XVI

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Noah

– Ei, No, essa expressão concentrada não combina com você.

Levantei os olhos para a bonita morena que havia se aproximado da minha mesa. Seu rosto estava perfeitamente maquiado, seus longos cabelos castanhos e lisos caindo com graciosidade em seus ombros, e o sorrisinho debochado chegava até seus olhos castanhos.

– Não me chame de No – reclamei enquanto ela puxava a cadeira e se sentava na minha frente.

– Sua simpatia é sempre além desse mundo, No – ela comentou depois de se acomodar, sem perder aquele sorriso. – Sempre me deixa emocionada.

– Corta o sarcasmo, Shivani – eu normalmente até gostava desse jeito irritante dela, mas aquele dia estava prometendo ser tão saboroso quanto uma das bolas de pelo do Nero e eu realmente estava sem paciência para aguentar merda das pessoas. – Diz logo o que aquela bruxa quer desta vez.

Shivani ficou subitamente séria. Ou seja, eu estava fodido. Quando a sempre irônica e irritante Shivani Paliwal ficava séria, eu sabia que as notícias não seriam boas. Antes que ela tivesse tempo para jogar uma bomba nuclear na minha cara, uma garçonete se aproximou para anotar nossos pedidos – estávamos num café perto da revista dela.

– Para encurtar: a bruxa está puta com você – ela disse quando a garota se afastou para pegar o chá de pêssego com hortelã da Shivani e o meu latte.

Grande novidade.

– E quando aquela velha não está puta comigo? – perguntei genuinamente, com um suspiro. Eu realmente não conseguia lembrar de uma única vez.

– É, mas desta vez ela está realmente demente – Shivani falou, pegando um espelho da bolsa para conferir a maquiagem...ou apenas para admirar a beleza exótica do seu rosto. Depois os homens eram estranhos. – Ela talvez tenha mencionado... cortar o seu dinheiro.

– O quê?! – gritei, quase levantando da cadeira, apenas impedido pela mão de Shivani em meu ombro. Quem diria que uma mulher tão pequenina podia ser tão forte?

– Que tal você gritar um pouquinho mais alto? – ela perguntou, desaprovação colorindo sua voz ao perceber que quase todos no estabelecimento nos encaravam. – Tem um esquimó lá na Sibéria que eu acho que não escutou.

Voltei a me sentar, olhando feio para ela. A garçonete escolheu aquele momento para trazer nossas bebidas, então eu fiquei calado.

– Ela não pode fazer isso, o dinheiro é meu! – exclamei quando a garçonete se afastou novamente, tentando me conter para falar um pouco mais baixo.

– Tecnicamente, No, meu querido, ela pode sim – foi sua resposta, seus olhos expressivos me fitando como se dissessem "eu avisei que isso ia acontecer". – Quando aquele canalha que você, infelizmente, conhece como pai morreu, ele deixou a bruxa responsável por sua herança até os seus 25 anos. Ou seja, se ela quiser segurar o dinheiro até o seu aniversário ano que vem, ela pode.

Afundei o rosto nas mãos, percebendo a verdade nas palavras dela. Apesar de já me considerar com 24 anos, a verdade era que meu aniversário era em vinte dias. Ou seja, eu só poderia me livrar da bruxa e ser responsável pelo meu próprio dinheiro em pouco mais de um ano. Ou seja, fodido nem começava a dar a ideia da minha situação.

– E como ela espera que eu sobreviva até os meus vinte e cinco? – perguntei, frustrado. – De brisa?

Shivani deu de ombros e rolou os olhos. Era a única pessoa que eu conhecia que podia fazer desses movimentos algo completamente elegante.

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora