É aqui mesmo?

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Esperei por um minuto e nada dela olhar a mensagem. As vezes me dá uma saudade enorme do MSN, finado MSN, que tinha aquela opção linda de chamar a atenção da pessoa. Era chato receber, mas as vezes era necessário mandar. Aí o tio Mark Zuck resolveu implantar um sistema de ligação grátis por WhatsApp, que é o novo zumbidinho. As vezes muito útil, as vezes muito insuportável. Mas eu não queria ligar pra Ally. Imagina o que vão pensar de mim? Primeiro vão achar que eu tô com algum probleminha, depois vão ter certeza de que estou com probleminha. Vai me dar mais pânico quando eu ouvir vários passos até a porta desse banheiro. DJ, bota o som na caixa, e toca "diz pra mim o que eu já sei". Por que né? Eles vão falar pra eu ficar calma, tentar encaixar o trinco na porta, girar com cuidado como se pra sair daqui eu não tivesse feito nada disso.

Já pensou se isso tudo é a Hai querendo me castigar? Ela é um espírito agora e pode muito bem ter acompanhado a minha viagem com a Lauren e ter ficado de voyeur enquanto a gente fez amor. Gente... Nunca pensei por esse lado. Se minha abuela lá no México souber que os "encuestos", de repente, podem ver tudo que a gente faz, ficaria apavorada. Hai, por favor, me chama de Xuxa e ajuda eu. Nunca te pedi nada...

Ai gente que vergonha. Isso é mil vezes pior do que ficar presa no elevador, porque 82.1% das vezes o problema é técnico e você não teve culpa alguma e não há tanto constrangimento. Se é no banheiro, a culpa é minha por ser uma bruta, que deve ter arrancado o trinco da porta como se eu fosse algum tipo de Popeye, ou porque a fulana esqueceu de avisar que o trinco tava com probleminha e a porta emperrando, ou até mesmo aquele discurso de "ué, isso nunca havia acontecido antes...". Droga, Ally! Dá pra olhar esse celular?

Acabei ligando pra ela, né... Ou vão pensar que aconteceu alguma coisa ou estou fazendo o número dois. Deus, que vergonha. Preferia ter quebrado dois abajures.

"Mila, o que foi?"

"Eu tô presa no banheiro e não consigo sair. Será que você poderia me ajudar um pouquinho?"

"Vou chamar a mãe da Hai..."

"NÃO!"

"Quer que eu te tire como?"

"Não sei, Ally. Eu fui abrir a porta e o trinco ficou na minha mão. Eu tô querendo acreditar que a Hai não agiu para que eu ficasse trancada nesse banheiro"

"Mila, não foi ela. Eu vou tentar abrir a porta pelo lado de fora, peraí..." Ouvi seus passos e o trinco da porta se movendo pelo lado de fora, fazendo força para abrir. Eu não sabia se tentava puxar a porta também pra ajudar ou se me afastava, porque vai que a porta vai pra cima de mim. Ai Hai querida, nunca te pedi nada que você não tenha feito com muito gosto, me tira daqui, vai?! "Mila, não tá abrindo. O que eu faço?"

"Ah... Já que não tem outro jeito, chama a mãe da Hai" falei um pouco conformada. Também não iria passar a minha vida inteira tentando sair dali por conta própria. Tô querendo é sumir daqui.

"Tá, espera aí"

"Ally, eu não vou fugir. Por um acaso eu tô presa aqui dentro e vai ser meio difícil pular pela janelinha do chuveiro" bom, menos mal que não tá escuro e nem é de noite, porque pelo jeito, seria bem provável que dê curto circuito, que essa lâmpada também se queimasse porque desgraça pouca é bobagem... Lá em Pato Branco dizem que a bosta que não vem debaixo, de cima há de cair, daí.

Ouvi um pedaço da conversa da Ally com a mãe da Hai, que vergonha. Mas vamos pensar pelo lado bom. Sim, há um lado bom. Pelo menos o problema é com a porta. Já pensou se eu tivesse passado mal e a descarga não funcionasse? Não, não quero nem pensar nisso. Eu sempre fui uma mulher direita, nunca dei vexame... Tomara que ela tenha esquecido de me dizer que esse trinco estava realmente com problema. Isso tá parecendo uma música que Mamonas Assassinas com certeza cantaria.

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