Quem é?

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Sabe esse momento em que o mundo gira muito rápido e você quer pará-lo custe o que custar? Bom, pelo jeito eu não tenho crédito nenhum no banco e na vida, porque isso foi rápido demais. Eu não percebi nem que música tocava neste momento e eu nem consegui vê-la. A máscara dela era tão grande quanto a minha e aquelas luzes mais escuras também não me ajudaram em nada. Que mania dessas festas tuts tuts de piscar essas luzes o tempo todo e nos deixar parcialmente cegos e com dor de cabeça. Droga! Meu coração está batendo mais forte e eu não estou conseguindo controlar. E eu não consegui saber quem era ela. E nem sei se ela é da faculdade, se ela gosta de meninas, se ela sabe quem eu sou, se ela é uma admiradora secreta, se é uma dementadora, se vende churros em barraquinha ou se ela torce pro Brasil quando tem jogo. Não sei.

Se isso fosse um filme, eu com certeza seria aquela menina que estaria pregando cartazes pela faculdade inteira com o símbolo do Batman e com o título "Procura-se Batgirl Desesperadamente". Ou eu seria aquela menina rica que conseguiria um refletor desses de show e botaria o simbolo do Batman no refletor pra ela vir até mim, até porque, tenho certeza que ela está super curiosa pra saber como eu sou como eu a ela, né? Não. E eu contaria muito com a sorte dela de repente olhar para o céu. Ou se eu estivesse em Glee, no mínimo faria uma hashtag do tipo #BatgirlCadeVoce. Eu provavelmente seria convidada para o programa da Fátima Bernardes e a produção dela ajudaria a encontrar a menina. Nós olharíamos uma pra cara da outra e "Oh, ah, é você! Jamais imaginei...".

A música continuava tocando e eu mal me balançava. Tentei procurá-la entre as pessoas e não a achava. O salão era enorme e tinha ainda uma galera lá fora. A amiga dela poderia estar no banheiro passando mal, milhões de possibilidades. Poderia estar em casa já. Dinah pegou no meu braço para voltar à roda e dançar com elas.

"Aconteceu alguma coisa, Mila?"

"Não, tá tudo bem..."

"Quer se sentar?"

"Não, depois eu vou. Tá tudo bem, Dinah"

"Ok, agora volte a dançar, vem!" Ela então pegou minha mão e começou a me balançar como se eu fosse uma daquelas daminhas de casamento da prima da sua mãe.

Confesso que eu não conseguia mais pensar em outra coisa se não tentar achá-la novamente. Mas, tá, e se ela aparece de repente, vai fazer o que, dona Camila? Esperar que ela me convide pra Batcaverna dela? Er... Vamos pensar em encontrar um ursinho carinhoso? Vamos. Ok. Ela pode me convidar pra tomar uma Batida também.

Mas eu literalmente não saberia o que fazer. É uma apreensão desnecessária. Eu nem sei se ela voltaria a falar comigo. Muito provavelmente ela só foi gentil porque nossas fantasias combinavam. Mas cá entre nós, se ela gostasse de homem, não teria vindo falar comigo daquele jeito, sussurrando no meu ouvido e me chamando de princesa, porque eu estou vestida de Robin e a minha máscara não deixa ninguém perceber que eu tenho 20 anos com cara de 16 e bunda de Jennifer Lopez from the block. Falando nisso, será que foi muito gay da minha parte ter vindo de Robin? Todo mundo sabe da queda do Robin pelo Batman e eu sendo uma mulher e ter vindo de Robin pode ser um grande indicativo de que eu sou gay. Mas sou assumida né, porque meu namoro com a Hai era tão aberto que era quase um patrimônio da faculdade. Tá certo, eu gosto das duas frutas, mas se alguém me pergunta se eu sou bi, eu digo que sou biurifou SIM! Imagina se eu tivesse vindo de Alex Vause de Orange Is The New Black... porque se é pra vir, que eu venha fantasiada de gostosa.

"Mila, vamos nos sentar? Não sinto meus pés há 20 minutos e tô começando a ficar preocupada..."

"Ally, nada que seus waffles amanhã não resolvam" continuei dançando e olhando para as pessoas que continuavam na pista.

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