XXVI

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Correndo o risco de soar clichê, os dias longe de Noah pareciam se arrastar ao mesmo tempo que passavam como um borrão. Eu continuava na casa de Krys e nós tínhamos uma boa convivência, mas eu já estava começando a ficar cansada de invadir sua privacidade e dormir em seu sofá desconfortável. Apesar de Krys ser uma pessoa organizada, o fato de eu precisar viver com minhas coisas dentro de uma mala me fazia cada dia mais irritável.

E eu ainda não havia contado a ninguém que havia me mudado. Bom, a não ser Krys e Cherry. Na verdade, eu nem tinha contado a Cherry. O linguarudo do Krys é que acabou soltando que eu estava morando com ele.

Novembro passou e, antes que eu percebesse, estávamos no meio de dezembro. Estava tão frio que todo mundo na galeria estava apostando que teríamos um natal branco esse ano.

Eu detestava neve. Ali em Nova York, nas raras vezes em que nevava, as ruas ficavam cheias daquele gelo sujo misturado com lama que sempre estragava minhas botas e me fazia escorregar. A neve suja, as árvores nuas, as pessoas de preto – o que não era apenas uma característica do inverno, já que preto era a cor da moda em Nova York o ano inteiro, mas mesmo assim... tudo parecia meio deprimente.

Ou talvez eu apenas estivesse projetando minha própria melancolia.

Suspirei e percebi que havia passado a última meia hora olhando para o nada, com o queixo apoiado na mão. Peguei o celular para ver as horas e praguejei, Chris estaria ali para me pegar a qualquer minuto e eu ainda nem havia terminado a lista dos convidados para a inauguração da exposição dele.

Christopher estava sendo uma das poucas coisas boas que havia na minha vida naquele momento. Depois daquele primeiro almoço, havíamos saído para almoçar quase todos os dias. Ele era divertido, inteligente, cosmopolita... e parecia muito interessado no meu trabalho como fotógrafa amadora. Era bom ter alguém para conversar sobre a minha paixão por fotografia. Krys, Heyoon, meus pais e até mesmo Joel haviam sido sempre legais sobre isso, e nunca deixaram de me apoiar, mas eles viam minhas fotos mais como um hobby e não como algo com o qual eu pudesse me sustentar. Eles não entendiam o quanto isso era importante para mim e... sem querer, fizeram com que eu esquecesse também.

Eu havia ido para Nova York para perseguir o sonho de me tornar uma fotógrafa profissional, mas ao invés disso, estava trabalhando numa galeria, expondo os trabalhos de outras pessoas.

Christopher me fez lembrar meu objetivo, meu sonho. E isso era algo com o qual eu podia me dedicar e esquecer a bagunça que estava a minha vida pessoal.

– Ei, Sina – Krys abriu a porta depois de dar uma batidinha, colocando só a cabeça para dentro. – O Hawk está aqui.

– Deixe-o entrar – pedi, finalizando a lista e salvando o arquivo.

– Tem certeza?

Fechei o notebook e olhei para Krys, que não parecia muito contente.

– O que foi, Krys? – perguntei, confusa.

Krys entrou na sala e fechou a porta atrás de si, apoiando as costas nela.

– Não gosto desse cara, Sina – falou, parecendo preocupado.

Franzi o cenho, sem entender. Chris era educado, gentil, cavalheiro, inteligente, simpático, bonito, talentoso e bem sucedido. O que havia nele para não gostar?

Foi exatamente o que eu perguntei ao meu amigo, que só deu de ombros.

– Eu não tenho um problema com ele exatamente – respondeu, apertando o nariz entre o polegar e o indicador. – Ele realmente parece legal, o problema é que não gosto do que você está fazendo com ele.

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora