Um minuto de silêncio pela maratona corporal do coração até a boca.
Lauren ficou encostada na porta entreaberta do carro esperando eu entrar em casa com segurança, enquanto eu tentava procurar minhas chaves alternando meus olhares entre a bolsa e ela, que me olhava curiosa para saber se algo havia acontecido. Entrei dando um breve tchauzinho sem nem conseguir parar de sorrir e eu nem sabia mais se era de nervoso ou de felicidade.
Passei pela minha mãe, que perguntou o que havia acontecido, já que meu rosto estava corado. Até respirei aliviada. Podia jurar que ela iria perguntar se tínhamos passado na padaria pra comer um sonho de sobremesa. Felizmente saí pela tangente sem nem saber o número dos catetos e corri para o meu quarto para pensar na minha noite com a hipotenusa. Peraí, o que está acontecendo comigo?
Me joguei na cama de barriga pra cima, claro, porque pelo tanto que eu comi, estava grávida de uma pizza média com borda de Catupiry e um Guaraná para acompanhar. Na realidade nem sei se o problema foi a comida, mas sim nas reações do efeito Lauren sobre mim. É incrível como as pessoas causam efeitos distintos na gente. Alguns são bons, outros ruim e outros que a gente nem consegue explicar. Talvez esse seja o caso da Lauren. Tenho sonhado com ela, pensado nela o tempo todo e cada vez que eu a encontro fico gelada, nervosa, tremendo... como se eu fosse a caça e ela a caçadora. Se eu pudesse, falaria dela o tempo todo, buscaria coisas dela na internet e poderia passar um dia inteiro olhando pra ela, conhecendo suas expressões, e contando o número de sorrisos que ela tem. Ela é daquele tipo de pessoa que você não cansa de admirar e querer descobrir como acorda, se respira, qual é seu habitat natural, modo de reprodução e você se olha no espelho e se vê como uma simples âncora do Globo Repórter.
A primeira saída com uma pessoa é um pouco esquisita, né? Você não quer ultrapassar a linha entre ser curiosa e ser inconveniente. Porque ao mesmo tempo que você quer saber tudo sobre a pessoa, não quer fazer disso um interrogatório ou uma invasão de privacidade. Não seria nada de mais perguntar se ela teve uma banda que tocava as músicas do Molejo nos tempos de colégio, se ela praticava algum esporte ou se passava a tarde jogando Super Mario.
Mas sabe o que é ruim? Ver que as pessoas tratam a admiração como se fosse uma obsessão. E é triste isso, porque eu gosto do jeito como ela se move, gosto da maneira como o cabelo dela balança, do jeito como ela põe as mãos no bolso e como os olhos dela sorriem quando ouve algo realmente agradável. É tão obsessivo assim gostar de uma pessoa por isso? Por que só é tido como normal só gostar dos seios e do bumbum? Se fosse assim valeria muito a pena encontrar a Batgirl. Vai que ela tem visão de raio laser... Aí seria mais provável que ela consiga ver meu interior e gostar tanto dele quanto da minha parte exterior. Já pensou no Dia dos Namorados eu recebendo um buquê de rosas em casa com um cartão dizendo "Feliz dia dos namorados, meu amor. Espero que goste das flores. É pra enfeitar seus vasos sanguíneos e dar mais vida à sua flora intestinal, que a propósito está ma-ra-vi-lho-sa! Te amo por dentro e por fora".
Chama o Xamu e me leva pro manicômio que a minha Laurencite Aguda Grave tá acabando comigo.
Eu não estava querendo ser negativa, mas confesso que achei que o jantar seria no mínimo esquisito. Sei lá, não queria que fosse algo forçado, sabe? Ela me convidou pra comer uma pizza como parte de um teste e não como um convite de verdade do tipo "Camila, você está convidada a comparecer à pizzaria tal. Sobre convidados: Não trazer". Imagina, vem aquela piazada com Coca Cola dois litros dividida em três pessoas, larga o celular com "Tô ficando atoladinha" no último volume e perguntar se é rodízio enquanto você só quer ter uma conversa tranquila com a pessoa. Pois é, não foi assim, mas eu meio que forcei o jantar e vai saber se ela não declinou do convite porque senão ia ficar chato ou se ela aceitou porque achava que seria legal comer uma pizza em minha companhia. Amanhã vou numa cartomante para que ela veja isso na bola de cristal. Pepeô!
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Serendipity
Fiksi Remaja"A lei é a razão livre da paixão", já diria Aristóteles. Não faço ideia do que isso interfere na minha vida, mas vi em Legalmente Loira e achei melhor guardar pra se caso um dia eu venha a precisar. Fiquei pensando muito tempo em um resumo da minha...