III

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Acordei com uma furadeira perfurando minha cabeça. Ou pelo menos com a sensação de ter uma furadeira perfurando minha cabeça.

É, minha dor de cabeça era forte assim.

Eu sabia que não devia ter bebido com Josh ontem à noite.

Levantei-me e senti todos os meus músculos protestarem. Aquele sofá era uma verdadeira droga. Mesmo que fosse só um dia por semana, dormir nele me deixava moída. Cocei os olhos e procurei pelo meu iPhone, tateando descuidadamente pela mesinha ao lado do sofá. Depois de alguns segundos, meus dedos finalmente se fecharam no aparelho e eu bocejei enquanto via as horas.

Que. Grande. Merda.

Eu estava atrasada.

Tipo, muito atrasada.

Eu precisava estar na galeria em 20 minutos e só chegar até lá demorava meia hora.

Levantei-me, xingando mentalmente Noah até a primeira geração dos Urrea e corri até o banheiro do corredor. Não tinha tempo para tomar banho, então só lavei o rosto, coloquei as lentes, escovei os dentes e vesti a saia preta que terminava pouco acima dos meus joelhos e uma blusa justa e de mangas compridas, cor de areia. Segundo Noah, minhas únicas peças decentes de roupa, com as quais eu parecia ter mais de dezesseis anos.

Eu tinha vinte e três.

Penteei os cabelos e me maquiei rapidamente, coisa que raramente fazia para trabalhar. Já estava juntando minhas coisas espalhadas pelo balcão da pia quando Heyoon entrou no banheiro com a força de uma tempestade.

– Enjoo matinal – avisou, quase passando por cima de mim. – Cai fora, não vai ser bonito.

Assenti e saí rapidinho de lá. Heyoon odiava vomitar no banheiro da suíte porque dizia que o quarto inteiro parecia ficar com cheiro ruim.

Era paranoia dela. Josh concordava e dizia que, no dia que ela tivesse um súbito desejo por carne podre de urubu, aí sim ele se preocuparia com o que ela podia colocar pra fora.

Voltei para a sala, onde calcei os malditos sapatos pretos fechados que prendiam no tornozelo e tinham saltos que me causavam vertigens. Eu mal conseguia me equilibrar em cima deles. Já conseguia visualizar acidentes terríveis no metrô.

– Bom dia, Sina – Josh me cumprimentou, bocejando enquanto saía do quarto vestindo shorts folgados e uma camisa branca e laranja dos Knicks. Eu só acenei com a cabeça enquanto tentava enfiar o notebook na pasta. – Cadê a Heyoon?

– Banheiro – respondi, passando um batom clarinho de qualquer jeito nos lábios e pegando minha bolsa. – Josh, estou muito atrasada, vou ter que ir direto pra galeria. Você pode deixar minha mochila lá em casa quando for pro jornal? – apontei para minha mochila jeans desbotada em cima do sofá.

Ele assentiu enquanto, ainda meio cambaleante de sono, ia até o banheiro ver se Heyoon ainda estava nesse mundo ou já tinha se entregado ao criador.

– Tchau – me despedi enquanto pegava minha bolsa, casaco e pasta e saía o mais depressa que aquelas armadilhas que eu tinha nos pés permitiam. Ninguém respondeu, mas eu não esperava mesmo que respondessem. Esmurrei o botão do elevador e, enquanto esperava, fiz um malabarismo do inferno para conseguir colocar o longo casaco preto sem derrubar minhas coisas.

Entrei no elevador e chequei novamente as horas.

Eu estava tão ferrada.

Passei as mãos impacientemente pelos cabelos e fitei meu reflexo no espelho, odiando o que via. Normalmente, eu podia usar jeans e sapatos confortáveis para trabalhar, mas hoje teria uma reunião para conseguir uma exposição importante e precisava fingir que era uma mulher adulta e responsável.

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora