alguma soara de seus lábios.
Ao invés disso, fora capaz de notar outra coisa apenas ao analisar sua face...
Ele concordava com a irmã"

–– Com quem está falando Jonas? Rebeca aparecera, a cabeleira negra estava em desordem, Bec nunca se preocupara muito com a aparência, a pele clara ganhara certa vermelhidão nas bochechas.
Os olhos em castanho dourado pareciam não crer no que viam, ainda assim, não conseguira ver traço algum de que cultivara a mesma magoa que eu regara todos estes anos.
–– Me perdoe? Eu dei apenas alguns passos em sua direção, por mais que quisesse, fiquei incerta se devia ou não abraça-la
–– Se você me perdoar! Ela deu-me um meio sorriso, assim como eu, um choro contido lhe tomou, ali estava o sinal que precisava. Eu a abracei... Abracei minha melhor amiga!
–– Eu senti tantas saudades. Admiti, sentira muita raiva sim, contudo aquilo fora apenas uma forma de negar a mim mesma que estava errada.
–– Eu também... Eu devia ter apoiado você. Aquilo soara tão fácil de Bec dizer, mas eu sabia que não era. A baixinha tinha uma fama de encrenqueira, nunca em hipótese alguma Rebeca Harris admitira que falhou, mas naquele momento ela fez e eu também devia.
–– Eu deveria ter a escutado. Em parte ela havia errado, não cairá no esquecimento e nem tão cedo isso aconteceria, mas me tornara manipulável, fora carregada pela maré do dinheiro e da gloria.
–– Eu não acredito que este momento é mesmo real. Jonas olhou para nós, com orgulho, emoção não soubera descrever, eram sentimentos acumulados por tempo de mais.
–– A gente tem muito o que conversar, nós vamos no restaurante beira-mar, o que acha de vir conosco? Bec perguntou-me com certo receio.
–– É lógico! Sorri.
Eu entrara na casa que continuara tão pequena quanto antes, todavia houvera passado por uma boa reforma, as paredes estavam bem pintadas, em tonalidades que combinavam.
A maioria dos moveis haviam sido trocados, dona Vera, aquela que sempre me recebera tão bem em sua casa partira para outro mundo pouco depois de minha mudança, eu não liguei para nenhum deles, nem me importara tanto assim, estava fascinada pelo novo mundo que descobrira.
Bec jogara todo o amontoado de roupas que ocupara toda sua cama sobre a escrivaninha –ela ainda era tão bagunceira quanto antes– Nós estávamos de certo um tanto constrangidas, não se passara apenas alguns dias ou semanas, se passara anos.
A culpa era minha, mesmo depois de ir embora, eu haveria de ter tentando de alguma forma manter contato com aqueles que amaram a verdadeira Anne, aquela que fortuna alguma possuía, nem se quer fama.
Apenas sonhos e melodias resguardadas pelo coração.
Eu iniciei nossa prosa. Falara sobre todas as viagens que fizera, que até mesmo chegara a conhecer um lugar onde pudera nadar ao lado de tartarugas gigantes, no México, akumal, o lugar das tartarugas. Recordava-me de o quanto pensara em Bec naquele dia e a quão maravilhada ela ficaria se pudesse apreciar daquele lugar como eu fiz.
Gostara de ver a forma como observava-me atentamente prestando atenção em cada detalhe daquilo que dizia, para que nada lhe passasse desapercebido, falara como minha vida houvera sido como um montanha russa, cheia de curvas.
Confiara-lhe a forma como Tyler entrara em minha vida e também como sairá. O quanto acreditei lhe amar. O quão bonito ele é pessoalmente, pois é claro que ela já o vira em fotos e o quão gentil e galanteador ele pode ser...
Não dissera nada sobre Mike, ela também não questionara, talvez apenas por gentileza, embora apostara pela forma com a qual mordia os lábios que sua curiosidade em saber como fora vê-lo depois de tanto tempo se tornara quase incontrolável.
Quando fora sua vez, me sentira orgulhosa, Bec não conhecera o mundo como eu, se tornara ecologista, neste momento participara de projetos ambientais nas escolas de todo o estado.
Todavia não tivera uma boa vida amorosa, chegara a sorrir de si mesma um tanto tristonha.
"Estamos no mesmo barco" Eu disse. Naquele breve momento horas se passaram, sentira que nada houvera mudado mesmo que houvesse. Não me importava... Porque ainda assim tivera minha amiga de volta. Uma amiga de verdade, que me conhecera tão bem, às vezes eu achava que até mais que eu mesma.
Quando a escuridão noturna por fim cairá, carregada por estrelas iluminadas. Bec e Jonas me arrastaram até o restaurante de uma tia deles, literalmente, caminhar ainda não era algo que apreciava. Ceci ficara tão contente quando descobrira que fizemos as pazes que decidira nos acompanhar.
O restaurante era pequeno, apenas dois cômodos e a varanda em que acomodavam seus clientes, pedacinhos de cerâmicas formavam desenhos nas paredes e mesas, todos relacionados ao mar, havia cavalos marinhos em nossa mesa.
Coqueiros e palmeiras ao redor do estabelecimento balançavam com o vento, trazendo aquela gostosa sensação de frescor suave, ainda que estivéssemos a alguns quilômetros da praia, pudera ouvir baixinho o soar da maré alta naquele horário.
Aquele parecera o lugar favorito de todos os jovens, não apenas daquela pequena vila, mas das vizinhas também, era um local bem iluminado com um clima familiar gostoso, algo acolhedor.
–– E então o que vamos pedir? Ceci esfregou uma mão na outra ansiando por uma refeição.
–– Vocês escolhem. Eu não sabia o que serviam ali, temia pedir algo que não estivesse no cardápio, ainda que nem mesmo houvesse um.
–– Eu quero ensopado de frutos do mar o que acham? Questionou Jonas. Meu estômago roncou apenas ao pensar em comer algo, minha ultima refeição fora o almoço não costumava ficar tanto tempo sem me alimentar.
–– Eu quero feijão verde e carne de charque, não acha muito mais saboroso, Anne? Eu arqueie as sobrancelhas pela forma competitiva com a qual Ceci dissera, Bec olhou para mim e sussurrou algo que entendera como:
"Eu explico depois"
Fora então que notei uma rincha mal resolvida entre Ceci e Jonas, tal falta de afeto não existira quando deixara a vila, sempre achara que meu melhor amigo sentira grande atração por Ceci, embora não fosse algo correspondido.
–– Eu vou comer um pouco dos dois. Não queria por mais lenha naquela fogueira, ainda que não soubesse se aguentaria tudo, pedira uma porção de cada iguaria, Bec, no entanto pedira o mesmo que Ceci.
–– E então Anne, quanto tempo pretende ficar? Jonas evitara ao máximo um contato visual com minha prima, todavia não se saia lá muito bem, vez ou outra flagrava a forma como ele a observava, já ela o ignorara tão bem que ele nem mesmo parecia ali estar.
–– Eu não sei. Aquilo era algo que ainda não havia pensado, eu tinha sã consciência de que hora ou outra haveria de voltar, mas evitaria ao máximo aquilo, coisa que talvez ao final do verão acabasse sendo inevitável.
Ouvira um falatório na entrada, havia uma pequena aglomeração de rapazes, que festejavam a chegada de um dos amigos, Mike! Ele apertara a mão de cada um deles, meu coração palpitou tão de pressa que até mesmo temera que algum de meus amigos pudessem ouvir o quão rápido eram suas batidas.
A noite passada então parecia está ali a minha frente, a forma como seu calor invadira o meu corpo, o desejo que me tomara tão profundamente que quase pensara que explodiria como fogos de artifício, nem se quer lembrara que podia me sentir tão ligada a alguém como me sentira naquele momento, aprumada em seu colo.
Os rapazes resmungaram algo para ele –Há, não Mike você trouxe a patroa– Então notara que estava acompanhado. Sophia entrelaçara sua mão na dele como um cachorro bravo, como se ninguém pudesse tocá-lo enquanto ela estivesse por perto.
Os fios escuros estavam em seu devido lugar, o vestido branco, assim como a blusa de Mike, ganhara certo contraste de rosa ao final da saia, não demorara muito para que ele notasse minha presença.
Naquele instante fora como se todo o seu fluxo sanguíneo bombeasse para o centro de suas bochechas, ele nem se quer tentara disfarçar o quão abalado houvera ficado a me ver ali.
Algo naquele olhar intenso de Mike me machucara profundamente, ele parecia sofrer ao ter de me ver novamente.
Mike e Sophia passaram por nossa mesa com um sorriso de lado, um tanto sem graça, cumprimentado Bec, Ceci e Jonas, nem se quer olhará para mim.
Diferente dos dois amigos que os seguiam logo atrás, um loiro dono de olhos tão azuis como o mar calmo em um dia ensolarado, contudo não era pálido como os que possuíam tais atributos, tinha uma pele bronzeada como se ficasse o dia todo a beirada da praia, conclui que talvez fosse um pescador.
No entanto o outro, não era tão provido de tão formosas características, a pele morena era bela, possuía até mesmo alguns traços admiráveis, todavia os fios de cabelos castanhos jogado ao lado. Parecerá que comprará uma peruca barata que imitara a cabeleira de Justin Bieber, escondera qualquer beleza que pudera ter.
Cravei minhas unhas na pele descoberta de minha coxa em relutância, se ele não me olhará eu também não cederia aos meus desejos de fita-lo e nossa quão grande era aquele desejo!
Tentei concentrar-me em Jonas, apenas nele, ele se tornará professor de informática em um curso na cidade, reclamara um pouco sobre o cansaço da viajem que realizava todos os dias pela madrugada, ainda assim dissera que valia a pena.
Ceci resmungava vez ou outra, embora agora tentasse flertar com um dos colegas de Mike, não conseguirá identificar qual, já que não pudera me virar muito.
Voltará a analisar exclusivamente o rosto de meu melhor amigo.
Pele parda, marcas de espinhas da adolescência injusta com hormônios descondensados. Os óculos quadrados eram enormes, mergulhara em seu olhar, fora então que prestará muito mais atenção do que devia, olhos amendoados, exatamente como os de Rafael.
Ah meu Deus!
Não podia ser, Ceci era um tanto sem juízo, mas ela não seria tosca o suficiente para negar a paternidade de alguém que morara tão perto, hora ou outra alguém haveria de notar! Como ninguém notara ainda aquelas semelhanças?
Balbuciei palavras incoerentes, não era certo questiona-los ali, Temerá causar um show de fofocas para a plateia presente, mas que Ceci teria coisas a me dizer, ela teria!
–– O que acham de uma fogueira? O moreno, "sósia" de Justin Bieber questionará, por mais que o convite houvesse sido para todos, notávamos que apenas tentava cortejar minha prima.
–– Parece ótimo para mim. Sua voz sairá melosa, com certo tom de exagero, Jonas olhará feio para ela, Bec parecia apenas desapontada.
-– E vocês? Persistiu o rapaz, mantendo o olhar cravado no decote de Ceci.
–– Eu não acho uma boa ideia. Abaixei o olhar para minhas mãos, naquele momento já cogitara até mesmo deixar a comida de lado e ir para casa.
–– Eu vou... Vamos Anne? Bec dissera abobalhada, havia encantamento em seus olhos, direcionados para o falso Justin.
Nuca vira Bec daquela forma, ela nunca se interessará pelos meninos como as moças fogosas da vila e lá estava eu a fazer algo que não devia e nem mesmo queria, pela me incapacidade de dizer não!
Olhará rapidamente para trás, talvez ele nem se quer notasse. Estava errada, seu braço envolverá os ombros da noiva, seus dedos massagearam os fios negros de Sophia, que distraísse ao dizer algo para o outro rapaz.
Contudo os olhos na tonalidade do anoitecer voltavam-se para mim, eu engoli em seco, mergulhando naquele olhar que sempre amara tanto.
O cabelo preto estava levemente bagunçado agora, recordava-me do doce prazer que sentirá em ter meus dedos entre os fios que sempre cheirara a menta.
Meu coração voltará a bater descompensado, eu não devia olhar para ele, não devia, mas era como participar de uma hipnose.
–– E então Anne? Bec repetirá a pergunta.
Diga não... Diga não
–– Tudo bem. Arfei, esforçando-me para manter minha atenção nela, ato que não durará muito, voltará a analisa-lo, todavia ele desviará o olhar e balançara a cabeça como se negasse algo a si mesmo, ele parecia nem se quer mais suportar olhar para mim.
Apreciamos o jantar, Beta, a tia de Jonas e Bec, fizera questão de nos servir, ela cozinhara quase tão bem, talvez melhor que os chefes de cozinha que ganhará prêmios importantes na sociedade.
Mike levará quase todos os conhecidos na picape grafite, eu recusará a proposta sem nem se quer me ser oferecida. Ceci reclamara um pouco por ter de irmos caminhado até a praia, mas logo parecerá entender. Fora a primeira vez que gostará de ser vista com piedade.
Jonas seguirá meus passos lentos atentamente. Bec escutara minha prima tagarela um pouco mais à frente, eu tentava contar as infinitas estrelas que cobrirá o céu.
–– Já o encontrou não é mesmo?
Eu olhei para Jonas assustada, como pudera deixar aquilo tão visível?
–– Já. Afirmei baixinho, como se aquele fosse um grande segredo de estado.
–– Foi tão ruim assim? Eu não sabia ao certo o que devia lhe dizer, talvez que fora bom, tão bom que quase havíamos feito amor, mas ruim, terrível, por enfim dizermos aquilo que ficará aprisionado no peito há anos.
–– Como o esperado. Fora o que decidi dizer
–– É bom ter você de volta Anne! Seu braço enroscou minha cintura, o que dificultará um pouco o caminho escuro, todavia não reclamara, gostará do gesto que me trouxera uma sensação de aconchego.
Ao chegarmos à praia os homens armavam uma fogueira pequena com os gravetos e folhas que arranjaram pelo caminho, troncos de coqueiros secos foram improvisados como assentos.
Havia até mesmo alguém que dedilhara um violão, aquilo me distrairá um pouco... Até repousar o olhar em Mike, que direcionava palavras à noiva, um tanto distante de todo o resto.
Ceci dançará com "Justin Bieber" eu aproveitará que Bec e Jonas também pareciam distraídos, cruzei os braços abaixo do peito e caminhará para um lado mais distante da praia, plantas cujas desconhecia a origem formavam uma pequena cabana florida a beirada do mar.
Aquele fora o lugar em Mike me amará pela primeira vez, nada fora planejado, apenas nos deixamos ser guiados pelos sentimentos que a aquela altura falará alto de mais, assim como quase ocorrera na noite anterior.
Fora tão maravilhoso. Se naquele instante tivesse de escolher um lugar favorito no mundo, seria aquele.
–– Deus, como pudera mudar tanto? Pensei alto, com um sorriso, desdenhado de mim mesma.
–– Sabe qual é a primeira coisa que esquecemos de alguém? Sua voz encherá meus ouvidos, um arrepio correu todo meu corpo, não soubera se fora mesmo por sua aproximação ou apenas pela ausência de calor que começará a sentir.
Neguei, mexendo a cabeça de um lado para o outro, mantendo o olhar fixo na lua cheia que enfeitara o céu aquela noite. Não cometeria o erro de olhar para ele novamente.
–– A voz.
Não sabia ao certo porque apenas aquilo fora o suficiente para que eu tivesse uma vontade louca de me desmanchar em lágrimas, como se fosse um cubo de gelo exposto ao sol
–– Por muito tempo eu senti tanto medo... De esquecer a sua voz ou que você esquecesse a minha!
Ele estava ao meu lado, mas perto do que eu podia suportar. Agradecia naquele momento a forte maresia que me impedirá de sentir seu cheiro
–– Se eu esquecesse seria como se tudo o que vivemos nunca houvesse existido, como se nunca tivéssemos nos amado... Seria como aceitar o fim chegar, entende?
–– Entendo. Eu mal sabia como pudera conseguir ainda respirar naquele momento, eu fechei meus olhos, deixei as lágrimas me tomarem. De alguma forma sabia que elas me faziam bem, as impedirá por tempo de mais, por anos!
–– Eu não queria ter de aceitar o fim, ouvi cada música, cada vídeo, apavorado, temendo esquecer... Esquecer você Anne! Quando chegará ao fim, ele quase sussurrava, tivera de aguçar bem os ouvidos para que as ondas quebradiças não me impedissem de ouvi-lo.
–– Eu nunca esqueci a sua voz Mike. Confessei-lhe.
Nem nunca seria capaz disto, nem que trinta anos houvessem se passado. Gostará de dizer o quão bom locutor ele poderia ser pela melodia grossa e ainda repleta de certa doçura que sempre escapará de sua garganta.
Ouvi-lo dizer algo sempre fora como escutar a mais bela das canções, mesmo que nota alguma soasse, sempre fora como minha inspiração, ouvi-lo era como trazer borboletas coloridas novamente em meu estômago.

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