Era uma vez um galo inglês que nada tem a ver com a história, mas eu não sabia como começar e deixei assim. Não gosto de falar muito de como eu sou ou do meu jeito porque sempre acabo me sentindo como se eu estivesse no "Vai dar Namoro" do Rodrigo Faro e que o povo que está lendo para na metade da minha descrição clicando no X e dizendo "hoje não, Faro". Fim de carreira pra quem nem está começando. Se eu tivesse uma terapeuta, ela diria que o nome disso é Síndrome de Susana Vieira.
Enfim, vou ter que me apresentar de qualquer jeito. Não quero que vocês abram o Twitter de vocês e fiquem contando da minha história para as amizades sem saber meu nome.
Meu pai nasceu em Cuba e minha mãe no México. Na viagem de formatura dele, a turma foi a Cancún. Se ela tava fazendo body shot e meu pai se aproveitou dela ali? Claro... Que não. Topless na praia? Também não. Vendendo as dorgas do Manolo? Nananinanão. Se conheceram numa padaria mesmo, só que a cantada do sonho quem deu foi minha mãe no meu pai.Bom, não sei o que fez meu pai gamar na minha mãe, mas digo que foi muita sorte essa cantada ter dado certo. Hoje em dia não sei se funcionaria. Já que funcionou, eles ficaram juntos, se casaram no México e dizem as boas línguas que naquele dia o padeiro nem foi trabalhar e que não teve bem casado na festa, teve sonho. Depois disso, resolveram morar em Cuba. Como faltava dinheiro pra comprar uma TV, meu pai foi cuidar do jardim: regou uma sementinha dentro da minha mãe e ela acabou vingando. Pois é, nasci e sem programa Mais Médicos.
Como um legítimo casal latino, minha mãe quis um nome, meu pai quis outro e para ser justo, por que não colocar os dois, né? Não precisa combinar feito Maria Luiza ou Ana Clara. Isso é pra classe A. Tem que ser no estilo Micaela Fernanda ou Camilly Victória, como a filha da Carla Perez. O nome tem que ter tanta emoção quanto Carlos Daniel gritando com a Paola em A Usurpadora.
Já que preparei vocês psicologicamente para esse momento, tambores por favor: me chamo Karla Camila. Nem é tão ruim, vai. A parte boa é que o 'Camila' não é com K. Pensa no bullying que seria ter as iniciais 'kk' com as pessoas me olhando de lado e falando "que engraçadinho". E o Whatsapp então? A pessoa ri 'kkkkkk' e eu entenderia 'karlakamilakarlakamilakarlakamila'. Minha mãe disse que me poupou do segundo K porque karma já é com k. Suponho que, obrigada, mãe. E como meu sobrenome é com C, minha mãe deveria ter medo da Ku Klux Klan.
Fui uma criança normal na medida do possível. Quebrei alguns dedos. Tenho algumas cicatrizes em um joelho e em um braço por alguma tentativa frustrada de ser uma das Meninas Superpoderosas e cair de bicicleta. Nada afetou meu cérebro, apesar de falarem que é mentira, algumas vezes. Não acreditem no que falam sobre mim.
Alguns bons anos depois a gente percebe o quanto somos inocentes. Quando eu iria imaginar que depois de algum tempo meu pai ainda regava a sementinha da minha mãe com frequência e que ainda poderia vingar? Pois é, vingou e nasceu a coisa mais linda da minha vida, minha Sofia, sem nenhum outro nome esquisito. Só Sofia mesmo, sem K. Não achem que eu tenho algo contra a letra, afinal Kibon é com K. Acho que isso aconteceu por influência do lugar onde passamos a morar alguns anos antes dela nascer: Brasil.
Minha mãe disse que não aguentaram o regime político da época e na primeira oportunidade eles saíram correndo de Cuba pra cá."Cuba no es Kubanacan, hijita. Me gusta Brasil porque cuando el lugar no es muy bueno, siempre ponen algo para hacerlo hermoso. Por eso, en la novela habia un hombre hermoso, musculoso, atractivo... Allá no habia eso." (Tecla SAP: "Cuba não é Kubanacan, filhinha. Eu gosto do Brasil porque quando o lugar não é muito bom, sempre colocam algo para deixá-lo bonito. Por isso, na novela tinha um homem bonito, musculoso, atraente... Lá não tinha isso".)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Serendipity
Teen Fiction"A lei é a razão livre da paixão", já diria Aristóteles. Não faço ideia do que isso interfere na minha vida, mas vi em Legalmente Loira e achei melhor guardar pra se caso um dia eu venha a precisar. Fiquei pensando muito tempo em um resumo da minha...