Ela encostou o carro no acostamento e nos olhamos apavoradas. Ela pegou na minha mão e a apertou dando um beijo.
"Tá tudo bem, amor?" ela me perguntou preocupada.
"Estou sim, e você?" respondi ofegante.
"Também! Eu... er, vou ali... tirar o galho de cima"
"Eu te ajudo"
Saímos do carro ainda assustadas. Nunca se sabe o que poderia ter acontecido. Dos males o menor, não é? Poderia ter sido um animal, uma pedra, um outro carro, sei lá, poderíamos ter matado um homem como em Eu Sei o Que Vocês Fizeram No Verão Passado. Ai não, vira essa boca pra lá. Poxa, não tem madeira aqui pra isolar, droga! Como se isolar a má sorte só com três toques na madeira funcionasse... Quem dera. A nossa sorte é que não tinha nenhum outro carro muito próximo da gente, porque a Lauren freou bruscamente e poderia ter acontecido um acidente.
Tiramos o galho do vidro e jogamos no matagal que tinha ao lado do acostamento. Nada parece ter acontecido com o carro, nem vidro quebrado, nem nada. Talvez só precisasse trocar o pneu, mas só isso. Ainda bem. Tentamos fazer tudo bem rápido, já que a chuva não dava trégua alguma. Voltamos a nos sentar e eu senti que ela evitava me olhar para não demonstrar que estava apavorada. E eu também! Quem diria... Nem parece que eu gosto tanto de filme de terror. Tô aqui tremendo porque um galho caiu no capô do carro enquanto nós estávamos viajando, nesse dia com neblina que mal dá de ver o quilômetro seguinte. Super corajosa! Se aparecer um espírito agora vai fazer o que, querida? Perguntar se o pai dele é padeiro?
Mas ela estava lá, aparentemente transtornada e eu sem saber o que fazer para acalmá-la. Nessas horas a gente nunca sabe o que fazer, né? Não sei se dou um abraço, se digo que já passou, se canto Noite Feliz (essa música sempre me acalma). É ruim demais quando você está ao lado da mulher que ama, vê que ela está mal e não sabe o que fazer. Não quero piorar a situação, mas também não quero não fazer nada. Lauren colocou a mão no volante olhando pra frente com uma cara de pensativa e eu coloquei minha mão em cima da sua coxa, acariciando-a com o polegar. Se eu estava me sentindo insegura viajando com aquelas condições, imagina ela que está dirigindo... Eu vou ser forte por mim e por ela também.
"Camz, vou dirigir até ver um lugar para parar em segurança, tudo bem?"
"Sim, meu amor"
Ela acelerou o carro novamente e voltamos a seguir viagem. Ela ficou quieta e eu não sabia nem o que dizer pra deixar o ambiente mais ameno. Ela estava visivelmente assustada e eu tava ficando preocupada com ela. Apesar de não ter acontecido mais nada até pararmos onde Lauren havia combinado comigo, o coração batia forte, ansioso.
Ela estacionou o carro e respirou fundo. Sai do carro correndo, dei a volta e abri sua porta. Puxei-a pelo braço, levei-a até a cobertura da loja em formato de cabana que havia por ali e a abracei forte. Eu queria deixar claro naquele momento que eu estou com ela em todos os sentidos. Fechei meus olhos, rezei mentalmente e agradeci a Deus por estar ali com ela. Eu não teria me perdoado se ela tivesse passado por isso sozinha. E talvez eu me sentisse culpada, porque querendo ou não, ela queria "fugir" por minha causa. Nada melhor do que trocar um "fugir de mim" por um "fugir comigo".
Senti que ela chorava baixinho nos meus braços. Eu nunca a havia visto tão vulnerável. Apesar de ter chegado ao extremo de querer fugir por uns dias, ela ainda assim parecia tranquila. Agora não. Mas também, né, aquele galho caiu do nada em cima do carro... Se não infartamos até agora, não infartamos mais nessa vida. Nosso coração é forte feito um touro e estou orgulhosa disso. Era só o que faltava uma de nós ter um piripaque naquele momento. Não quero nem pensar nisso. Nessas horas a gente esquece até o número do 191... não, pera.
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Serendipity
Teen Fiction"A lei é a razão livre da paixão", já diria Aristóteles. Não faço ideia do que isso interfere na minha vida, mas vi em Legalmente Loira e achei melhor guardar pra se caso um dia eu venha a precisar. Fiquei pensando muito tempo em um resumo da minha...