Capítulo 10 - Um beijo e uma desculpa

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Passo as próximas duas horas tirando todas as caqueiras de argila e os vasos de dentro da estufa, que são praticamente caixões ambulantes para plantas mortas há alguns anos, no mínimo. Limpo tudo, tiro a poeira, junto os galhos secos e murchos em uma sacola de lixo preta e a amarro quando ela já está totalmente cheia.

— Não esperava todo esse trabalho! — Resmungo e alongo o pescoço, depois a coluna.

— Talvez se tivesse aceitado ajuda… — A voz de Eli vem de trás de mim, me dando um baita susto.

— Você quer me matar do coração?! — Falo com uma mão no peito e outra na cabeça.

— Oh, pare. Não seja dramática. — Reviro os olhos para ele, que olha em volta parecendo impressionado.

— E então, tem esperança?

Falo me referindo a estufa, mas ele apenas concorda com a cabeça, uma expressão totalmente nostálgica está estampada em seu rosto.

Ele manca até uma parede que é metade de vidro e metade tijolos marrons avermelhados, puxa uma alavanca de metal no canto que eu nem havia notado e a parte de vidro abre uma fenda na parte inferior. Posso ver que tem vários níveis para abri-la, mas ele deixa apenas um vão fino livre, uma corrente de ar fria entra e refresca um pouco o lugar.
Inspiro profundamente e sorrio.

— Eu não achei que esse lugar seria aberto de novo. — Ele fala ainda com um olhar nostálgico. — Era da minha mãe. Ela passava quase todo o tempo livre aqui, quando vínhamos durante os verões, mas depois que ela morreu, nenhum de nós voltou aqui. — Caminho até ele e fico bem ao seu lado.

— Eu sinto muito. — Ele da de ombros, mas consigo distinguir a dor da indiferença em seus olhos.

— Foi há muito tempo. — Coloco uma mão em seu braço e ele olha para mim.

— Não significa que esteja imune a dor, ou que a saudade não seja intensa. — Aperto meus dedos em volta do seu antebraço. — Sei como se sente. — Eu sorrio tristemente e ele sorri de volta.

— Sabe… — Ele se vira para mim, ficamos de frente um para o outro. — A cada palavra que você fala, mais misteriosa você fica. E tenho que admitir, estou muito curioso sobre você.

Arqueio uma sobrancelha para ele e volto a tirar umas últimas caqueiras para suculentas das prateleiras.

— O que foi? Meu perfil no Facebook não tinha informações o suficiente? — Ele ri.

— Aparentemente não. Lá só tem repostes, poemas e letras de músicas, nada sobre seu ex, ou sua família.

— Bom, enquanto eu estava com esse tal ex, ele não me deixava ter redes sociais, então tudo o que eu tenho é de três anos para cá. E eu não adquirir muito gosto a selfs, ou a expor demais minha vida. Parte pela vergonha de ter ficado tanto tempo com ele, parte por não querer que todos saibam exatamente onde estou, ou o que estou fazendo, ou o que estou comendo. Afinal, nunca se sabe quando alguém vai dar uma de stalker, certo? — Ele ergue a mão que não está segurando a bengala como forma de rendição.

— Certo, certo. Acho que é justo. — Ele se apoia na única parede que é totalmente de tijolos e me olha sem vacilar. — Mas você não precisa ter vergonha de ter passado por um relacionamento abusivo. — Solto o ar pelo nariz com desdém.

— Falou o cara que esconde suas cicatrizes.

Sua expressão muda drasticamente da diversão leve para algo sério e sombrio, quase tempestuoso, eu diria. Só então eu percebo que toquei na ferida e me arrependo imediatamente.

Por Todas As Estrelas No Céu, Amarei VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora