Serendipity

Seu nome é esse?

"Essa roupa não esteve, jamais, entre meus presentes, mãe. Não é minha..." além de saber onde suas coisas perdidas se encontram, é melhor que qualquer detetive e São Longuinho, claro.

"É de quem, então?"

"De uma menina que me deu trote hoje” pensando bem, contraditório isso, né? Tanto quanto Kiss ser o nome de uma banda de rock paulera. Mas a vida é feita dessas contradições. Eu ainda assopro sorvete quando ele tá muito gelado Não faz nenhum sentido isso.

"Ah, tá..." Ela disse fazendo uma cara esquisita. Eu também faria, mãe. Você não está sozinha.

Sorri e subi as escadas em direção ao meu quarto, me jogando na cama e automaticamente cheirando aquela roupa pra ver se tinha o mesmo cheirinho amadeirado dela. Tinha! Parece que o cheiro combinava com ela, com seu corte de cabelo, com seu sorriso, com sua expressão quando parecia desconfiada ou até quando parecia tranquila.

Ela, que ainda nem tinha nome e nem um porquê de estar pensando tanto nela. Ai Camila, abstrai esses pensamentos. Ela foi bem sem noção quando brigou contigo por causa do teu próprio nome. Você não tem culpa de ter esse nome composto não combinativo que seus pais acharam o máximo. E poderia ser pior, bem pior. Poderiam ter colocado Josicleusa, caso eles tivessem vindo para o Brasil antes de que eu nascesse. Ou se fosse por lá mesmo, poderiam ter me registrado como Yennifer com Y porque tem som do J em português. PENSA NO BULLYING NA HORA DA CHAMADA. Além de ser a última, o professor sempre vai ler com som de I. Iênifer? Presente. Terrível. Faria a Lana na hora! ‘Queria estar morta’.

Que horror, tô me achando a Camila da música do Nenhum de Nós. Antes isso do que ter uma música escrita pra nova loira do Tchan. Se eu não fosse a Karla Camila e sim a Carla Perez, teria ficado magoada por não terem feito uma música de despedida para a eterna velha loira do Tchan que imortalizou a dança da boquinha da garrafa, que é um hino, e terem feito só pra nova, como se descer na boquinha da garrafa não fosse mais do que a obrigação da moça.

Tentei ocupar minha mente o tempo todo brincando com a minha irmã, arrumando meu caderno com todas as matérias do semestre, colando os horários atrás da capa e vendo pela octogésima sétima vez aquele filme... Eurotrip. Aí eu percebo que tenho dois problemas muito sérios: gostar de assistir o mesmo filme trocentas vezes como se eu fosse um telettubbie adolescente 'DE NOVO, DE NOVO' e não conseguir deixar de pensar nela.

Pra quem nunca viu esse filme, eu recomendo porque é engraçado pra caramba. Tem dois irmãos gêmeos que se pegam e um cara que jura que fala com um alemão com cara de nerd, mas fala mesmo com uma alemã gostosa, tudo isso porque ele entende mal o nome dela. Aí eu volto a me lembrar da veterana sem nome. Ela poderia ter se apresentado sem eu perguntar, né? Mas não, ela prefere que eu fique aqui pensando que ela pode ter um nome super comum, tipo Maria ou Ana. Pode ter um nome importado e aportuguesado, tipo Carolaine ou Emily. Pode ter um nome bonito tipo Fernanda ou Giovana. Mas pode ter um nome esquisito tipo Solinete e Danielva. Isso fora o sobrenome... Que pode ser igual ao da Nicole Schaosjehuwjqkwner ou do Arnold Swajwndiheniwnqnwnder ou pode ser mais um dos 130 milhões que amam Susana Vieira que têm Santos e Silva de sobrenome.

Quero deixar pra pensar nisso depois, se eu conseguir. Já basta a confusão de hoje.

Passei o domingo de forma bem familiar. Talvez eu seja, realmente, uma garota bem sem graça. O avesso de 93,43% (com margem de 2% para mais e para menos) garotas da minha idade. Gosto de ficar em casa, não gosto de ambientes cheios de fumaça e cigarro e multidão me dá um certo pânico. Se Netflix fosse uma pessoa, eu casava sem pensar duas vezes. Quem não iria curtir um botão de stop and play? Bom, apesar de tudo, não me sinto sozinha. Minhas amigas costumam respeitar minha condição de pseudo anti-social exigente, que na língua delas significa 'pessoa mala, chata e fresca'. Mas no fundo ainda me amam.