Serendipity

Você promete?

Cama de casal ou de solteiro... Ok, uma dúvida cruel. Tá, não vou enganar vocês porque eu estou doida pra falar "Lauren, fala que quer cama de casal pra dormirmos de conchinha. Eu deixo você ser a minha Alex e eu serei a sua Piper e viveremos felizes para sempre", mas não queria impor essa vontade. Eu já estou de gaiato nesse navio e ainda querer dar a direção para o capitão ficaria muito chato. E cá entre nós, quero saber a resposta que a Lauren dará com relação a isso e vou fingir que essa decisão nem é comigo, que eu nem ouvi, que eu nem sei o que é isso. Ao melhor estilo todo mundo, peguei meu celular, claro!

De qualquer forma já estou pensando em desculpas para me deitar na cama da Lauren caso ela resolva pedir cama de solteiro, tipo "Lolo, eu deixei a Gertrudes em casa e eu não durmo se não estiver abraçando algo ou alguém. Você faria esse super sacrifício por mim?". Poderia dizer que estou com muito frio, medo do homem do saco ou simplesmente me deitar com ela para vermos vídeos no celular e eu "do nada", cof cof, pegaria no sono abraçada com ela.

Olhei de canto para Lauren enquanto me apoiava no balcão da pousada e ela conversava com a moça que nos atendia.

"A cama de ca..." Lauren começou, mas foi interrompida pela moça.

"As camas de solteiro estão em um chalé para estudantes e só tem mais três lugares disponíveis. Creio que tem um congresso de geografia na cidade vizinha e algumas pessoas vieram pra cá por falta de hotéis na região"

"Então nós vamos querer um quarto só..." Lauren olhou pra mim enquanto eu estava apreensiva com uma torcida organizada na minha cabeça gritando 'cama de casal, cama de casal!' "... pra nós com uma cama de casal. Tudo bem, Camz?"

"Claro, claro" eu disse sorrindo esperando ter sorrido como se eu estivesse aceitando apenas por educação. Acho que não funcionou, mas já que estou aqui... Enfim. Ao me olhar, ainda segurando minha mochila, Lauren sussurrou:

"Coloca sua mochila no chão, Camz" disse sorrindo e tirando a mochila das minhas mãos. A envolvi pela cintura, me encostando mais nela, que descansou sua cabeça em meus ombros.

Eu mal podia acreditar que estava numa pousada e com a Lauren. Até anteontem eu não sabia se engolia o fígado dela ou se me declarava e bom... eu fiz minha escolha. Sei lá, sabe, eu acho que o amor vale a pena. Eu não tenho medo de me declarar, de viver as sensações que o amor traz quando ele vem. Vai que ela é o amor da minha vida, a metade da minha laranja, a tampa da minha panela, a estrada do meu caminho, o Claudinho da minha Bochecha... Não, pera.

Enfim, agora que eu estou aqui, vou fazer dar certo.

Depois de responder aquele questionário enorme, onde só faltou perguntar se eu sou vegetariana, fomos até o chalé, entrando e deixando nossas coisas na mini sala, observando todo o interior do lugar. Cara, era lindo! Bem pequeno, claro, mas super aconchegante. Tudo era aberto e parecia mini... a cozinha, a sala que tinham dois pequenos sofás, um tapete de pelinho bem fofinho e uma lareira, e logo acima do pequeno degrau que dividia os cômodos, o quarto. Esse lugar sim tinha algo grande e justamente aquilo que não precisava ser grande: a cama.

Ah, o que a gente espera de uma cama de casal? Que ela seja grande o suficiente pra caber duas pessoas, e que mesmo assim ela seja suficiente para fazer com que as duas pessoas permaneçam grudadas uma na outra, coisa que essa cama não está ajudando. Ao lado da cama, dois criados-mudos. Um deles com um abajur simples ao lado, e no outro um telefone com uma lista telefônica ao lado. Vou ficar do lado do telefone pra Lauren não pensar em ligar pra polícia me desgrudar dela. Ou o IBAMA.

Fui até a janela, porque ter uma boa vista do céu ou do meio ambiente é muito importante, e fui surpreendida com uma Lauren curiosa grudando seu corpo no meu por trás para ver o que eu estava vendo.