Gente, juro que a cidade não é tão pequena. Dentre todas as casas possíveis para se comprar, por que tem que ser justamente essa? E vou falar o que pra ela? Que a casa tá mal assombrada? É capaz dela me fazer voltar para o consultório e falar tudo aquilo de novo pra mim, que eu devo acreditar em outras coisas, que não posso ficar me apegando a esse tipo de pensamento, ver menos filmes...
"O que foi, Camz? Tá tudo bem? Você está pálida" ela tocou meu rosto com cuidado, segurou minha mão, que está gelada, como sempre, e eu mal conseguia pronunciar algo.
"Lo, vocês não podem vir morar aqui"
"Por que tá dizendo isso?"
"Essa é a casa da Hai"
"Oh" acho que foi tudo o que ela conseguiu dizer. Eu também nem sabia o que falar. De qualquer forma eu iria tomar um partido que não é meu. Bom, acho que de qualquer forma eu já tomei dizendo pra ela que eles não poderiam morar lá. Além de saber que essa é a casa da minha ex, acho que a casa tem espíritos. Isso sem falar que depois de domingo eu estou traumatizada. Como vou vou ficar tranquila sabendo que a Lauren está aqui dentro e eu sem poder protegê-la? Mas olha, gente, a minha sorte anda tão grande que mês que vem eu posso estar entrando aqui, pra visitá-la, assim que se mudar, e ela me levar até o quarto da Hai dizendo que aquele lá será o seu.
"Lo... Você vai votar a favor?"
"Isso me pegou muito de surpresa... Er, tá afim de ir naquele café do meu amigo?"
"Sim, vamos..." Apertei minha mão, que repousava em sua coxa, e ela deu a partida. Estávamos visivelmente nervosas. Eu não poderia dizer que a casa da Hai não era super legal, grande, espaçosa... Dava quase pra colocar aquelas camas elásticas no quintal, mas eu ainda estava agoniada com algo. Sem querer pensar em espírito, saber que a mulher que eu amo vai morar na casa da mulher que eu amava é algo bem moderno no meu mundo.
Fomos até o café e ficamos na mesma mesa que da outra vez. Ela pegou seu chá preferido e eu a acompanhei, porque nunca se sabe se os psicólogos são calmos por natureza ou é algo que eles tomam.
"Vocês chegaram a entrar para ver a casa?"
"Sim. No almoço meus pais comentaram que queriam morar em uma casa maior porque meu pai quer fazer um quarto para trabalhar com suas coisas de marcenaria, ou usar de escritório... Não sei o que. Então nos levou até lá. Não vou negar que é uma casa bonita. É grande, tem piscina, tem quartos para nós todos e o espaço lá atrás para que o meu pai faça as coisas dele..."
"Sim, claro. Lá é enorme. Eles construíram a casa grande desse jeito porque queriam ter mais filhos, mas por um problema de saúde que a mãe da Hai teve no final da gravidez, seria bem arriscado. Então eles resolveram ter só ela mesmo e o irmão mais velho" Lauren olhava para o chá, me olhava rapidamente e logo desviava o olhar. Eu tava ficando ainda mais preocupada. "Desculpa, te deixei triste, não? Eu estou sendo egoísta, meu amor. Me desculpe" é uma droga isso. Eu pensei só nos contras, nos meus medos e não falei nada sobre a casa ser ótima para fazer churrasco, o sol pegar inteirinho na piscina. Eu sou uma pessoa horrível.
"Claro que não" ela sorriu timidamente acariciando minha mão. Sei, Lauren, tá com essa cara de quem passou o dia ouvindo o cd do Pablo. "Só estava pensando nessa história toda..."
"Mas se pensa que se mudando eu vou deixar de ir até lá só pra..." Comecei a sussurrar "...ganhar beijinho, está muito enganada" ela apertou mais a minha mão, sorrindo.
"Eu acho que eu vou votar 'não'" Lauren, meu amor, se eu fosse publicitária, tua chapa seria a minha, a gente prometeria pizza toda a semana e não deixaria a outra chapa ser leviana não.
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Serendipity
Novela Juvenil"A lei é a razão livre da paixão", já diria Aristóteles. Não faço ideia do que isso interfere na minha vida, mas vi em Legalmente Loira e achei melhor guardar pra se caso um dia eu venha a precisar. Fiquei pensando muito tempo em um resumo da minha...