Krys não morava muito longe e, quando finalmente consegui um táxi para me levar para lá, já estava mais do que recomposta. O caminho até lá foi rápido e logo eu estava batendo na porta do meu melhor amigo.
– E aí, sem teto? – cumprimentou-me assim que abriu a porta, usando uma calça de pijama de listras e uma regata branca. – Sinta-se a vontade. Mi casa es su casa.
Consegui sorrir enquanto entrei com minhas coisas, que Krys disse que eu podia deixar pela sala mesmo. O apartamento dele era ridiculamente pequeno, com uma sala/cozinha, um banheiro e um quarto. Mas ele tinha um sofá e era o que bastava para mim no momento.
Depois de tentar organizar minhas coisas num cantinho da sala, tudo o que eu queria era me enrolar com uma manta naquele sofá e assistir a Charada, com a Audrey Hepburn e o Cary Grant. Mas Krys tinha outros planos.
– Pode levantar essa bunda daí – falou quando eu me joguei no sofá e lhe comuniquei meus planos. – Eu entendo que você está na merda, mas eu não vou permitir que vire um vegetal na minha casa. Nós vamos sair.
Uma coisa em Krys pelo qual eu era grata, era que ele não ficava insistindo quando sabia que eu não queria conversar. Não era como Heyoon, para quem eu tinha a total obrigação de contar cada detalhe da minha vida e para quem eu provavelmente contaria se ela não estivesse nesse exato momento em algum lugar longínquo da América do Sul.
Eu havia dito rapidamente a Krys pelo telefone que Noah e eu havíamos brigado e ele havia me expulsado do apartamento. E eu precisava de um lugar para ficar. Pronto, mais nada. Ele sabia que, se eu quisesse conversar sobre o assunto, eu já o teria feito. Então, ele não perguntou nada.
Mas se tinha uma coisa que ele tinha em comum com Heyoon – pelo menos a Heyoon solteira – era adorar uma festa e nunca, nunca aceitar minha recusa em comparecer em qualquer lugar apertado, com música barulhenta, pouca luz e corpos suados movendo-se ao ritmo da melodia.
– Não, Krys, não quero ir – falei, com a cabeça enterrada numa almofada.
– Se é por causa do seu namorado, não se preocupe, ele não vai saber e...
Cortei-o na mesma hora, levantando meu rosto da almofada, mas me recusando a olhar em eu seus olhos.
– Joel e eu terminamos.
Depois de alguns segundos de silêncio, eu finalmente me virei para fitar meu amigo que, pude perceber, estava sem o costumeiro gel no cabelo, que caía em seus olhos. Olhos que me escrutinavam com verdadeiro choque.
– Você... e Joel... – foi falando bem devagar, como se estivesse dando tempo para o seu cérebro assimilar. – Terminaram?
Não falei nada. Apenas assenti.
Krys ficou mais alguns momentos calado antes de, quase literalmente, explodir:
– Então por que raios você e o Noah brigaram?!
Arregalei os olhos, espantada por ouvi-lo gritar tão veementemente, como se fosse realmente uma coisa que não fizesse sentido. Eu estava esperando pelo menos que ele se solidarizasse e dissesse um formal "oh, sinto muito, Sina" ou algo assim.
Mas não estava esperando por aquele ataque.
– Brigamos porque o Urrea é um idiota, babaca, imoral, cafajeste e cretino! – gritei de volta.
– E você está apaixonada por ele – Krys retrucou simplesmente, sem elevar a voz dessa vez.
E foi o que bastou para que eu começasse a chorar.
Eu não queria chorar. Eu havia prometido a mim mesma que não iria chorar. Noah Urrea não merecia nem uma das minhas lágrimas. Ele não merecia nada do que eu, sem querer, deixara-o ter. E eu sabia disso. Eu tinha consciência de que era boa demais para um cara como ele e que ele nunca me valorizaria, nem em mil anos, nem por um dia.
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Perfectly Wrong | Noart
Fanfiction"Noah Urrea é o pior tipo de todos, com uma beleza quase obscena e uma moral muito duvidosa. O tipo de cara que você nunca poderia levar para casa e apresentar para os seus pais. O tipo que vai te deixar louca na primeira oportunidade. Que é um atra...